quarta-feira, 7 de maio de 2014

Hidrelétricas: Itaituba deu recado bem dado ao governo. Não aceitamos de qualquer jeito


Foto: Jota Parente
Itaituba e a região Sudoeste do Pará apresentaram seu cartão de visita, hoje, para o governo federal. A partir de hoje a Eletrobras passou a saber que aqui existe uma comunidade que sabe o que quer e sabe muito bem como agir para conseguir os seus objetivos.

O Seminário Público marcado para começar às 14:30 no auditório do IFPA, teve um atraso de aproximadamente 30  minutos.

Obviamente, por ser a sede do seminário, a maioria das pessoas era de Itaituba, mas, representantes de outros municípios que serão afetados pelo completo Tapajós estiveram presentes, como de Jacareacanga, Rurópolis e Trairão.

Depois de composta a mesa, Sidney Lago, superintendente de Geração da Eletrobras, que esteve no comando dos trabalhos, começou dizendo que quando os estudos foram iniciados em 2009, não havia exigência de fazer a Análise Ambiental Integral. Falou que haveria um prazo de 15 dias para contribuições que deveriam ser encaminhadas por e-mail. E afirmou que se fosse preciso seria realizando outro seminário.

Foto: Jota Parente
A prefeita Eliene Nunes, de Itaituba, foi a primeira a usar a palavra. Ela falou sobre a reunião que acontecera pela parte da manhã, quando disse que as coisas estão acontecendo com muita rapidez, no que tange às hidrelétricas do completo Tapajós. “Aqui temos pessoas comprometidas para pleitear as contrapartidas. Temos técnicos capacitados para analisar essas questões referentes aos estudos. Quero deixar claro que nós não somos contra a contração das hidrelétricas, mas, que venham com desenvolvimento”, afirmou a prefeita.

Foto: Jota Parente
O presidente da Câmara, vereador Wescley Tomaz, dirigindo ao representante da Eletrobras, Sidney Lago, disse que por aqui, cobra e jacaré tem muito mais valor do que o ser humano.

O advogado José Antunes, representando a subsecção da OAB Itaituba lembrou que o projeto da BR 163 Sustentável não cumpriu nada do que foi prometido. Também falou do engessamento da região a partir de 2006, quando o governo federal criou uma série de unidades de conservação.

Entre todos os integrantes da mesa, o discurso mais contundente foi do prefeito de Trairão, Danilo Miranda. “Não vamos apenas olhando a bagunça que a construção das hidrelétricas vai deixar nos nossos municípios para levar energia para o Sul e para o Sudeste. Não temos dinheiro para reformar os nossos hospitais, não temos dinheiro para construir novas escolas. Não podemos nos contentar em ver outros estados enriquecerem com a energia do Pará, sem recebermos o que merecemos”.

Danilo foi muito aplaudido pela plateia.

Depois disso, de quatro até depois de cinco da tarde um técnico apresentou o sumário do estudo. Foi preciso muita paciência para aguentar até o final, pois havia muitas informações técnicas que enfadaram a plateia. Mas, fazia parte do ritual da Eletrobras de tentar vencer pelo cansaço.

Esse esforço deles para tentar cansar a plateia foi notado por muita gente. Era jogo ensaiado. Até o ar condicionado não deu conta, e teve quem dissesse que foi de propósito, isentando-se qualquer tipo de culpa da direção do IFPA, que apenas cedeu o espaço.

Parada para o coffee break
Após a apresentação técnica houve a parada para o coffee break.

Foto: Davi Menezes
Faltavam apenas cinco minutos para as seis quando os trabalhos foram reiniciados. E foi aí que começou o embate pra valer.

Falando pela Eletrobras, Sidney Lago tentou impor uma condição que foi rechaçada desde o começo do seminário: prazo de 15 dias para enviar sugestões, e somente por e-mail.

As pessoas presentes manifestaram-se de forma veemente, não aceitando a imposição sobre hipótese nenhuma.

Não houve jeito. A comunidade itaitubense e tapajônica teve que ser ouvido, e o governo federal viu e ouviu o que não gostaria.

No geral, as pessoas que pronunciaram muito bem, tudo mundo indo direto ao assunto e mostrando posição firme.

Quando a professora-doutora Liz Carmen, o pessoal da empresa Ecology, responsável pela produção do estudo e Sidney Lago ficaram surpresos com o conhecimento que ela demonstrou a respeito do assunto.

Foram muito consistentes a falas de integrantes do movimento SOMOS TODOS ITAITUBA, Jubal Cabral, Fabrício Schuber, Antonieta Lima, Armando Miqueiro, Patrick Sousa, Davi Menezes e Nayá Fonseca. Cada um falou sobre um tópico.

O representante da vila de Pimental arrancou aplausos por suas palavras, pois, dirigindo aos membros da empresa Ecology e a Sidney Lago, da Eletrobras disse que eles tem um frízer em casa para guardar comida; já o frízer dele era o Rio Tapajós. Enquanto eles vão ao supermercado fazer compras, o pessoal de sua vila tem que buscar seus mantimentos na roça.

Foto: Patrick Sousa
Também chamou atenção a fala de um representante da etnia munduruku, que foi muito aplaudido.

No final, depois do clima ter ficado muito tenso, após a plateia deixar claro que não aceitaria o prazo imposto de apenas 15 dias para apresentar sugestões, e  mais ainda, que não concordava de jeito nenhum com a imposição de que as proposições fossem todas encaminhadas por e-mail, ficou definido que isso poderá ser feito por escrito, e que dentro de 30 dias haverá um novo seminário para fechar essa questão do estudo.

Armando passou mal
Foto: Jota Parente - Armando, na saída do hospital, com a esposa Mair
e os amigos Antonieta Lima e Felipe Melo
O empresário Armando Miqueiro passou mal durante seu pronunciamento. Ele anunciou que estava encerrando sua fala porque não estava se sentindo bem.

Armando, que recentemente teve problemas cardíacos, sofreu um desmaio, tendo sido socorrido no local por bombeiros que estavam de plantão para atender situações emergência.

Depois dos primeiros socorros ele foi encaminhado para o Hospital D. Bosco, onde foi atendido minutos depois pelo médico Manoel Diniz, que o liberou pouco depois das nove da noite.

O que eles disseram no avião
O pessoal do governo viajou ontem para Itaituba, no mesmo voo em que vinha a professora Antonieta, que ocupou um assento próximo de alguns deles.

Lá pelas tantas, um deles começou a falar sobre o seminário público desta terça, sem fazer a menor ideia que estava perto de uma itaitubense.

“Olha, a gente vai fazer o cacete amanhã em Itaituba. Já sabemos quem são os líderes desse movimento; vamos conservar com os cabeças e com certeza a gente vai desarmar isso”.

Hoje, terça, de manhã, ela comunicou o que ouviu, a alguns membros do movimento, em uma reunião preparatória para o seminário.

Ou seja, eles vieram achando que seria uma barbada, e que Itaituba e os outros municípios engoliriam tudo que eles falassem, sem resistência.


Primeira vitória
A comunidade itaitubense e as representações dos demais municípios que estiveram hoje no IFPA conseguiram a primeira vitória nessa luta de piaba contra tubarão.

O governo preparou-se para enfiar, goela abaixo, esse estudo intitulado de Avaliação Ambiental Integrada, fazendo crer a todos, que se trata de um estudo que tem apenas valor consultivo.

O que o governo federal não esperava era encontrar um povo motivado para defender os seus interesses, sem que seja preciso posicionar-se frontalmente contra esses projetos, por entender quer essas usinas são projetos irreversíveis. Então, em vez de ficar remando contra a maré, gastando seu tempo com uma briga que parece não ter fim, Itaituba e outros municípios do Sudoeste paraense querem mostrar ao governo que sabem que os impactos que sofrerão serão imensos. E se não se cuidarem, ficaram apenas com o passivo.

Mostramos que estamos aqui, querendo conversar, mas, que não somos os idiotas que nos pintaram.

A comunidade saiu fortalecida desse primeiro embate, pronta para o que der e vier pela frente. Vai depender, daqui para frente, do modo como o governo federal vai se comportar nesse processo. Se vier para conversar, a gente conversa. Mas, se quiser briga, vai ter briga. Esse foi o recado mais do que claro, que ficou na tarde de hoje. Saímos de seminário, muito mais fortes do que entramos.
FONTE: blog do Jota Parente.

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