O Pravda, principal jornal russo, publicou ontem (5) uma extensa matéria sobre a “Crise da Ucrânia”.
Reporta que o “Conselho da Federação”, o equivalente ao nosso Senado, aprovou, por unanimidade, uma resolução que autoriza o presidente Putin “a usar as forças armadas da Rússia na Ucrânia”.
O Pravda observa que, até ontem (5), Putin estava autorizado a agir na península da Crimeia, mas a aprovação da dita resolução lhe dá carta branca para atravessar o istmo que a liga à Ucrânia. “O que terá acontecido de ontem para hoje?”, pergunta o Pravda.Eu acho que nada: Putin apenas se mune de ferramentas para reagir à guerra psicológica que os EUA e a UE protagonizam, como as sanções impostas hoje (6), de congelar bens e restringir vistos de pessoas "envolvidas em ações que ameacem a soberania e a integridade territorial da Ucrânia", ou seja, nada.O Pravda avisa: “se algum aspirante a Napoleão ou a Hitler tentar usar força militar contra a Rússia, a Rússia irá a guerra - e não importa quem se oponha nem quem apareça no campo oposto”.Como sói saber, Napoleão e Hitler tentaram, debalde, tomar a Rússia: é complicado travar batalhas com ursos no inverno. A Rússia jamais terá pernas para vir ao Sul, mas os EUA e seus aliados jamais conseguirão subir tão ao Norte, pois ao primeiro passo nessa direção Pequim se perfilará com Moscou.O Pravda desanca o deposto presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych: “mobilizaram neonazistas para derrubar um governo corrupto e incompetente, sim, mas um governo legítimo”. É o que eu já disse aqui: em democracias quem bota e tira são eleições.
> Reações exageradas
A Crise da Ucrânia não merece a repercussão que as manchetes lhe dão. A Rússia não enviou tropas à Crimeia agora: elas estão lá desde o século 18.
O que potencializou a crise foi a reação da Chancelaria dos EUA, que emprestou ao presidente Obama uma retórica descabida, achando que se referia a uma das republiquetas periféricas que a política externa estadunidense costuma tratar como coisa sua.
Agora Obama e a União Europeia são vítimas do próprio tom intimatório que cospem rumo à Rússia. Alguém precisa ajudar ambos a se salvarem das suas próprias chancelarias, pois o manual de instruções para lidar com a Rússia é outro e não esse que eles estão seguindo.
FONTE: Blog do Parsifal 5.4
Nenhum comentário:
Postar um comentário