Interno da SUSIPE realizado trabalhos na escola municipal Maria da Consolação Foto: Gilson Vasconcelos
|
Os detentos
começaram os trabalhos na quarta-feira (10), com a pintura do
refeitório, da fachada e da sala de leitura da escola, além de
revitalizar o paisagismo do jardim e montar uma barraca para a festa
junina dos alunos. A programação terminou nesta sexta, com o Papo di
Rocha, que reuniu mais de 200 pessoas, entre alunos, pais e professores
no ginásio.
Ércio Teixeira coordenador de projetos especiais da SUSIPEFoto: Gilson Vasconcelos |
"O projeto
possibilita que a gente conheça outro lado da vida. Muitas vezes, nós
que temos a liberdade de ir e vir não valorizamos isso. Tivemos
a oportunidade de refletir e levar lições para a vida. A Secretaria
Municipal de Educação de Itaituba já é parceira da Susipe e pretende
levar a outras escolas do município o projeto", disse a secretária
municipal de Educação, Uzalda de Miranda.
Diálogo -
Um dos grandes diferenciais do projeto está em proporcionar aos presos a
chance de se tornarem agentes de transformação social, pois além de
usar a mão de obra carcerária em prol do social, o Conquistando a
Liberdade também visa à prevenção, com o "Papo di Rocha", conversa
franca em que os presos repassam aos alunos as experiências de vida no
cárcere e os perigos do mundo do crime.
Momento papo di Rocha com o interno Jader Silva Foto: Gilson Vasconcelos |
"O Papo di
Rocha é um trabalho pedagógico de prevenção que fazemos com os alunos,
com as histórias reais de quem está no cárcere. Mais do que a reforma e
revitalização da escola, nosso objetivo é buscar a conscientização do
jovem para que ele não venha a cair no mundo do crime", explica o
psicólogo e coordenador do projeto, Ércio Teixeira.
O detento
Jarder Silva, preso por tráfico de drogas, relatou aos alunos sobre as
perdas que teve na prisão. "Perdi o crescimento do meu filho. Quando ele
completou 18 anos, pedi para ele me visitar na cadeia. Tive uma
conversa muito franca com ele sobre o que era viver ali e pedi para que
fosse a última vez que ele estivesse num presídio. Fiz questão de rasgar
a carteira dele de visitante. Espero que ninguém da minha família passe
de novo pelo que passei e vivi na prisão", disse.
Ressocialização – Para
a diretora da Escola, Silvania Nogueira Campos, levar o projeto para a
instituição foi um desafio. "Num primeiro momento houve resistência por
parte da própria comunidade escolar do contato dos alunos com os
detentos. A reação de alguns pais foi de preocupação, mas quando eles
entenderam a proposta, vi outro comportamento. Hoje, muitos deles
estiveram aqui, inclusive, conosco e acompanharam o Papo di Rocha. O
olhar foi completamente diferente", destacou.
"É sem
dúvida um projeto maravilhoso. Já tive um filho que foi preso por
envolvimento com as drogas. Se ele tivesse tido a oportunidade de ter o
contato com alguém que já passou pela cadeia, através do relato de vida,
ainda na escola, talvez ele não tivesse sido preso também. É um
trabalho de prevenção muito importante com os jovens", afirmou a dona de
casa Socorro Seblan, que tem três netos que estudam na escola.
"Queremos
agradecer pela recepção da Escola e parceria com a Secretaria Municipal
de Eduação, além de parabenizar os internos que participaram dessa
primeira edição do projeto aqui em Itaituba. A responsabilidade pela
ressocialização é de todos nós, enquanto sociedade. É preciso quebrarmos
barreiras e paradigmas para garantir aos detentos a oportunidade de
trabalho e retomada do convívio social", finalizou a vice-diretora do
CRRI, Alneci Melo.
Referência – O
projeto Conquistando a Liberdade já ocorre em 17 municípios do Pará.
Hoje, o maior percentual da população carcerária do Estado (36%) tem
entre 18 e 24 anos. O projeto é desenvolvido em escolas públicas, onde
os presos fazem serviços de capina, poda de árvores, jardinagem,
limpeza, pintura, reparos hidráulicos e elétricos, consertos de
carteiras e mesas e pequenas reformas em geral. Todos os internos que
participam do projeto passam por uma seleção psicossocial e treinamento.
Participam
da ação presos dos regimes semiaberto e fechado, que apresentam bom
comportamento e que já façam trabalhos na casa penal. Não há
remuneração, mas o preso recebe o benefício da remição de um dia de
pena, a cada três participações, um direito garantindo pela Lei de
Execuções Penais do país. O projeto foi um dos vendedores do Prêmio
Innovare 2013, uma das mais importantes premiações da Justiça
brasileira. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) também já referenciou
o projeto como modelo de reinserção social de presos no país.
Fonte: Agência Pará
Nenhum comentário:
Postar um comentário