A Câmara
dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (8) por 324 votos a favor, 137
votos contrários e duas abstenções, o texto principal do projeto de lei
que regulamenta os contratos de terceirização. Propostas de destaques
(alterações do texto) ainda serão discutidas pelo plenário na próxima
semana. Depois de concluída a votação, o texto seguirá para análise no
Senado.
Criticada pelo PT e algumas centrais sindicais e defendida por
empresários, a proposta permite que empresas contratem trabalhadores
terceirizados para exercer qualquer função. Atualmente esse tipo de
contratação é permitida apenas para a chamada atividade-meio, e não
atividade-fim da empresa. Ou seja, uma universidade particular, por
exemplo, pode terceirizar serviços de limpeza e segurança, mas não
contratar professores terceirizados.
Pelo texto votado na Câmara, essa limitação não existirá mais. Além
disso, o projeto prevê a forma de contratação tanto para empresas
privadas como públicas. O modelo só não se aplica à administração
pública direta, autárquica e fundacional.
Durante a sessão, o relator da proposta, deputado Arthur de Oliveira
Maia (SD-BA), disse que a regulamentação da terceirização traz
“segurança jurídica” aos contratos e afirmou que buscou uma “uma linha
média capaz de atender aos trabalhadores, empresários e à economia
brasileira”.
Deputados do PT fizeram discursos contrários ao projeto, argumentando
que aumentará as terceirizações e que vai “precarizar” as condições de
trabalho. “A terceirização não permite que nenhum trabalhador de
qualquer setor possa pensar em ascensão futura, em cargos de comando”,
declarou o líder do PT, Sibá Machado (AC).
Apoiador da proposta, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
criticou a posição do PT. “Quando o líder do governo encaminha a votação
em discordância de todos os partidos da base, mostra que atua em
dissonância com a base. Eu sou testemunha de que o relator acordou com a
área da Fazenda do governo os pontos que o Ministério da Fazenda
entendeu que deveriam estar no projeto”, disse.
Após a aprovação do texto pela Câmara, o ministro-chefe da
Secretaria-Geral, Miguel Rossetto, divulgou nota na qual criticou o
texto e o classificou de "ruim". Responsável pela interlocução do
governo com os movimentos sociais, Rossetto afirmou ainda na nota que as
relações de trabalho serão "precarizadas". “O projeto é ruim, pois
permite que toda a relação de trabalho seja terceirizada, portanto,
precarizada. Reduz os salários e os fundos de seguridade social. Não é
bom para os trabalhadores. Não é bom para o país”, declarou.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota dizendo que a
regulamentação da terceirização é necessária para que as empresas
brasileiras ganhem competitividade e se adaptem às exigências do mercado
global.
"A regulamentação da terceirização é passo indispensável para a melhora
do ambiente de negócios e uma das mais importantes etapas para
modernizar as relações do trabalho no Brasil. Dessa forma, a aprovação
do projeto representa um dos mais relevantes avanços para ampliar a
segurança nas relações do trabalho no país, contribuindo para a melhora
da competitividade da economia como um todo", afirmou a entidade.
Alterações
Até as 18h desta quarta, quando a sessão para discussão do projeto já havia se iniciado, o relator ainda fazia alterações no texto, acolhendo sugestões de parlamentares e do governo.
Até as 18h desta quarta, quando a sessão para discussão do projeto já havia se iniciado, o relator ainda fazia alterações no texto, acolhendo sugestões de parlamentares e do governo.
O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, passou a tarde na Câmara
em conversas com Arthur Maia para solicitar modificações que
garantissem a arrecadação de impostos em contratos de terceirização.
Segundo o relator, o secretario Rachid queria que fosse estendida a
todas as empresas a obrigação de reter 11% da receita para contribuições
sociais. Atualmente, esse percentual é exigido apenas de empresas que
fazem cessão de mão-de-obra.
Ele negou essa solicitação por julgar que seria muito oneroso a companhias que precisam de capital de giro para operar.
Arthur Maia já havia aceitado alterar, após reunião com o ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, nesta terça, trecho do texto para passar para a
empresa contratante a responsabilidade pelos pagamentos de encargos
previdenciários e do imposto de renda relativos a empregados
terceirizados. Pelo projeto, a contratante deverá reter do valor do
contrato com a terceirizada o montante devido a título de tributos, para
que o pagamento seja feito na fonte.
“Nós tivemos toda a boa vontade em acatar as solicitações trazidas aqui
pelo Ministério da Fazenda, que em nome da responsabilidade fiscal
apresentou uma série de propostas de alteração ao texto. Essa postura
nossa de fazer modificações para não trazer prejuízos à arrecadação é
que provocou esse atraso na entrega do parecer”, justificou o relator,
na tribuna da Câmara.
A preocupação do governo era que as empresas terceirizadas não
cumprissem com o pagamento dos tributos. A avaliação é de que é mais
fácil controlar os pagamentos se forem feitos pela empresa que contrata o
serviço.
Pelo novo texto, devem ser retidos do valor do contrato com a
terceirizada percentuais relativos ao imposto de renda (alíquota de
1,5%) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (alíquota de 1%),
contribuição para o PIS/Pasep (alíquota de 0,65%) e Cofins (alíquota de
3%). Já os pagamentos que vão diretamente para o trabalhador continuarão
sendo feitos pelas empresas terceirizadas, entre os quais salário,
férias e 13º.
Painel eletrônico no plenário da Câmara exibe
resultado da votação do projeto sobre terceirização
(Foto: Reprodução / TV Câmara)
resultado da votação do projeto sobre terceirização
(Foto: Reprodução / TV Câmara)
Apesar das alterações feitas a pedido de Levy, o líder do governo, José
Guimarães (CE), recomendou que os partidos da base aliada votassem
contra a proposta. “Nessa votação o governo vai ficar com os
trabalhadores, encaminha [a votação] contra o projeto”, disse.
Para obter o apoio de centrais sindicais, o relator também aceitou
incorporar ao projeto emenda do deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP),
ex-presidente da Força Sindical, que garante que o terceirizado será
representado pelo sindicato dos empregados da empresa contratante,
quando a terceirização for entre empresas com a mesma atividade
econômica.
Segundo Paulo Pereira da Silva, essa emenda garante que o trabalhador
receba as correções salariais anuais da categoria. “Um terceirizado tem
todos os direitos da CLT, mas perdia a representação sindical, acabava
ficando sem os efeitos da convenção coletiva. Tivemos uma reunião das
centrais com o relator e, com a incorporação da emenda, vamos apoiar o
texto."
Fiscalização
Para garantir o pagamento aos terceirizados, o projeto de lei estabelece que a empresa que contrata os serviços deverá “fiscalizar” o cumprimento das obrigações trabalhistas decorrentes do contrato.
Para garantir o pagamento aos terceirizados, o projeto de lei estabelece que a empresa que contrata os serviços deverá “fiscalizar” o cumprimento das obrigações trabalhistas decorrentes do contrato.
Se as obrigações não estiverem sendo cumpridas, o projeto prevê que a
empresa contratante retenha o pagamento do serviço terceirizado, até que
a situação seja normalizada, e efetuar o pagamento de salários
diretamente aos trabalhadores terceirizados. Neste caso, o sindicato da
categoria será notificado pela contratante para acompanhar os
pagamentos.
Pela proposta, se a empresa contratante não fiscalizar corretamente a
terceirizada, ela passará a ter responsabilidade solidária em relação a
todas as obrigações trabalhistas e previdenciárias que não forem
cumpridas, ou seja, poderá ser acionada na Justiça para pagar a
integralidade da dívida. Se comprovar a fiscalização, a responsabilidade
será subsidiária, ou seja, será apenas obrigada a complementar o que a
contratada, que causou o dano ou débito, não foi capaz de arcar sozinha.
Direitos
O projeto prevê também que os empregados terceirizados tenham os mesmos direitos assegurados no local de trabalho aos funcionários da empresa contratante: alimentação em refeitório, quando for ocaso; serviços de transporte; atendimento médico ou ambulatorial nas dependências da empresa; e treinamento adequado quando a atividade exigir.
O projeto prevê também que os empregados terceirizados tenham os mesmos direitos assegurados no local de trabalho aos funcionários da empresa contratante: alimentação em refeitório, quando for ocaso; serviços de transporte; atendimento médico ou ambulatorial nas dependências da empresa; e treinamento adequado quando a atividade exigir.
A proposta estabelece a possibilidade da chamada “quarteirização”, ou
seja, de a empresa terceirizada subcontratar os serviços de outra
empresa. Este mecanismo só poderá ocorrer, porém, em serviços técnicos
especializados e se houver previsão no contrato original.
Além disso, a "quarteirização" deverá ser comunicada aos sindicatos dos
trabalhadores. O relator deverá ainda incorporar ao texto uma outra
garantia ao funcionário que esteja nesta condição – a de que direitos
trabalhistas e previdenciários também sejam responsabilidade da empresa
contratante primária, ou seja, de quem requisitou os serviços da
primeira terceirizada.
O projeto diz também que, na hipótese de contratação sucessiva para a
prestação dos mesmos serviços terceirizados, com admissão de empregados
da antiga contratada, a nova contratada deve assegurar a manutenção do
salário e demais direitos previstos no contrato anterior.
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