segunda-feira, 13 de julho de 2015

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 25 anos, acirrando debates!

 ECA faz 25 anos acirrando debates (Foto: Wagner Almeida/Arquivo)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 25 anos hoje, no centro do debate sobre a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. A mudança, de acordo com o coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos em São Paulo, o advogado Ariel de Castro Alves, abre precedente para uma reinterpretação do ECA. Para ele, reduzir a maioridade penal seria como “revogar” o ECA em relação à proteção de adolescentes entre 16 e 17 anos.

LIMITES
“Vejo que seria um duro golpe contra o ECA. Pode provocar uma fragilização, porque a interpretação que pode ocorrer é que aqueles entre 16 e 17 anos, por terem a maioridade penal, não seriam mais sujeitos à proteção especial. Por exemplo, como considerar vulnerável diante da exploração sexual uma adolescente de 16 ou 17 anos que já pode responder até criminalmente por seus atos?”, indaga ele, que também é assessor jurídico da organização não governamental Aldeias Infantis SOS.
Ele abre discussão ainda acerca da proteção do adolescente em relação ao consumo de bebidas alcoólicas. “Como impedi-lo de consumir bebidas alcoólicas, como punir quem fornece bebidas para aquele com idade entre 16 e 17 anos se ele é considerado imputável?”

AINDA NO PAPEL

Para outros especialistas ouvidos pela Agência Brasil, as discussões sobre a redução da maioridade penal, no entanto, poderiam ser evitadas se o ECA, sancionado no dia 13 de julho de 1990, fosse cumprido em sua totalidade. “Temos uma série de princípios que não se aplicam, por exemplo, os programas socioeducativos. Há 25 anos está faltando competência técnica e gente especializada nesse assunto”, avalia o procurador federal aposentado Edson Sêda, um dos redatores do texto do ECA aprovado pelo Congresso em 1990.
Para o presidente nacional da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Everaldo Patriota, nas últimas duas décadas e meia o Brasil criou uma “equação terrível” na política de prevenção e de ressocialização dos jovens. “Não cumprimos o ECA e agora estamos tratando dos efeitos esquecendo a causa”, destacou. “A sociedade está tomada pela paranoia de insegurança, mas o que fizemos com nossas crianças e adolescentes? Não cuidamos delas. Agora vamos criminalizá-las?”.
Para Edson Sêda, a sensação de impunidade para o adolescente infrator decorre da falha de prefeituras e de governos estaduais e federal na execução das medidas de privação de liberdade e de liberdade assistida. 
Na avaliação do Instituto Alana, o combate à violência não pode se restringir ao debate sobre a redução da maioridade penal. “Menos de 1% dos adolescentes são responsáveis por crimes contra vida no Brasil”, argumentou Pedro Hartung, advogado da instituição. “A violência é um problema estrutural e social. Isso tem a ver com acesso às políticas públicas mais básicas”, acrescentou.
(Diário do Pará)

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