Hoje tem audiência pública da Celpa em Itaituba, para tratar dos problemas e serviços prestados pela empresa. Para entender os problemas atuais, recorrermos a história, onde nos permiti fazer uma análise crítica da situação atual.
Recomendo este artigo do ex-deputado Aldir Viana
“Itaituba será uma terra sempre feliz, porque vive banhada pela
esperança das águas verdes do fabuloso rio Tapajós”. Marechal Floriano
Machado.
De uma simples aldeia de índios, igual a tantas outras existentes ao longo do Rio Tapajós, nasceu à pequena cidade de Itaituba. A Aldeia já era conhecida em 1812 como o maior centro de comércio de especiarias do alto Tapajós, com o nome de Itaituba.
O nome indígena, vem da língua tupi-guarani, que significa: Ita-pedra, I – Pequena, Tuba-abundância, que quer dizer lugar de muita pedra miúda, que realmente existe em grande quantidade na margem esquerda do Rio Tapajós.
Historicamente descoberta em 15 de dezembro de 1856, pelo Tenente Coronel Joaquim Caetano Correa, Itaituba somente foi elevada à categoria de cidade em 25 de novembro de 1900, pela lei de nº 648.
A partir desse momento, a economia do município viveu momentos de altos e baixos, em dois importantes ciclos:o da borracha e o do ouro. Em 1914, por exemplo, Itaituba representou o Pará numa exposição de produtos tropicais, realizada na cidade de Londres, dada a sua importância como um dos grandes produtores mundiais de borracha.
Nesse tempo, havia muita opulência e esnobação em Itaituba. As roupas dos barões da borracha eram lavadas em Belém. A influência francesa era marcante, notadamente no modo das pessoas se vestirem. Roupas e adornos eram importados de Paris. Esterlinas eram encomendadas por seringueiros a seus patrões e achegavam normalmente como qualquer outra mercadoria. As casas eram assoalhadas de acapu e pau-amarelo; algumas com azulejos importados de Portugal; os móveis como consolo, eram cobertos por pedras de mármore de carrara. Nas reuniões sociais falava-se o francês.
Com o final da 1ª Guerra Mundial, o preço da borracha desabou no mercado internacional, levando junto o sonho itaitubense. A partir desse episódio começou a derrocada, os barões transformaram-se em plebeus e os poucos que ainda dispunham de recurso financeiro, decidiram mudar-se para outro lugar e fugir da decadência. E assim terminou o ciclo da borracha, mas não apagou o sonho dos itaitubenses de viverem na prosperidade e na riqueza.
Itaituba foi redescoberta novamente com a abertura das rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém, carro-chefe do Programa de Integração Nacional do Governo Nacional Federal, e tinha como meta principal à ocupação da Amazônia através da colonização dirigida que previa o assentamento de várias famílias vindas de todos os cantos do país…atraídos pela promessa oficial “terras sem homens para homens sem terras”, além de crédito, assistência técnica, estradas vicinais, escolas, postos de saúde.
Itaituba funcionava como principal entreposto comercial da região. Ao lado desse acontecimento, um outro merece registro pelos efeitos causados à economia e a vida de Itaituba: o incremento da exploração do ouro nos garimpos do município no início da década de 80, associado à valorização do precioso metal no mercado internacional.
O município com sua fama “Eldorado” atraiu grandes contingentes populacionais, que passaram a sonhar com a possibilidade de enriquecimento rápido. De fato, muitos bamburraram. Tornaram-se donos de garimpo e de toda uma infra-estrutura de transportes, envolvendo aviões de pequeno e médio portes, cantinas, comércios, máquinas pesadas – pares de máquinas e outros empreendimentos, além de um número considerável de garimpeiros autônomos que pagavam para usufruir a estrutura do garimpo. A necessidade de insumos para serem usados nos garimpos possibilitou a abertura de inúmeros negócios e o incremento do comércio em Itaituba. A avenida Hugo de Mendonça foi tomada por atividades comerciais das mais diversas. Escritórios de compra de ouro, farmácias, butiques, armarinhos, casas bancárias. O aeroporto da cidade assumiu a condição de o mais movimentado do Brasil.
A pressão e rapidez do crescimento desordenado da cidade terminaram por anular os efeitos que incontáveis toneladas que saíram dos garimpos do Tapajós poderiam trazer para a grande maioria da população do município. Além disso, o sistema de tributação revelou-se perverso e injusto para com Itaituba. Criou-se, então, o contraste segundo o qual o município de São Paulo, que não possui um único garimpo em seu território, passasse a receber grandes fatias do imposto sobre o ouro, infinitamente superiores às que, por Lei, deveriam ser destinadas à Itaituba.
O resultado disso é que o município colheu poucos benefícios da atividade garimpeira. Os impostos eram minguados e os problemas decorrentes da garimpagem bastante avolumados: violência, tráfico de drogas , prostituição (infantil, inclusive) e outros, associados a um Poder Público incompetente e uma sociedade anestesiada pela falsa ilusão de que todos estavam no caminho da prosperidade e da riqueza fácil. É inegável que o garimpo fez a alegria de meia dúzia de privilegiados, mas produziu um número incontável de desafortunados. O tiro de misericórdia foi dado pelo governo Collor quando confiscou todos os ativos do país, inclusive... os dos investidores dos garimpos. Assim, findou-se o ciclo do ouro.
O dia 15 de dezembro é uma data importante para todos aqueles que amam Itaituba. O futuro daquela que já foi “a capital da borracha”, “a capital do ouro”, “cidade pepita”, repousa na capacidade das suas lideranças políticas, empresariais, de trabalhadores, religiosos, enfim da sociedade civil, em geral, de retomar a discussão de um plano estratégico de desenvolvimento econômico-social que privilegie a geração de emprego e renda e evite a concentração. Tal medida deveria servir de ato preparatório quando foi inaugurado o TRAMOESTE . O linhão, resolveu definitivamente o problema de geração de energia elétrica, possibilitou o funcionamento da CAIMA, que segundo projeções que antecederam seu funcionamento geraria 600 empregos diretos, 2.000 indiretos, produziria 50 mil sacos de cimento/dia, e injetaria R$ 2 milhões por mês na economia de Itaituba. A fábrica possibilitaria a implantação de uma Moageira de calcário, que produziria fertilizantes para a correção de solos. Não se tem notícia se essas expectativas concretizaram-se.
É preciso que se diga, finalmente, que Itaituba e seus líderes, com base nas lições de um passado bem recente, rediscutam seu novo modelo de desenvolvimento econômico-social sintonizado com um novo ciclo: o do agronegócio com todas as suas conseqüências sobre o ambiente, à geração de emprego e renda para a população. Preservação do patrimônio histórico e cultural . Por necessidade profissional tive que mudar-me para Belém do Pará .Itaituba continua viva na memória. E parafraseando o poeta Carlos Drumonnd de Andrade : “Itaituba é um retrato na parede, mas como dói!”
ALDIR VIANA
Ex-deputado Estadual
Ex-Secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos
Promotor de Justiça de Direitos Humanos
De uma simples aldeia de índios, igual a tantas outras existentes ao longo do Rio Tapajós, nasceu à pequena cidade de Itaituba. A Aldeia já era conhecida em 1812 como o maior centro de comércio de especiarias do alto Tapajós, com o nome de Itaituba.
O nome indígena, vem da língua tupi-guarani, que significa: Ita-pedra, I – Pequena, Tuba-abundância, que quer dizer lugar de muita pedra miúda, que realmente existe em grande quantidade na margem esquerda do Rio Tapajós.
Historicamente descoberta em 15 de dezembro de 1856, pelo Tenente Coronel Joaquim Caetano Correa, Itaituba somente foi elevada à categoria de cidade em 25 de novembro de 1900, pela lei de nº 648.
A partir desse momento, a economia do município viveu momentos de altos e baixos, em dois importantes ciclos:o da borracha e o do ouro. Em 1914, por exemplo, Itaituba representou o Pará numa exposição de produtos tropicais, realizada na cidade de Londres, dada a sua importância como um dos grandes produtores mundiais de borracha.
Nesse tempo, havia muita opulência e esnobação em Itaituba. As roupas dos barões da borracha eram lavadas em Belém. A influência francesa era marcante, notadamente no modo das pessoas se vestirem. Roupas e adornos eram importados de Paris. Esterlinas eram encomendadas por seringueiros a seus patrões e achegavam normalmente como qualquer outra mercadoria. As casas eram assoalhadas de acapu e pau-amarelo; algumas com azulejos importados de Portugal; os móveis como consolo, eram cobertos por pedras de mármore de carrara. Nas reuniões sociais falava-se o francês.
Com o final da 1ª Guerra Mundial, o preço da borracha desabou no mercado internacional, levando junto o sonho itaitubense. A partir desse episódio começou a derrocada, os barões transformaram-se em plebeus e os poucos que ainda dispunham de recurso financeiro, decidiram mudar-se para outro lugar e fugir da decadência. E assim terminou o ciclo da borracha, mas não apagou o sonho dos itaitubenses de viverem na prosperidade e na riqueza.
Itaituba foi redescoberta novamente com a abertura das rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém, carro-chefe do Programa de Integração Nacional do Governo Nacional Federal, e tinha como meta principal à ocupação da Amazônia através da colonização dirigida que previa o assentamento de várias famílias vindas de todos os cantos do país…atraídos pela promessa oficial “terras sem homens para homens sem terras”, além de crédito, assistência técnica, estradas vicinais, escolas, postos de saúde.
Itaituba funcionava como principal entreposto comercial da região. Ao lado desse acontecimento, um outro merece registro pelos efeitos causados à economia e a vida de Itaituba: o incremento da exploração do ouro nos garimpos do município no início da década de 80, associado à valorização do precioso metal no mercado internacional.
O município com sua fama “Eldorado” atraiu grandes contingentes populacionais, que passaram a sonhar com a possibilidade de enriquecimento rápido. De fato, muitos bamburraram. Tornaram-se donos de garimpo e de toda uma infra-estrutura de transportes, envolvendo aviões de pequeno e médio portes, cantinas, comércios, máquinas pesadas – pares de máquinas e outros empreendimentos, além de um número considerável de garimpeiros autônomos que pagavam para usufruir a estrutura do garimpo. A necessidade de insumos para serem usados nos garimpos possibilitou a abertura de inúmeros negócios e o incremento do comércio em Itaituba. A avenida Hugo de Mendonça foi tomada por atividades comerciais das mais diversas. Escritórios de compra de ouro, farmácias, butiques, armarinhos, casas bancárias. O aeroporto da cidade assumiu a condição de o mais movimentado do Brasil.
A pressão e rapidez do crescimento desordenado da cidade terminaram por anular os efeitos que incontáveis toneladas que saíram dos garimpos do Tapajós poderiam trazer para a grande maioria da população do município. Além disso, o sistema de tributação revelou-se perverso e injusto para com Itaituba. Criou-se, então, o contraste segundo o qual o município de São Paulo, que não possui um único garimpo em seu território, passasse a receber grandes fatias do imposto sobre o ouro, infinitamente superiores às que, por Lei, deveriam ser destinadas à Itaituba.
O resultado disso é que o município colheu poucos benefícios da atividade garimpeira. Os impostos eram minguados e os problemas decorrentes da garimpagem bastante avolumados: violência, tráfico de drogas , prostituição (infantil, inclusive) e outros, associados a um Poder Público incompetente e uma sociedade anestesiada pela falsa ilusão de que todos estavam no caminho da prosperidade e da riqueza fácil. É inegável que o garimpo fez a alegria de meia dúzia de privilegiados, mas produziu um número incontável de desafortunados. O tiro de misericórdia foi dado pelo governo Collor quando confiscou todos os ativos do país, inclusive... os dos investidores dos garimpos. Assim, findou-se o ciclo do ouro.
O dia 15 de dezembro é uma data importante para todos aqueles que amam Itaituba. O futuro daquela que já foi “a capital da borracha”, “a capital do ouro”, “cidade pepita”, repousa na capacidade das suas lideranças políticas, empresariais, de trabalhadores, religiosos, enfim da sociedade civil, em geral, de retomar a discussão de um plano estratégico de desenvolvimento econômico-social que privilegie a geração de emprego e renda e evite a concentração. Tal medida deveria servir de ato preparatório quando foi inaugurado o TRAMOESTE . O linhão, resolveu definitivamente o problema de geração de energia elétrica, possibilitou o funcionamento da CAIMA, que segundo projeções que antecederam seu funcionamento geraria 600 empregos diretos, 2.000 indiretos, produziria 50 mil sacos de cimento/dia, e injetaria R$ 2 milhões por mês na economia de Itaituba. A fábrica possibilitaria a implantação de uma Moageira de calcário, que produziria fertilizantes para a correção de solos. Não se tem notícia se essas expectativas concretizaram-se.
É preciso que se diga, finalmente, que Itaituba e seus líderes, com base nas lições de um passado bem recente, rediscutam seu novo modelo de desenvolvimento econômico-social sintonizado com um novo ciclo: o do agronegócio com todas as suas conseqüências sobre o ambiente, à geração de emprego e renda para a população. Preservação do patrimônio histórico e cultural . Por necessidade profissional tive que mudar-me para Belém do Pará .Itaituba continua viva na memória. E parafraseando o poeta Carlos Drumonnd de Andrade : “Itaituba é um retrato na parede, mas como dói!”
ALDIR VIANA
Ex-deputado Estadual
Ex-Secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos
Promotor de Justiça de Direitos Humanos
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