BRASÍLIA - Depois de mais de oito horas de discussão, a comissão
especial da Câmara aprovou nesta quarta-feira, 2, o texto da reforma da
Previdência apresentado pelo relator, deputado Arthur Oliveira Maia
(PPS-BA). O placar, de 23 votos a favor e 14 contra, foi exatamente o
que o governo esperava – três quintos da comissão. Esse será o
porcentual necessário para a votação em plenário (308 de 513 deputados).
Mas o embate de ontem mostrou que a tarefa não será fácil.
A
sessão de votação foi tumultuada e chegou a ser suspensa por três vezes
ao longo do dia. Para que a proposta fosse aprovada, partidos da base
aliada trocaram deputados contrários à reforma, na comissão, por outros
favoráveis, manobra duramente atacada pela oposição.
Partidos
que integram a base aliada, PSB, PHS, PROS e Solidariedade orientaram
suas bancadas a votar contra o parecer do relator. Todos os cinco
deputados desses partidos, além de um do PTB votaram contra, o que
demonstra que, nas próximas semanas, serão ainda mais intensas as
negociações do governo com sua base.
O Planalto comemorou o
resultado. Por meio do seu porta-voz, Alexandre Parola, o presidente
Michel Temer disse que o número de votos demonstra o reconhecimento
sobre a urgência da votação e que a reforma da Previdência é inadiável
por uma razão simples: “Se não reformarmos, pagaremos amanhã”.
Na
noite de ontem, os deputados ainda votariam alguns destaques ao
texto-base, e depois disso o projeto segue para o plenário. O relator
disse que a data de votação da matéria em plenário dependerá do
presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
As horas que antecederam a
votação foram marcadas por forte pressão de grupos que tentaram ganhar
algum benefício. Houve uma reviravolta nas regras de aposentadoria dos
policiais, por exemplo. O relator, deputado Arthur Oliveira Maia
(PPS-BA), decidiu retirar agentes penitenciários e socioeducativos do
grupo que teria acesso a condições mais brandas de acesso ao benefício.
Isso pouco tempo depois de anunciar a inclusão da categoria na regra
especial. O vaivém gerou gritaria entre deputados da própria base aliada
e despertou a ira dos agentes, que tentaram invadir o anexo 2 da Câmara
dos Deputados, onde ficam as comissões.
Os agentes penitenciários já haviam invadido na terça-feira a sede do
Ministério da Justiça, o que levou o relator a dizer que não cederia a
demandas de “vândalos”. Depois, acabou cedendo e incluiu a categoria na
regra que permitia idade mínima de até 55 anos para aposentadoria, desde
que fosse aprovada uma lei complementar regulamentando o modelo
alternativo. A iniciativa contemplava ainda os agentes socioeducativos.
A
inclusão dos agentes penitenciários na regra especial, no entanto, não
foi articulada com o Palácio do Planalto. Ao saber da “novidade”, o
ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, entrou em campo para convencer o relator a recuar da decisão.
Segundo um integrante do Planalto, Padilha disse que a mudança não foi
autorizada pelo governo, que já reiterou que não há mais espaço para
concessão na reforma.
“Não vou transformar relatório em polêmica
desnecessária. O relator quer se eximir da decisão nesse momento”, disse
Oliveira Maia ao anunciar a desistência horas depois.
Embora os
agentes tenham ficado sem aposentadoria especial, os policiais
legislativos conseguiram resultado positivo após a pressão sobre os
parlamentares. A carreira poderá se aposentar com idade mínima de 55
anos, pelo menos até a regra definitiva dos policiais ser enviada por
projeto de lei, o que deve ser feito juntamente com as regras da
Previdência dos militares.
Versões. Em meio às
mudanças, foram distribuídas ontem mais duas versões do relatório da
reforma da Previdência, isso depois das três que foram divulgadas no dia
da leitura do parecer, no dia 18 de abril. No começo da manhã, o texto
sequer estava pronto, o que atrasou o início dos trabalhos da comissão e
levou a três suspensões da sessão. O mesmo ocorreu após o almoço,
quando a retirada dos agentes foi anunciada: foram quase duas horas de
atraso. Só às 19h30 as bancadas começaram a orientar a votação, sete
horas depois do início.
A sessão foi marcada por tensão e alguns
bate-bocas entre deputados de oposição e da base do governo. Além dos
problemas ou das vantagens da reforma da Previdência apontados pelos
parlamentares, teve um pouco de tudo dos discursos, incluindo defesa do
povo palestino e críticas ao movimento contra imigrantes em São Paulo.
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