A possibilidade de privatizar empresas estatais com a ajuda do BNDES
atrai, pelo menos, cinco estados. Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,
Espírito Santo, Pará e São Paulo já começaram a analisar ativos que
poderiam entrar nesse programa, que faz parte do projeto de renegociação
das dívidas estaduais com a União. A lista dos candidatos a passar para
as mãos do setor privado inclui empresas de saneamento, como a
Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), energia
elétrica, gás e até bancos. A ideia é que os recursos arrecadados com a
privatização possam ser usados para abater débitos com a União ou para a
realização de programas de ajuste fiscal.
No Rio Grande do Sul, um dos estados em pior situação financeira, a
Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e a Sulgás estão na mira.
No entanto, o governo gaúcho quer um tratamento diferenciado para os
recursos arrecadados. Eles precisariam ser usados no pagamento das
parcelas mensais da dívida com o governo federal e não para abater o
estoque. O Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) também chegou
a entrar nos planos de privatização no início do ano, quando os estados
ainda negociavam o alongamento de dívidas com a equipe econômica da
presidente afastada, Dilma Rousseff, mas agora essas chances diminuíram.
CENÁRIO ECONÔMICO PODE DESVALORIZAR ATIVOS
No projeto encaminhado ao Congresso pelo governo Dilma Rousseff, no
início do ano, havia a previsão de que os estados pudessem transferir
para a União ativos como parte do pagamento das dívidas. Assim, passar
uma empresa estatal para o setor privado seria tarefa do governo
federal. Como no Rio Grande do Sul a privatização é um tema polêmico, e a
Constituição Estadual exige a realização de plebiscito para esse tipo
de operação, o Banrisul poderia entrar no projeto anterior, que tiraria
das mãos do governador José Ivo Sartori o ônus de privatizar a
instituição. Agora, alegam os técnicos do governo estadual, isso ficou
mais difícil. O Rio Grande do Sul só aceita repassar à União ativos para
posterior privatização, desde que se adote uma precificação mínima na
hora do repasse.
No Espírito Santo, o governo prevê o aumento de capital da Companhia
Espírito Santense de Saneamento (Cesan) e da concessão de gás natural.
Segundo a Secretaria de Fazenda do estado, no caso da Cesan, a companhia
está estruturando a entrada de um novo sócio, em parceria com o FIP, o
Fundo de Investimentos em Participações do FGTS. A ideia é aumentar a
capacidade de investimento da empresa. Já o Pará vai criar uma equipe de
trabalho para analisar o tema das privatizações.
O secretário de Fazenda de São Paulo, Renato Villela, afirmou que o
estado vai analisar os ativos que poderiam entrar no programa de auxílio
do BNDES, mas alertou para o fato de que, diante do atual momento
econômico, a tendência do mercado é subestimar o valor dos ativos. Para
ele, é preciso aguardar a tramitação do projeto de renegociação das
dívidas no Congresso para avaliar melhor o tema.
— As empresas vão ser subvalorizadas se tentarmos vender agora — disse Villela.
Técnicos da área econômica, no entanto, acreditam que mais estados
vão ter interesse nas privatizações. Eles afirmam que, quando o primeiro
interessado aparecer, e o BNDES fizer uma operação bem estruturada que
consiga vender a empresa por um preço atraente, quem tem algum receio
hoje vai mudar de opinião. Eles afirmam ainda que alguns estados
precisam dessas privatizações para equilibrar suas contas. É o caso, por
exemplo, de Rio de Janeiro e Cedae.
Embora não haja unanimidade sobre a operação, integrantes da cúpula
do estado afirmam que, diante das dificuldades financeiras à vista, a
concessão da Cedae poderá sair do papel em 2017. Quem é contra a medida
alega que a companhia não recebe repasses do Tesouro (logo, não dá
despesa), tem baixo valor de mercado e um grande passivo trabalhista.
Outra unidade federativa que precisaria dessas operações seria o
Distrito Federal, que tem como um ativo potencial o Banco de Brasília
(BRB). No entanto, a secretaria de Fazenda do DF informou que “não se
cogita qualquer privatização”. A mesma resposta foi dada pelo Mato
Grosso. No Rio Grande do Norte, o governo estadual cogita privatizar o
sistema prisional, mas isso não entraria na negociação com a União.
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