CULTURA
POPULAR: A FESTA DO SAIRÉ
ELIETE PEREIRA
LIMA 1
RESUMO
Este artigo tem como
objetivo descrever a Festa do Sairé, uma festa popular que ocorre todos os
anos, no município de Santarém na Vila de Alter do Chão, no mês de setembro,
com destaque para a disputa dos botos: Tucuxi e Cor-de-Rosa, e grande show de
cantores nacionais. Fazendo uma análise deste enquanto produção da cultura
popular. O presente trabalho esta dividido em quatro partes. Na primeira, faço
uma abordagem de uma maneira sintética sobre a cultura, diferenciando a cultura
erudita e da popular. Na segunda parte, um breve relato do local da pesquisa,
na terceira parte descreve todos os elementos da festa e levanto uma discussão
sobre a forma como a festa é percebida pelos moradores da Vila. Na quarta
parte, um apanhado geral do Sairé antes e depois de sua reativação com base nas
informações de brincantes, antigos moradores e bibliografias.
Palavras-chave: Sairé.
Cultura Popular. Vila.
SOCIAL HISTORY OF SAYRE
ABSTRACT
This article aims to describe the Sairé Festival, a popular festival that takes
place every year in the municipality of Santarém in the village of Alter do
Chão, while doing an analysis from the production of popular culture. This
paper is divided into four parts. At first, I approach a synthetic way about
culture, differentiating the classical and popular culture. In the second part,
a brief account of the research site, the third part describes all elements of
the party and raise a discussion on how the party is perceived by the residents
of the Village. In the fourth part, an overview of the Sairé before after its
reactivation based on information brincantes, former residents and
bibliographies.
Key-words: Sairé. Popular Culture. Vila.
1 INTRODUÇÃO
A
realização do artigo, da qual resultou este trabalho, aconteceu a partir do
momento da elaboração do projeto de pesquisa orientado pela professora Edilza Fontes.
2 CONSIDERAÇÕES
ACERCA DE CULTURA
2.1
O QUE É CULTURA
Cultura significa cultivar, e vem do latim colere.
Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a
moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem
não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como
membro dela que é.
Cultura
também é definida em ciências sociais como um conjunto de ideias,
comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração
através da vida em sociedade. Seria a herança social da humanidade ou ainda de
forma específica, uma determinada variante da herança social. Já em biologia a
cultura é uma criação especial de organismos para fins determinados.
A
principal característica da cultura é o mecanismo adaptativo que é a
capacidade, que os indivíduos tem de responder ao meio de acordo com mudança de
hábitos, mais até que possivelmente uma evolução biológica. A cultura é também
um mecanismo cumulativo porque as modificações trazidas por uma geração passam
à geração seguinte, onde vai se transformando perdendo e incorporando outros
aspetos procurando assim melhorar a vivência das novas gerações. Segundo
Santos:
Cada
realidade cultura tem sua lógica interna a qual devemos procurar conhecer para
que façam sentido às suas práticas, costumes, concepções e as transformações
pelas quais estas passam. É preciso relacionar a variedade de procedimentos
culturais com os contextos em que são produzidos. As variações nas formas de
família, por exemplo, ou maneiras de habitar, de vestir ou de distribuir os
produtos de trabalho não são gratuitas. (SANTOS, 1989).
A
cultura é um conceito que está sempre em desenvolvimento, pois com o passar do
tempo ela é influenciada por novas maneiras de pensar inerentes ao
desenvolvimento do ser humano.
2.2 CULTURA ERUDITA
Cultura
erudita é aquela proveniente de estudos, produzida através de pesquisas,
análises teóricas, experimentação. É a principal responsável pela evolução
intelectual da sociedade, já que está diretamente ligada a produção de
conhecimento. A ela se deve os avanços tecnológicos, da medicina, da
antropologia, da informática entre outros. Influencia diretamente na qualidade
de vida das pessoas, pois sua evolução sempre gera algum ganho para a
sociedade. Por ser uma cultura adquirida através de esforços educacionais não é
democrática como a popular, o que torna pequeno o número de eruditos.
A
cultura erudita pode ser observada também nas artes, sendo o fator determinante
para sua classificação o nível de estudo e complexidade por trás da produção
cultural. Um dos principais músicos eruditos de que já se teve conhecimento é
" Johann Sebastian Bach ", na pintura pode-se mencionar Michelangelo.
A
cultura erudita está ligada à elite, ou seja, está subordinada ao capital pelo
fator de viabilizar esta cultura. Esta exige estudo, pesquisa para se obter o
conhecimento, portanto não é viável a uma maioria, e sim a uma classe social
que por sua vez possui condições para investir nesses aspectos e em fim obter o
conhecimento. É uma cultura em que a sociedade valoriza como superior ou
dominante. No entanto em termos sociológicos existem grupos sociais que mantêm
entre si relações de dominação e de subordinação.
De
fato, ao longo da história, a cultura dominante desenvolveu um universo e
legitimidade própria, expressa pela filosofia, pela ciência e pelo saber
produzido e controlado em instituições da sociedade nacional, tais como a
universidade, as academias, as ordens profissionais (médicos, advogados,
engenheiros e outras). Devido à própria natureza da sociedade de classes, que
vivemos, essas situações estão fora do controle das classes dominantes.
(SANTOS, 1989).
A
separação entre cultura popular e erudita, com a atribuição de maior valor à
segunda, está relacionado à divisão da sociedade em classes, ou seja, é
resultado e manifestação das diferenças sociais. A cultura erudita abrangeria
expressões artísticas como a música clássica de padrão europeu, as artes
plásticas - escultura e pintura -, o teatro e a literatura de cunho universal.
2.3 CULTURA POPULAR
Cultura
Popular pode ser definida como qualquer manifestação cultural (dança, música,
festas, literatura, folclore, arte, etc) em que o povo produz e participa de
forma ativa.
Ao
contrário da cultura de elite, a cultura popular surge das tradições e costumes
e é transmitida de geração para geração, principalmente, de forma oral.
Segundo
BOSI (1987), “a cultura popular é a cultura que o povo faz no seu cotidiano e
nas condições em que ele pode fazer”. Nesse sentido, a produção cultural da
camada popular independe do conhecimento estabelecido pelas instituições
dominantes (escolas, universidades), pois considera-se cultura todas as
maneiras de existência humana, todas as formas de conhecimento da humanidade.
2.4 A CULTURA AMAZÔNICA
Hoje
em dia a Amazônia está em moda. Cada vez mais se ressalta seu aspecto mítico e
mesmo se criam e repassam, pelos veículos de comunicação, lendas urbanas a seu
respeito, carregadas de ideologias.
Ao mesmo tempo, faz-se uma tentativa pelo
menos ideológica de uniformizar e generalizar sempre mais a Amazônia. Quem não
a conhece, mesmo dentro do Brasil, associa a ela a idéia de índios, floresta
equatorial, rio Amazonas, bichos… e sempre com a conotação mais pejorativa
possível. Parece haver um esquecimento de que ao toque do projeto
“civilizatório” europeu nada permanece como era. Aqui não foi diferente. Há
desertos no meio da floresta, como já havia também vegetações de cerrado ao
norte. Os povos indígenas já não são há muito tempo os únicos habitantes da
região. Há muito concreto no meio da floresta e mais da metade da população
amazônica vive nas cidades.
Faz-se necessário reconhecer que há várias
“amazônias” dentro da Amazônia. Que para compreendê-la como totalidade não se
pode suprimir as suas tão variadas diversidades. Que na “cultura amazônica”
existem várias culturas.
Hoje,
as interferências no processo cultural da Amazônia advêm da entrada do
capitalismo, como relação econômica e social na região.
O
que era antes colonialismo interno ou externo, hoje é entrada da forma de
exploração capitalista na Amazônia, através dos grandes projetos agropecuários
ou industriais, da pesca predatória, da expulsão do homem do campo, da
degradação da vida indígena, da devastação ecológica... (LOUREIRO, 1989).
Talvez o próprio conceito de cultura precise
de uma certa revisão. O que se pretende com esse trabalho, cujo caráter é
apenas introdutório, é oferecer pistas para uma reflexão mais acurada a
respeito da questão da cultura na Amazônia. Partindo do estabelecimento acerca
de o que vem de fato a ser cultura, passaremos a uma análise histórica sobre os
diversos povos que aqui chegaram e já estavam e deram a sua contribuição para o
quadro cultural que aqui hoje temos, para, enfim, quem sabe apontar algumas
pistas a respeito de para onde caminhamos ou o que e aonde pretendemos chegar.
3 LOCAL DO ALTER DO CHÃO
Qual
a praia mais bonita do Brasil? Pergunta difícil, com diversas respostas e pouco
consenso. Para o jornal britânico The Guardian o título ficaria com um pequeno
paraíso que sequer no mar fica: Alter do Chão, em Santarém, no Pará. Em
reportagem de 2009, o jornal apontou esse destino como a melhor, por suas
praias de águas cristalinas que lembram o mar do Caribe em pleno Norte
brasileiro.
Elevada
a categoria de vila em 1626, Alter do Chão está a 30 quilômetros de Santarém e
pode ser acessada por terra ou em um trajeto por água de 3 horas. Suas praias
são banhadas pelo rio Tapajós e nessa região ocorre o encontro desse curso
d’água com o Rio Amazonas. Entre os atrativos naturais mais procurados pelos
turistas está o lendário Lago dos Muiraquitãs, ou o Lago Verde. Dentro dele há
uma floresta de igapós inundada durante seis meses no ano. Há ainda o Lago do
Maicá, uma extensa área de várzea perfeita para observar aves e outros animais.
No passeio, é possível ver o encontro das águas dos rios, que não se misturam
por terem diferentes temperaturas e velocidades.
A
vila do Alter do Chão que antes tinha sua economia baseada na atividade
agrícola e pesqueira, hoje com a Festa do Sairé e outros eventos culturais, tem
fortalecido economia através do turismo.
4 A FESTA DO SAIRÉ
Festa
do Sairé ou Festa do Çairé (Dialeto
Amazônico) é uma festividade de caráter religioso introduzido nas missões
religiosas da Amazônia pelos jesuítas, no século XVII.
O
primeiro Çairé que se tem notícia foi organizado pelo Padre João Maria Gorzoi
na aldeia dos Tapajós. Posteriormente foi levado para outras missões. Houve a
realização do Çairé nas Missões de Santo Inácio, São José, Nossa Senhora dos
Remédios (ou da Saúde) e Nossa Senhora da Assunção, ambas no rio Tapajós, bem
como em Gurupatuba, no rio Amazonas.
Em
1943, a Festa do Çairé foi suprimida por ordem dos religiosos franciscanos.
Voltou a acontecer na década de 1970, já desprovida de seu caráter religioso
original.
O Sairé é a mais antiga manifestação da cultura
popular da Amazônia. A festa resiste há mais de 300 anos, mantendo intacto o
seu simbolismo e essência. A origem remonta ao período da colonização, quando
os padres jesuítas, na missão evangelizadora pela bacia do rio Amazonas,
envolviam música e dança na catequese dos índios (essa é a hipótese mais
provável, já que, antes da catequização, os indígenas não conheciam a religião
cristã, nem os textos bíblicos e nem o mistério da Santíssima Trindade).
Com as mudanças ocorridas o Sairé foi ganhando novos
elementos. Atualmente, é festejado no mês de setembro, antes ocorria em julho,
mais com a cheia do Tapajós, que dificultava o acesso às praias, por isso, a
comunidade, alterou a data do evento. A
programação do Sairé consiste duas vertentes, um ritual religioso, que ocorre
todos os dias, com ladainhas e rezas, seguida da parte profana da festa,
representada pelos shows artísticos e pelo confronto dos botos Tucuxi e
Cor-de-Rosa.
4.1
O RITUAL DA FESTA
A procissão e a ladainha são elementos indispensáveis na Festa do Sairé.
Fazem parte da programação religiosa. A festividade inicia-se com a procissão,
onde os promotores da festa e demais participantes da comunidade vão em busca
dos mastros que serão levantados ao lado do barracão do Sairé.
Durante
o percurso da procissão são entoados cânticos em louvor a Santíssima Trindade,
ora em português, ora em latim, até ao barracão do Sairé, onde, em seguida, é
rezada a ladainha, que se encerra com a cerimônia do “Beija Santo”.
4.2 RITUAL DOS BOTOS
A Amazônia é rica em lendas e tradições, mas nenhuma
se compara à lenda do Boto. Caboclas e caboclos contam estórias e crenças sobre
o irresistível sedutor amazônico. Quem ainda não ouviu falar da fama de
conquistador que lhe é atribuída? Dizem que, nas festas, comparece sempre de
chapéu à cabeça e procura seduzir mulheres jovens e bonitas.
O boto tem inspirado grupos folclóricos na criação de danças que retratam sua lenda. Nesse caso, em Alter-do-Chão, na Festa do Sairé, nascida dos índios Borari, nos tempos do Brasil colonial..
O boto tem inspirado grupos folclóricos na criação de danças que retratam sua lenda. Nesse caso, em Alter-do-Chão, na Festa do Sairé, nascida dos índios Borari, nos tempos do Brasil colonial..
O ritual folclórico dos botos Tucuxi e Cor de Rosa
giram em torno da sedução, morte e ressurreição destes personagens, entre
lendas regionais, tribos indígenas, a Cunhantã-iborari, a Principaleza do Lago
Verde, a Rainha do Sairé, o Tuxaua, o Pajé e os pescadores. O enredo tem
ideologia ecológica, pois ressalta a natureza, em especial o Lago Verde, palco
da trama. E quando o boto é morto por ordem do Tuxaua, pai da Cunhantã-iborari,
que foi engravidada pelo golfinho amazônico, recai sobre ele a fúria dos maus
espíritos da região. Por isso, a pedido do próprio Tuxaua, vem o Pajé e
ressuscita o boto. É a apoteose do folclore.
Atualmente
a festa conserva muito pouco da sua originalidade. Ganhou destaque a disputa
existente entre o Boto tucuxi e seu rival, o Boto-cor-de-rosa, cetáceos típicos
da América do Sul.
Toda
a trama e coreografia do folclore dos botos Tucuxi e Cor-de-Rosa gira em torno
da sedução, morte e ressurreição destes personagens, entre lendas regionais,
tribos indígenas, a Cunhantã-iborari, a Principaleza do Lago
Verde, a Rainha do Çairé, o Tuxaua, o Pajé e os pescadores. O enredo tem
ideologia ecológica, pois ressalta a natureza, em especial o Lago Verde, palco
da trama. E quando o boto é morto por ordem do Tuxaua, pai da Cunhantã-iborari,
que foi engravidada pelo golfinho amazônico, recai sobre ele a fúria dos maus
espíritos da região. Por isso, a pedido do próprio Tuxaua, vem o Pajé e
ressuscita o boto. É a apoteose do folclore durante o festival.
.No
último dia, na segunda-feira, ocorrem a “varrição da festa”, a derrubada dos
mastros e a “cecuiara” (almoço de confraternização), entre outros eventos. A
programação termina à noite, com a festa dos “barraqueiros” .
5
AS TRANSFORMAÇÕES DO SAIRÉ
5.
1 O SAIRÉ ANTES DE 1973.
Segundo os informantes,
o Sairé era um ritual religioso do povo Borari, bem como ritual de boas vindas
às autoridades portuguesas que aportavam à vila.
Antes
de sua realização, em 1973, o Sairé era utilizado nas festas religiosas de
Nossa Senhora da Saúde, Padroeira de Alter do Chão, e São José, nos dia 6 e 7
de janeiro e de Santo Antonio no dia 29 de junho.
A
festa de São José acontecia n mesmo período da festa de Nossa Senhora da Saúde.
Começava dia 28 de dezembro, com a “levantação” de dois mastros, em frente à
igreja: um de Nossa Senhora e outro de São José. Os mastros eram enfeitados com
folhagem e frutos, tendo, no topo de cada um, uma bandeira de cor branca com
desenho de uma pomba, simbolizava o Espírito Santo.
Havia
nessa ocasião dois Sairés – um para cada Santo – que eram deslocados em
procissão com cânticos e rezas, do barracão até a igreja de Nossa Senhora da
Saúde que, durante nove noites, após a procissão, era rezada a ladainha.
Terminada a ladainha, fazia-se o cortejo de volta ao barracão onde os Sairés
ficavam guardados por todo o período da festa.
No
ritual da procissão, os personagens apresentavam-se obedecendo a seguinte
ordem: os alferes, empunhando bandeiras. 1 gaiteiro, 1 tamborinho, 2 rufadores
de caixas, a mulher ou as mulheres do Sairé (Saraipora), uma ou duas moças
segurando nas longas fitas vermelhas que dele pendiam. Logo atrás do Sairé
vinham o capitão, o juiz, a juíza, seus mordomos e procuradores. E, por fim, a
tripulação, com suas bandeiras.
Assim iam até à entrada
da igreja. Há dúvidas se o Sairé (escudo) entrava ou não na igreja, pois
segundo o Sr. Argentino, morador de Alter do Chão, que melhores informações deu
a respeito da festa do Sairé, afirma que o Escudo não entrava na igreja, ele
ficava fora, enquanto que os personagens entravam para rezar a ladainha.
Nos estudos de Nunes
Pereira percebe-se uma versão diferenciada:
“
O Sahiré nela entrava, conduzido pela mulher ou pelas mulheres ditas do SAHIRÉ.
E todos os demais personagens lhes seguiam os passos, à exceção dos
porta-bandeiras, que ali chegando, haviam gritado: vamos abrir as bandeiras! E
assim as mantinhas desfraldadas à parta da igreja”.
Esse
ritual foi conservado em Alter do Chão durante muitos anos. Por volta de 1943,
os padres norte-americanos que vieram ara esta região, reslveram afastar o
Sairé das festas religiosas. Desde essa época o Sairé não foi mais utilizado na
comunidade de Alter do Chão, só em 1973, ele foi revivido já com cunho
folclórico.
Quando
a proibição do ritual do Sairé nas festas religiosas, pelos padres norte-americanos, os moradores da vila
acreditam que o principal motivo dessa proibição está ligado ao fator
econômico. Ocorria que no dia da festa dos Santos (São José e Santo Antonio) e
da Santa (Nossa Senhora da Saúde), após a celebração, as pessoas que se faziam
presentes, dirigiam-se para barracão do Sairé, onde as comidas e bebidas eram
gratuitas, e ainda tinha a Festa do Sairé (o baile) na casa de um dos
promotores.
Desta
forma, a praça da igreja que estava organizada e preparada para festa dos
Santos, com vendas como: comidas, bebidas e artesanatos, ficavam praticamente
vazia, como pode-se observar na fala do
Sr. Argentino:
“Quando
os padres americanos chegaram aqui, eles observaram que essa Festa do Sairé
causava prejuízo para a Igreja. Isto porque o pessoal não ficava comprando nas
vendas lá na praça. Todos vinham para o barracão, porque tudo era grátis. Não
havia necessidade de comprar nada...”
A
maioria dos entrevistados tem essa mesma visão quanto a causa da paralisação do
Sairé em 1943. Entretanto, o padre Edilberto Sena explica que o motivo do
afastamento do ritual do Sairé da igreja católica está ligado ao processo de
romanização da igreja, é o comenta em sua entrevista:
“
Ao longo da história, o catolicismo brasileiro foi profundamente leigo, porque
os padres que vinham da corte, eles ficavam nos centros maiores. Curiosamente o
povo brasileiro cultivou o seu catolicismo, a sua religião, de ma maneira
leiga, até que no século passado, a igreja romana se preocupou, criando
Seminário no Brasil inclusive em Belém do Pará. Romanizou os padres, que com
essa formação de romanizados, eles tentaram no dizer deles, converter a
religiosidade pagã. Um dos efeitos foi tentar excluir todo o ritual folclórico
popular. Excluir da igreja. O Sairé, então, foi afastado do ritual católico”.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo
uma criação espontânea do povo amazônida, oriunda dos Bararis, a Festa do Sairé
expressa à beleza e a sabedoria das camadas populares; expressão do forma
simbólica, o modo de compreensão de um sistema social e como historicamente, a
população age na reprodução e transformação desse sistema.
Após
trinta anos de paralisação, os moradores da vila de Alter do Chão, buscando
resgatar uma tradição da cultura popular, fizeram reviver o Sairé, já com cunho
folclórico e nome de Festa do Sariré.
Assim,
mesmo se objetivando preservar o tradicional, o Sairé, hoje, é tido mais como
festa folclórica, entretanto para o ramo da comercialização. Essas mudanças vem
provar o processo dinâmico da cultura popular e a mudança de significado que
ocorre no momento em que se altera o contexto dos eventos culturais que são
produzidos.
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO,
Nicola. Dicionário de filosofia. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.
ALVES,
Ìsidoro. O Carnaval Devoto.
Petrópolis, Vozes. 1978.
ARANTES,
Antônio. O que é Cultura Popular.
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BOSI, Alfredo. Cultura como Tradição, in: Cultura Brasileira: Tradição Contradição.
Zahar/Funerte. Rio de Janeiro, 1987.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo
dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
FONSECA,
Wilde Dias da. Santarém: Momentos
Históricos. Artesanato Gráfico Tiagão. Santarém-PA. 1995.
PEDRO,
Aquilino de. Dicionário de termos
religiosos e afins. 10 ed. Aparecida: Santuário, 1999.
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