sábado, 18 de janeiro de 2014

ARTIGO: CULTURA POPULAR: A FESTA DO SAIRÉ.

CULTURA POPULAR: A FESTA DO SAIRÉ

ELIETE PEREIRA LIMA 1

RESUMO

Este artigo tem como objetivo descrever a Festa do Sairé, uma festa popular que ocorre todos os anos, no município de Santarém na Vila de Alter do Chão, no mês de setembro, com destaque para a disputa dos botos: Tucuxi e Cor-de-Rosa, e grande show de cantores nacionais. Fazendo uma análise deste enquanto produção da cultura popular. O presente trabalho esta dividido em quatro partes. Na primeira, faço uma abordagem de uma maneira sintética sobre a cultura, diferenciando a cultura erudita e da popular. Na segunda parte, um breve relato do local da pesquisa, na terceira parte descreve todos os elementos da festa e levanto uma discussão sobre a forma como a festa é percebida pelos moradores da Vila. Na quarta parte, um apanhado geral do Sairé antes e depois de sua reativação com base nas informações de brincantes, antigos moradores e bibliografias.

Palavras-chave: Sairé. Cultura Popular. Vila.

SOCIAL HISTORY OF SAYRE
ABSTRACT


This article aims to describe the Sairé Festival, a popular festival that takes place every year in the municipality of Santarém in the village of Alter do Chão, while doing an analysis from the production of popular culture. This paper is divided into four parts. At first, I approach a synthetic way about culture, differentiating the classical and popular culture. In the second part, a brief account of the research site, the third part describes all elements of the party and raise a discussion on how the party is perceived by the residents of the Village. In the fourth part, an overview of the Sairé before after its reactivation based on information brincantes, former residents and bibliographies.

Key-words: Sairé. Popular Culture. Vila.




1 INTRODUÇÃO
A realização do artigo, da qual resultou este trabalho, aconteceu a partir do momento da elaboração do projeto de pesquisa orientado pela professora Edilza Fontes.

2  CONSIDERAÇÕES ACERCA DE CULTURA
2.1 O QUE É CULTURA
Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é.
Cultura também é definida em ciências sociais como um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração através da vida em sociedade. Seria a herança social da humanidade ou ainda de forma específica, uma determinada variante da herança social. Já em biologia a cultura é uma criação especial de organismos para fins determinados.
A principal característica da cultura é o mecanismo adaptativo que é a capacidade, que os indivíduos tem de responder ao meio de acordo com mudança de hábitos, mais até que possivelmente uma evolução biológica. A cultura é também um mecanismo cumulativo porque as modificações trazidas por uma geração passam à geração seguinte, onde vai se transformando perdendo e incorporando outros aspetos  procurando assim melhorar a vivência das novas gerações. Segundo Santos:
Cada realidade cultura tem sua lógica interna a qual devemos procurar conhecer para que façam sentido às suas práticas, costumes, concepções e as transformações pelas quais estas passam. É preciso relacionar a variedade de procedimentos culturais com os contextos em que são produzidos. As variações nas formas de família, por exemplo, ou maneiras de habitar, de vestir ou de distribuir os produtos de trabalho não são gratuitas. (SANTOS, 1989).
A cultura é um conceito que está sempre em desenvolvimento, pois com o passar do tempo ela é influenciada por novas maneiras de pensar inerentes ao desenvolvimento do ser humano.
2.2 CULTURA ERUDITA
Cultura erudita é aquela proveniente de estudos, produzida através de pesquisas, análises teóricas, experimentação. É a principal responsável pela evolução intelectual da sociedade, já que está diretamente ligada a produção de conhecimento. A ela se deve os avanços tecnológicos, da medicina, da antropologia, da informática entre outros. Influencia diretamente na qualidade de vida das pessoas, pois sua evolução sempre gera algum ganho para a sociedade. Por ser uma cultura adquirida através de esforços educacionais não é democrática como a popular, o que torna pequeno o número de eruditos.
A cultura erudita pode ser observada também nas artes, sendo o fator determinante para sua classificação o nível de estudo e complexidade por trás da produção cultural. Um dos principais músicos eruditos de que já se teve conhecimento é " Johann Sebastian Bach ", na pintura pode-se mencionar Michelangelo.
A cultura erudita está ligada à elite, ou seja, está subordinada ao capital pelo fator de viabilizar esta cultura. Esta exige estudo, pesquisa para se obter o conhecimento, portanto não é viável a uma maioria, e sim a uma classe social que por sua vez possui condições para investir nesses aspectos e em fim obter o conhecimento. É uma cultura em que a sociedade valoriza como superior ou dominante. No entanto em termos sociológicos existem grupos sociais que mantêm entre si relações de dominação e de subordinação.
De fato, ao longo da história, a cultura dominante desenvolveu um universo e legitimidade própria, expressa pela filosofia, pela ciência e pelo saber produzido e controlado em instituições da sociedade nacional, tais como a universidade, as academias, as ordens profissionais (médicos, advogados, engenheiros e outras). Devido à própria natureza da sociedade de classes, que vivemos, essas situações estão fora do controle das classes dominantes. (SANTOS, 1989).
A separação entre cultura popular e erudita, com a atribuição de maior valor à segunda, está relacionado à divisão da sociedade em classes, ou seja, é resultado e manifestação das diferenças sociais. A cultura erudita abrangeria expressões artísticas como a música clássica de padrão europeu, as artes plásticas - escultura e pintura -, o teatro e a literatura de cunho universal.
2.3 CULTURA POPULAR
Cultura Popular pode ser definida como qualquer manifestação cultural (dança, música, festas, literatura, folclore, arte, etc) em que o povo produz e participa de forma ativa. 
Ao contrário da cultura de elite, a cultura popular surge das tradições e costumes e é transmitida de geração para geração, principalmente, de forma oral.
Segundo BOSI (1987), “a cultura popular é a cultura que o povo faz no seu cotidiano e nas condições em que ele pode fazer”. Nesse sentido, a produção cultural da camada popular independe do conhecimento estabelecido pelas instituições dominantes (escolas, universidades), pois considera-se cultura todas as maneiras de existência humana, todas as formas de conhecimento da humanidade.
2.4 A CULTURA AMAZÔNICA
Hoje em dia a Amazônia está em moda. Cada vez mais se ressalta seu aspecto mítico e mesmo se criam e repassam, pelos veículos de comunicação, lendas urbanas a seu respeito, carregadas de ideologias.
      Ao mesmo tempo, faz-se uma tentativa pelo menos ideológica de uniformizar e generalizar sempre mais a Amazônia. Quem não a conhece, mesmo dentro do Brasil, associa a ela a idéia de índios, floresta equatorial, rio Amazonas, bichos… e sempre com a conotação mais pejorativa possível. Parece haver um esquecimento de que ao toque do projeto “civilizatório” europeu nada permanece como era. Aqui não foi diferente. Há desertos no meio da floresta, como já havia também vegetações de cerrado ao norte. Os povos indígenas já não são há muito tempo os únicos habitantes da região. Há muito concreto no meio da floresta e mais da metade da população amazônica vive nas cidades.
 Faz-se necessário reconhecer que há várias “amazônias” dentro da Amazônia. Que para compreendê-la como totalidade não se pode suprimir as suas tão variadas diversidades. Que na “cultura amazônica” existem várias culturas.
Hoje, as interferências no processo cultural da Amazônia advêm da entrada do capitalismo, como relação econômica e social na região.
O que era antes colonialismo interno ou externo, hoje é entrada da forma de exploração capitalista na Amazônia, através dos grandes projetos agropecuários ou industriais, da pesca predatória, da expulsão do homem do campo, da degradação da vida indígena, da devastação ecológica... (LOUREIRO, 1989).

 Talvez o próprio conceito de cultura precise de uma certa revisão. O que se pretende com esse trabalho, cujo caráter é apenas introdutório, é oferecer pistas para uma reflexão mais acurada a respeito da questão da cultura na Amazônia. Partindo do estabelecimento acerca de o que vem de fato a ser cultura, passaremos a uma análise histórica sobre os diversos povos que aqui chegaram e já estavam e deram a sua contribuição para o quadro cultural que aqui hoje temos, para, enfim, quem sabe apontar algumas pistas a respeito de para onde caminhamos ou o que e aonde pretendemos chegar.

3 LOCAL DO ALTER DO CHÃO
Qual a praia mais bonita do Brasil? Pergunta difícil, com diversas respostas e pouco consenso. Para o jornal britânico The Guardian o título ficaria com um pequeno paraíso que sequer no mar fica: Alter do Chão, em Santarém, no Pará. Em reportagem de 2009, o jornal apontou esse destino como a melhor, por suas praias de águas cristalinas que lembram o mar do Caribe em pleno Norte brasileiro.
Elevada a categoria de vila em 1626, Alter do Chão está a 30 quilômetros de Santarém e pode ser acessada por terra ou em um trajeto por água de 3 horas. Suas praias são banhadas pelo rio Tapajós e nessa região ocorre o encontro desse curso d’água com o Rio Amazonas. Entre os atrativos naturais mais procurados pelos turistas está o lendário Lago dos Muiraquitãs, ou o Lago Verde. Dentro dele há uma floresta de igapós inundada durante seis meses no ano. Há ainda o Lago do Maicá, uma extensa área de várzea perfeita para observar aves e outros animais. No passeio, é possível ver o encontro das águas dos rios, que não se misturam por terem diferentes temperaturas e velocidades.
A vila do Alter do Chão que antes tinha sua economia baseada na atividade agrícola e pesqueira, hoje com a Festa do Sairé e outros eventos culturais, tem fortalecido economia através do turismo. 

4 A FESTA DO SAIRÉ
Festa do Sairé ou Festa do Çairé (Dialeto Amazônico) é uma festividade de caráter religioso introduzido nas missões religiosas da Amazônia pelos jesuítas, no século XVII.
O primeiro Çairé que se tem notícia foi organizado pelo Padre João Maria Gorzoi na aldeia dos Tapajós. Posteriormente foi levado para outras missões. Houve a realização do Çairé nas Missões de Santo Inácio, São José, Nossa Senhora dos Remédios (ou da Saúde) e Nossa Senhora da Assunção, ambas no rio Tapajós, bem como em Gurupatuba, no rio Amazonas.
Em 1943, a Festa do Çairé foi suprimida por ordem dos religiosos franciscanos. Voltou a acontecer na década de 1970, já desprovida de seu caráter religioso original.
O Sairé é a mais antiga manifestação da cultura popular da Amazônia. A festa resiste há mais de 300 anos, mantendo intacto o seu simbolismo e essência. A origem remonta ao período da colonização, quando os padres jesuítas, na missão evangelizadora pela bacia do rio Amazonas, envolviam música e dança na catequese dos índios (essa é a hipótese mais provável, já que, antes da catequização, os indígenas não conheciam a religião cristã, nem os textos bíblicos e nem o mistério da Santíssima Trindade).
Com as mudanças ocorridas o Sairé foi ganhando novos elementos. Atualmente, é festejado no mês de setembro, antes ocorria em julho, mais com a cheia do Tapajós, que dificultava o acesso às praias, por isso, a comunidade, alterou a data do evento.  A programação do Sairé consiste duas vertentes, um ritual religioso, que ocorre todos os dias, com ladainhas e rezas, seguida da parte profana da festa, representada pelos shows artísticos e pelo confronto dos botos Tucuxi e Cor-de-Rosa.  

4.1 O RITUAL DA FESTA
            A procissão e a ladainha são elementos indispensáveis na Festa do Sairé. Fazem parte da programação religiosa. A festividade inicia-se com a procissão, onde os promotores da festa e demais participantes da comunidade vão em busca dos mastros que serão levantados ao lado do barracão do Sairé.
            Durante o percurso da procissão são entoados cânticos em louvor a Santíssima Trindade, ora em português, ora em latim, até ao barracão do Sairé, onde, em seguida, é rezada a ladainha, que se encerra com a cerimônia do “Beija Santo”. 

4.2 RITUAL DOS BOTOS
A Amazônia é rica em lendas e tradições, mas nenhuma se compara à lenda do Boto. Caboclas e caboclos contam estórias e crenças sobre o irresistível sedutor amazônico. Quem ainda não ouviu falar da fama de conquistador que lhe é atribuída? Dizem que, nas festas, comparece sempre de chapéu à cabeça e procura seduzir mulheres jovens e bonitas.
O boto tem inspirado grupos folclóricos na criação de danças que retratam sua lenda.  Nesse caso, em Alter-do-Chão, na Festa do Sairé, nascida dos índios Borari, nos tempos do Brasil colonial..
O ritual folclórico dos botos Tucuxi e Cor de Rosa giram em torno da sedução, morte e ressurreição destes personagens, entre lendas regionais, tribos indígenas, a Cunhantã-iborari, a Principaleza do Lago Verde, a Rainha do Sairé, o Tuxaua, o Pajé e os pescadores. O enredo tem ideologia ecológica, pois ressalta a natureza, em especial o Lago Verde, palco da trama. E quando o boto é morto por ordem do Tuxaua, pai da Cunhantã-iborari, que foi engravidada pelo golfinho amazônico, recai sobre ele a fúria dos maus espíritos da região. Por isso, a pedido do próprio Tuxaua, vem o Pajé e ressuscita o boto. É a apoteose do folclore.
Atualmente a festa conserva muito pouco da sua originalidade. Ganhou destaque a disputa existente entre o Boto tucuxi e seu rival, o Boto-cor-de-rosa, cetáceos típicos da América do Sul.
Toda a trama e coreografia do folclore dos botos Tucuxi e Cor-de-Rosa gira em torno da sedução, morte e ressurreição destes personagens, entre lendas regionais, tribos indígenas, a Cunhantã-iborari, a Principaleza do Lago Verde, a Rainha do Çairé, o Tuxaua, o Pajé e os pescadores. O enredo tem ideologia ecológica, pois ressalta a natureza, em especial o Lago Verde, palco da trama. E quando o boto é morto por ordem do Tuxaua, pai da Cunhantã-iborari, que foi engravidada pelo golfinho amazônico, recai sobre ele a fúria dos maus espíritos da região. Por isso, a pedido do próprio Tuxaua, vem o Pajé e ressuscita o boto. É a apoteose do folclore durante o festival.
.No último dia, na segunda-feira, ocorrem a “varrição da festa”, a derrubada dos mastros e a “cecuiara” (almoço de confraternização), entre outros eventos. A programação termina à noite, com a festa dos “barraqueiros” .

5 AS TRANSFORMAÇÕES DO SAIRÉ
5. 1 O SAIRÉ ANTES DE 1973.
Segundo os informantes, o Sairé era um ritual religioso do povo Borari, bem como ritual de boas vindas às autoridades portuguesas que aportavam à vila.
Antes de sua realização, em 1973, o Sairé era utilizado nas festas religiosas de Nossa Senhora da Saúde, Padroeira de Alter do Chão, e São José, nos dia 6 e 7 de janeiro e de Santo Antonio no dia 29 de junho.
A festa de São José acontecia n mesmo período da festa de Nossa Senhora da Saúde. Começava dia 28 de dezembro, com a “levantação” de dois mastros, em frente à igreja: um de Nossa Senhora e outro de São José. Os mastros eram enfeitados com folhagem e frutos, tendo, no topo de cada um, uma bandeira de cor branca com desenho de uma pomba, simbolizava o Espírito Santo.
Havia nessa ocasião dois Sairés – um para cada Santo – que eram deslocados em procissão com cânticos e rezas, do barracão até a igreja de Nossa Senhora da Saúde que, durante nove noites, após a procissão, era rezada a ladainha. Terminada a ladainha, fazia-se o cortejo de volta ao barracão onde os Sairés ficavam guardados por todo o período da festa.
No ritual da procissão, os personagens apresentavam-se obedecendo a seguinte ordem: os alferes, empunhando bandeiras. 1 gaiteiro, 1 tamborinho, 2 rufadores de caixas, a mulher ou as mulheres do Sairé (Saraipora), uma ou duas moças segurando nas longas fitas vermelhas que dele pendiam. Logo atrás do Sairé vinham o capitão, o juiz, a juíza, seus mordomos e procuradores. E, por fim, a tripulação, com suas bandeiras.
Assim iam até à entrada da igreja. Há dúvidas se o Sairé (escudo) entrava ou não na igreja, pois segundo o Sr. Argentino, morador de Alter do Chão, que melhores informações deu a respeito da festa do Sairé, afirma que o Escudo não entrava na igreja, ele ficava fora, enquanto que os personagens entravam para rezar a ladainha.
Nos estudos de Nunes Pereira percebe-se uma versão diferenciada:
“ O Sahiré nela entrava, conduzido pela mulher ou pelas mulheres ditas do SAHIRÉ. E todos os demais personagens lhes seguiam os passos, à exceção dos porta-bandeiras, que ali chegando, haviam gritado: vamos abrir as bandeiras! E assim as mantinhas desfraldadas à parta da igreja”.
Esse ritual foi conservado em Alter do Chão durante muitos anos. Por volta de 1943, os padres norte-americanos que vieram ara esta região, reslveram afastar o Sairé das festas religiosas. Desde essa época o Sairé não foi mais utilizado na comunidade de Alter do Chão, só em 1973, ele foi revivido já com cunho folclórico.
Quando a proibição do ritual do Sairé nas festas religiosas, pelos padres  norte-americanos, os moradores da vila acreditam que o principal motivo dessa proibição está ligado ao fator econômico. Ocorria que no dia da festa dos Santos (São José e Santo Antonio) e da Santa (Nossa Senhora da Saúde), após a celebração, as pessoas que se faziam presentes, dirigiam-se para barracão do Sairé, onde as comidas e bebidas eram gratuitas, e ainda tinha a Festa do Sairé (o baile) na casa de um dos promotores.
Desta forma, a praça da igreja que estava organizada e preparada para festa dos Santos, com vendas como: comidas, bebidas e artesanatos, ficavam praticamente vazia, como  pode-se observar na fala do Sr. Argentino:
“Quando os padres americanos chegaram aqui, eles observaram que essa Festa do Sairé causava prejuízo para a Igreja. Isto porque o pessoal não ficava comprando nas vendas lá na praça. Todos vinham para o barracão, porque tudo era grátis. Não havia necessidade de comprar nada...”
A maioria dos entrevistados tem essa mesma visão quanto a causa da paralisação do Sairé em 1943. Entretanto, o padre Edilberto Sena explica que o motivo do afastamento do ritual do Sairé da igreja católica está ligado ao processo de romanização da igreja, é o comenta em sua entrevista:
“ Ao longo da história, o catolicismo brasileiro foi profundamente leigo, porque os padres que vinham da corte, eles ficavam nos centros maiores. Curiosamente o povo brasileiro cultivou o seu catolicismo, a sua religião, de ma maneira leiga, até que no século passado, a igreja romana se preocupou, criando Seminário no Brasil inclusive em Belém do Pará. Romanizou os padres, que com essa formação de romanizados, eles tentaram no dizer deles, converter a religiosidade pagã. Um dos efeitos foi tentar excluir todo o ritual folclórico popular. Excluir da igreja. O Sairé, então, foi afastado do ritual católico”.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo uma criação espontânea do povo amazônida, oriunda dos Bararis, a Festa do Sairé expressa à beleza e a sabedoria das camadas populares; expressão do forma simbólica, o modo de compreensão de um sistema social e como historicamente, a população age na reprodução e transformação desse sistema.
Após trinta anos de paralisação, os moradores da vila de Alter do Chão, buscando resgatar uma tradição da cultura popular, fizeram reviver o Sairé, já com cunho folclórico e nome de Festa do Sariré.
Assim, mesmo se objetivando preservar o tradicional, o Sairé, hoje, é tido mais como festa folclórica, entretanto para o ramo da comercialização. Essas mudanças vem provar o processo dinâmico da cultura popular e a mudança de significado que ocorre no momento em que se altera o contexto dos eventos culturais que são produzidos.

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
ALVES, Ìsidoro. O Carnaval Devoto. Petrópolis, Vozes. 1978.
ARANTES, Antônio. O que é Cultura Popular. Coleção Primeiros Passos, 14ª Ed. São Paulo: Editara Brasiliense, 1990.
 BOSI, Alfredo. Cultura como Tradição, in: Cultura Brasileira: Tradição Contradição. Zahar/Funerte. Rio de Janeiro, 1987.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
FONSECA, Wilde Dias da. Santarém: Momentos Históricos. Artesanato Gráfico Tiagão. Santarém-PA. 1995.
PEDRO, Aquilino de. Dicionário de termos religiosos e afins. 10 ed. Aparecida: Santuário, 1999.


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