MALÁRIA NO MUNICÍPIO DE ITAITUBA:
Epidemiologia e aspectos sociais de 2000
a 2008.
Evilson
Costa Gomes[1]
RESUMO
As questões
que se apresentam neste trabalho, estão voltadas para melhor compreender a
malária e buscar alternativas de enfrentamento desse agravo, para que fortaleça
as estratégias de ação já existentes no município. Em Itaituba, a doença se
apresenta de forma endêmica, e como uma das enfermidades de maior acometimento
a saúde da população. Infecção de notificação compulsória e da atenção básica
de assistência a saúde, considerada por infectologistas e pesquisadores, como
doença negligenciada, Carecendo ações efetivas e eficazes de controle e de envolvimento direto dos
órgãos governamental e das entidades não governamental. O município por suas
características socioambientais favorece a circulação do plasmódio, estando
concentrada na zona rural, principalmente na zona garimpeira. Necessitando
manter assistência sistemática e consistente à população que moram ou que se
deslocam para zona de risco. A metodologia adotada, a pesquisa de campo,
qualitativa, com coletas de dados sobre a doença no município, e entrevista com
fontes orais.
Palavras-chave: Malária. Saúde. Assistência.
MALARIA
IN THE MUNICIPALITY OF ITAITUBA :
Epidemiology and social aspects 2000-2008 .
Epidemiology and social aspects 2000-2008 .
ABSTRACT
The issues presented in this paper are aimed to better understand malaria and seek alternatives for coping with this condition , to strengthen the strategies of action existing in the municipality . In Itaituba , the disease has an endemic form , and as one of the diseases most affected population health . Notifiable infection and primary care health care , infectious disease and considered by researchers as neglected disease , Lacking effective and efficient actions to control and direct involvement of government agencies and non-governmental entities . The municipality for its environmental characteristics favors the movement of the plasmodium , and is concentrated in rural areas , mainly in gold mining area . Needing to keep systematic and consistent population living or moving to the danger zone assistance. The methodology , fieldwork , qualitative , with data gathering on the disease in the municipality , and interview with oral sources .
Keywords : Malaria . Health Care .
Confira o Artigo completo:
1 INTRODUÇÃO
A malária é pesquisada
desde “priscas eras[2]”,
nas regiões tropicais e subtropicais, onde sua presença é frequente conforme
aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS 2007), Exigindo, enormes esforços de
instituições governamentais e não governamentais para controlar esta endemia,
que provoca grandes problemas socioeconômicos. Todavia, esta história é bem
digna de ser conhecida, porque em grande parte ela é a “própria história da
medicina tropical”. FAYAL, (1993)
Há dois mil anos antes de Jesus Cristo, na mitologia chinesa eram
descritos três demônios maláricos, um com martelo, outro com uma ânfora de água
fria e o último como uma fornalha, sendo responsável da tríade que caracteriza
a doença, (cefaleia, calafrio e febre). O acometido pela doença fica por vários
dias com estes sintomas e, impossibilitado de trabalhar.
Na
Amazônia brasileira, até mesmo pelas características ambientais e climáticas
alguns agravos permanecem como o maior empecilho à construção de um modelo de
Saúde e de qualidade de vida; no ano de 2001 o Ministério da Saúde informa que
a região Amazônica, aonde a malária vem assumindo proporção alarmante passa
neste momento, pela descentralização das ações de controle de endemias, passa
da esfera federal aos níveis estadual e municipal.
Objetiva-se
também com este trabalho conceber a que ponto a população que vive e trabalha
na área de risco, conhecem as causas da doença e se fazem uso de medidas
preventivas, seja: individual ou coletiva, para prevenir-se da infecção. Apresentar a comunidade acadêmica e a
sociedade itaitubense, um documento concernente a esse agravo em uma abordagem
“ontológica[3]”
histórica, e, da realidade atual dessa importante endemia.
A metodologia empregada está voltada para o enfoque fenomenológico
da hermenêutica para a interpretação dos
depoimentos juntos aos pacientes que já contraíram ou estão em eminência da
malária e ainda através da pesquisa de campo, delineada por fontes orais e
informantes que trabalham no controle da malária. A metodologia e pesquisa de
campo, os depoimentos e interpretações dos mesmos, a conclusão o resultado da
pesquisa.
2 REGISTRO HISTÓRICO DA MALÁRIA NO MUNDO
Há 400 anos antes de Jesus Cristo, escritos gregos sobre medicina
separavam as febres em dois grupos, contínua e intermitente. Nesta época, os
miasmas[4] eram
evidentes na ocorrência em doenças onde o homem não encontrava explicações
consistentes, atribuindo a magia negra, espíritos maus, influência maléfica dos
deuses terrenos e celestes. “Em Roma, a população rendia homenagens à deusa
febre, temendo a sua ira”. (FAYAL,1993)
A intermitente[5] era
dividida de acordo com a periodicidade em cotidiano, e assim conhecida como
terçã, quartã, sendo descrita também por Hipócrates a febre semiterçã, onde sua
letalidade em comparação com as demais era notória. Platão, Terêncio, Cícero e
outros relatam as mesmas observações feitas por Hipócrates, nas quais parece
haver indicação de uma febre com periodicidade.
Nos anos, 129 – 118, antes de Cristo, VARRÃO por observação dos pântanos
relata: “se desenvolvem certos animais minúsculos, invisíveis aos nossos olhos,
os quais, transportados pelo ar, atingem o interior do nosso corpo através da
boca e do nariz e causam moléstias que são difíceis de serem eliminadas” (Id.Ibid).
Porém, próximo ao ano 100, Colunella não recomenda a habitação nas redondezas
de um pântano devido ao fato de que esses “sempre desprendem vapores
pestilentos e venenosos durante o calor e nesses se criam animais armados de
ferrões traiçoeiros que voam sobre nós em grandes enxames (...) que transmitem
muitas vezes moléstias ocultas, moléstias cujas causas mesmo os médicos não
podem compreender perfeitamente”. (Id. Ibid)
Tempos se passaram e, gradativamente, houve uma tendência a se dar explicações
mais racionais, para estas moléstias miasmáticas, e para os quais gregos e
romanos formularam hipóteses etiológicas[6] que
diziam respeito a febres intermitentes com os terrenos pantanosos, a água dos
pântanos e seus vapores, juntamente com os aspectos estacionais e topográficos
da doença, marcando o início da epidemiologia em Roma.
Por
mais de 1500 anos, a malária foi uma das principais causas de morte da
população, principalmente na Roma antiga. Pois, não tinham os avanços necessários
da medicina nesta época que permitisse conhecer a fundo as causas, a
epidemiologia da infecção, para então, implementar alternativa eficaz para
amenizar as perdas humanas e econômicas. No entanto, a evolução da incidência
da malária e sua dispersão no mundo, foram mais rápidas e, estão inerentes as
colonizações e a fixação de moradia próxima a rios e igarapés, em pequenos
povoamentos.
Conhecer
as causas e a “etiologia” demorou bem mais tempo, só se conseguindo no final do
século XIX, especificamente em 1880, quando o médico do exército Francês Charles
Louis Alphonse Laveran, trabalhando na Argélia, foi o primeiro a observar e
descrever parasitas da malária no interior de glóbulos vermelhos humanos. A
partir de então, se conheceu a causa da enfermidade e as definições quanto às
espécies parasitárias da malária.
2.1 As fases históricas do combate à
malária no Brasil
No
Brasil, a malária é objeto de preocupação das autoridades sanitárias desde o
século XIX, passando por várias estratégias de combate. Os registros indicam
que, em 1889, já se regulamentava os serviços de saúde dos portos para o
combate as endemias. Osvaldo Cruz, médico sanitarista foi considerado como um
dos principais pesquisadores, sendo uma das autoridades sanitárias de
referência das atividades de combate ao mosquito e de várias estratégias de ação
de sua época.
No
início do século XX, começavam-se os estudos, objetivando definir procedimentos
destinados a proteger às populações residentes em áreas de transmissão da
malária.
Os
registros indicam que, em 1889, já se regulamentava os serviços de saúde dos
portos para o combate as endemias. (MS, 2006)
Na
época da segunda grande guerra, uma preocupação tomou conta dos governantes em
relação à saúde, à necessidade de alternativas para manter erradicado o
mosquito era evidente e urgente. Considerando que as tropas de ambas as
alianças, sofreriam baixas em consequência da doença, nesse momento entra em
sena o pesticida DDT, para aplicar nas paredes das casas e matar o mosquito que
fosse repousar, paralelo a esse trabalho. Recomendava utilizar quinino como profilaxia
das pessoas ‘sãos’ e, anos mais à frente o sulfato de cloroquina, que passou a
ser empregado em larga escala pelos ricos, pois o acesso a esta droga não
estava ao alcance de todos.
Do
ponto de vista conceitual, há consenso a respeito de que os problemas
representados pela malária já não comportam mais soluções que estabelecem para
todas as situações endêmicas, um único conjunto de objetivos, estratégias e
ações de combate.
A
experiência do esforço de erradicação demonstrou que diferentes situações
demandam o estabelecimento e a aplicação de distintos objetivos e medidas de
controle e que elas devem estar ajustadas às características epidemiológicas e
entomológicas da endemia, em cada local onde a malária se transmite.
Em
outubro de 1992, em Amsterdã, na Holanda, a conferência interministerial
patrocinada pela OMS, recomendou a adoção de uma nova estratégia global de luta
contra a doença, com base na realidade epidemiológica e social local, com
incorporação de outras medidas de controle adequadas a cada situação, ação
multissetorial para redução de influência de fatores de risco de natureza
socioeconômica, cultural, política e ecológica e participação ativa da
população em geral.
O
principal objetivo da luta contra a malária passa a ser o homem e não mais o
mosquito, na medida em que se busca primeiramente prevenir os casos graves e as
mortes causadas pela doença. O Controle Integrado da Malária, como uma ação
conjunta do governo e da sociedade dirigida para a eliminação ou redução dos
riscos de morrer ou adoecer de malária, é a nova orientação da luta contra a
doença adotada pelo Brasil em consonância com as recomendações da Conferência
de Amsterdã.
O
princípio estratégico fundamental das ações de controle da malária no Brasil
consiste na adoção do diagnóstico precoce e no tratamento imediato dos casos da
doença, prática geral do controle e na escolha seletiva de objetivos,
estratégia e métodos específicos de combate, ajustados a características
particulares de transmissão, existentes em cada localidade. Em virtude disso, e
da diversidade das situações maláricas existentes no território nacional,
“torna-se impossível definir objetivos e estratégias válidas para todas as
situações e regiões”. (MS, 2006).
Na
região Endêmica[7],
em função da dificuldade de reduzir os fatores de risco de ordem social e econômica,
determinantes da incidência da doença, o que tornaria praticamente impossível a
erradicação da endemia na região, surge então, a necessidade de mudança dos
objetivos dos programas de luta contra a malária na Amazônia, com consequente
alteração das estratégias a serem adotadas.
Além
do diagnóstico precoce e o tratamento imediato dos casos, a estratégia do Controle
Integrado da Malária prevê a aplicação seletiva de medidas antivetoriais,
orientadas para cada área específica que sejam de baixo custo, viáveis para que
se possa obter uma eficaz, significativa e permanente redução da densidade de
anofelinos de uma determinada área.
As
medidas antivetoriais disponíveis compreendem o manejo ambiental, o tratamento
químico do domicílio (borrifação intradomiciliar com inseticida de efeito residual),
o tratamento químico de espaços abertos que compreendem as borrifações
espaciais com aplicação de inseticida a Ultra Baixo Volume (UBV) e nebulizações
térmicas (fumacê), além do tratamento dos criadouros.
É
importante ressaltar que todas essas medidas têm grande aplicabilidade no
controle de vetores quando indicadas com absoluta precisão. A avaliação
entomo-epidemiológica é de grande importância na seleção e indicação nas
medidas a serem utilizadas.
2.2 Epidemiologia da
malária na região amazônica
No
tocante a doença, a malária divide o território brasileiro em duas áreas: A
região Amazônica constituída pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão,
Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e a região extra-amazônica
constituída pelos demais estados da federação.
O Histórico da malária na região amazônica tem o Estado do Pará como um
dos principais responsáveis pela incidência de casos, causado pelos projetos de
grande impacto na natureza. Construção de estradas, como: Transamazônica e
Cuiabá/Santarém, barragem de Tucuruí, projeto Jarí, na década de 1960 e 1970 que
transformaram o meio ambiente e, proporcionaram a migração predatória, atraindo
pessoas de todas as regiões brasileiras, conforme mostra as ilustrações abaixo:
Concomitante, aos projetos de “desenvolvimento” da Amazônia e do Pará,
não se pode esquecer que a atividade garimpeira, contribuiu sobre maneira com esses
números. Em dias atuais, juntamente com os projetos de assentamentos e a
garimpagem é das atividades que tem a maior relação com a circulação e
transmissão da doença no Estado e no município de Itaituba.
Dos 143 municípios do Pará, até o
ano de 2002, 32 representavam 65% dos casos e estavam classificados como
prioritários em parâmetro de avaliação do Ministério da Saúde. Em 2007, apenas 15 destes municípios se
inclui nesta referência por seu elevado número de casos no ano; destes
Itaituba, classifica-se em quarto lugar, que para o MS, o considera como de
alto risco, sendo prioritário para ação de controle. (MS, 2008).
O mosquito da malária não representa apenas perigo e ameaça a saúde do
povo que mora, trabalha ou visita a Amazônia brasileira. Segundo os músicos:
Armando de Paula e Eliakin Rufino, ele tem sua função e importância ecológica,
na preservação do meio ambiente. Inibindo a agressão da selva pelo predador natural
que é o homem. A música abaixo retrata o pensamento do autor referente ao
assunto.
Hoje quem defende a Amazônia, é o mosquito da malaria,
se não fosse esse mosquito, a floresta virava palha, salve, salve, salve ele, viva
a sua febre incendiária, o maior ecologista da Amazônia, é o mosquito da
malária, não adianta a SUCAM, jogar DDT na sua área, super defensor da Amazônia,
é o mosquito da malária (RUFINO, 2008)
2.3 Histórico
da malária no município de Itaituba
O
município de Itaituba está Localizado na região Sudoeste do Estado do Pará, com
área territorial de 65.565 km2 e população de 118.403 pessoas, (IBGE 2007). Em dados recentes, o
Diário Oficial da União, em publicação do dia 29/08/2008 estima que a população
do município para 2008 seja de 124.868 pessoas. (DOU, 2008).
A economia atual é bastante diversificada,
baseada na extração mineral, na indústria madeireira, na agroindústria, na
agricultura familiar, no comércio formal e informal, através dos servidores
públicos, aposentados do INSS e de outras atividades correlatas.
A História da malária[8]
no município de Itaituba com maior expressividade começa por volta da década de
1950, com a chamada “corrida do ouro” nos garimpos do Rio Tapajós e seus
afluentes. Por quase um século desde a sua fundação em 1856, a cidade de
Itaituba, apresentava ser uma pequena vila, pacata e não representava
preocupação e notoriedade na dinâmica da transmissão da doença.
O fluxo migratório que se inicia com a febre
do ouro na década de 1950, se intensifica com abertura das rodovias federal BR
163 e 230, incluem-se também a estrada Transgarimpeira que corta quase 200
quilômetros de selva, margeando os garimpos, permitiu e facilitou o acesso e a
vinda de pessoas de outras regiões do país, em busca de novos horizontes.
Segundo o Sr. Manoel Lauro Lajes de Mendonça
(In Memorian), quem adoecia de malária por volta do ano de 1967, valia-se de
remédios caseiros ou da prescrição do balconista da farmácia para se tratar, pois
não tinha atendimento publico gratuito, só na cidade de Santarém, que nessa
época ainda não tinha transporte regular neste trecho e demoravam em média três
dias em pequenas embarcações para chegar lá.
A assistência aos doentes de malária no
município era precária ou inexistente até inicio da década de 1980. A partir da
referida data a SUCAM, Órgão oficial responsável pelo combate às endemias,
começa a se estruturar e instala o primeiro laboratório para diagnosticar a
doença e realizar o tratamento dos doentes. Situado à Avenida Getulio Vargas 137,
funcionava o hospital do SESP, em data anterior.
Segundo o agente de saúde Herculano dos
anjos pereira, um dos mais antigos em atividade, nos confirma que: toda
estrutura que passou a funcionar aqui em Itaituba, como pessoal, equipamentos,
transportes e os insumos que se utilizava vinham do Distrito da SUCAM, da
cidade de Santarém, que fazia a cobertura da assistência de toda região. A primeira
equipe a ser formada no município data do ano de 1985, através de concurso
público, realizado pelo DASP que era um órgão que fazia esses concursos do
governo naquele tempo.
O trabalho que as equipes realizavam tinha
como objetivo erradicar a malária, matando o mosquito, utilizando o DDT, impregnando
nas paredes das casas com equipamentos de aspersão.
Afirma também, Getúlio Ferreira de Souza,
agente de saúde que trabalhava na função de piloto de voadeira, para cumprir a
programação do semestre sofriam muitas dificuldades e privações, não só pela
falta de alimentos e insumos básicos e dos equipamentos sem condições de
operacionalização. Más, também pela situação íngreme que enfrentavam, subir
cachoeiras e corredeiras no alto Rio Tapajós, em voadeira com canoa frágil e
pequena, correndo risco de vida. E que, num certo momento quando do retorno da
área de trabalho, estavam com a hélice da voadeira avariada a alternativa foi o
improviso, confeccionou uma hélice de madeira para permitir o retorno. Naquela
época na região não tinha telefone, a comunicação se limitava a poucos rádios
amadores na zona rural para solicitar peça de reposição ou ajuda da SUCAM.
Com a formação da primeira
equipe de agentes de Saúde de Itaituba para o combate a malária no Polo, pois
outros municípios também, como Aveiro, Rurópolis e Placas, eram cobertos por
essa mesma equipe. Em parceria com a turma que vinha de Santarém, em torno de
trinta pessoas. Nesta época, a malária não dava trégua e o trabalho era voltado
para matar o mosquito. O homem ficava em segundo plano, filas enormes se
formava que dobrava a esquina do Samuca só para fazer a lâmina ou “furar o
dedo” como algumas pessoas costumam falar.
Neste período também tinha muita gente de
fora por aqui, dos garimpos tiravam muito ouro, os aviões fazia fila pra
decolar no aeroporto e pousar, pois, a cada minuto estava chegando outro avião.
Preocupado com a grande incidência de casos
da malária, o governo Sarney, no ano de 1986, deflagrou uma campanha que ficou
denominada como: “Operação Impacto” essa ação ocorreu de outubro a dezembro, daquele
ano. E contou com parte do efetivo do Exército, Marinha e Aeronáutica,
somando-se a força civil que existia, forma-se um pelotão de pelo menos 300
pessoas, com poder de fogo para eliminar o transmissor da doença. No quadro
abaixo a estrutura utilizada na operação.
A rede de laboratórios e assistência aos
pacientes limitava-se a cinco laboratórios, distribuídos da seguinte maneira:
na sede do município, em Moraes Almeida, Novo Progresso, Cuiú-Cuiú e o último
no garimpo Pista Eldorado, que dariam o suporte ao exame das lâminas coletadas
em campo pelas equipes da operação.
A Estrada
Transgarimpeira, que fora construída pela Caixa Econômica Federal visando o
controle da compra do ouro no ano de 1984, liga o Distrito de Moraes Almeida a
Crepurizão, povoado a 92 quilômetros, dentro da selva. Teve uma grande
contribuição, tanto, com a produção do ouro, pois, vários garimpos encontram-se
nas suas margens, como também com a malária. Permitindo o acesso via
transportes terrestres que antes só era possível de avião ou como diz o
garimpeiro, “varando”, levando vários dias para chegar ao destino.
Terminado o período previsto da Operação
Impacto, o saldo da ação de acordo com os relatos e avaliação do servidor Claudeci
Silva Costa Nascimento, o custo não pagou os benefícios e o que ficou foi
vários equipamentos quebrados, pela inexperiência de seus condutores e a doença
continuou da mesma forma como se iniciou o trabalho, assolando as pessoas
expostas na área ao risco de adoecer.
A SUCAM, órgão do governo responsável pelo combate às endemias, tinha uma
disciplina de adestramento similar ao militar, como prova é que a Canção do
Sanitarista, ensinada em treinamento de combate a malária, para que o
funcionário pudesse se identificar e abraçar a causa com afinco e nacionalismo.
No ano de 1987, o governo federal amplia a
equipe de combate às endemias, ofertando 100 vagas para Itaituba, para o recente
criado cargo de Guarda de Endemias, também conhecido como “mata mosquito”.
Através de um contrato temporário de três meses, como a procura era pequena não
se completou a totalidade das vagas, no período predeterminado. Sendo necessária
a sua prorrogação para completar o quadro, naquele tempo às pessoas que vinham
em busca de trabalho não queriam saber de ser empregado, preferiam ir para o
garimpo, dizia alguns que o salário era pouco e ainda por cima atrasava o
pagamento, e que no garimpo ganhavam-se muito mais do que como assalariado.
Em dezembro de 1990, o então Presidente da
Republica Fernando Afonso Collor de Melo, suprimiu as siglas: SUCAM e SESP, e
criou a FNS, Fundação Nacional de Saúde, que mais tarde em 1988 passaria a sigla
FUNASA, sem mudança do significado.
Com o advento da conferência,
interministerial em Amsterdã na Holanda em outubro de 92, as estratégias de
combate à malária no município segue outra metodologia. “Deixa-se o mosquito em
segundo plano e o homem passa a ser a prioridade”. Através de: diagnóstico
precoce do doente, tratamento imediato, educação em saúde, participação
comunitária, controle seletivo de vetores, controle integrado das ações, e que
conveniados e não conveniados no âmbito dos SUS, estão inseridos no processo de
controle da malária.
Em Julho de 1999, obedecendo ao protocolo do
controle integrado ocorre a descentralização da estrutura da saúde, passando do
governo federal, para estado e municípios. Onde a FUNSA, para cuidar apenas da
saúde das populações Indígenas, Quilombolas e, Ribeirinhos. As portarias do
ministério da Saúde, nº 1.399 de 15 de dezembro de 1999, define os critérios e
as competências em relação a este processo de gerência. A portaria nº 1172
regulamenta a política de investimentos. Cabendo as Secretarias Estadual e
Municipal de Saúde conduzir o controle de endemias, e demais agravos visando à
municipalização definitiva. Que em data atual, praticamente todos os serviços
de saúde é da competência direta do município, tendo o a SESPA, como parceira e
de ação complementar.
2.4 Epidemiologia da malária
no municipio de itaituba
A
malária, ainda hoje, é uma das doenças mais prevalentes no globo terrestre,
ocorrendo em cerca de 100 países, principalmente na faixa intertropical. Quarenta
por cento (40%) da população mundial está sob algum risco de contrair malária. (OMS,
2004)
A
Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a malária o maior problema de
saúde pública em muitos países, principalmente naqueles em desenvolvimento.
Estima-se que cerca de 300 a 500 milhões de pessoas sejam infectadas a cada
ano, sendo os países da África responsáveis por 90% destas pessoas. A
mortalidade é bastante expressiva e chega a ocorrer mais de um milhão de
óbitos, principalmente em crianças menores de cinco anos e gestantes. (Id.
Ibid)
Conceituar a malária não é uma tarefa muito
simples, em função de sua dinâmica, mas podemos caracterizá-la desta forma. “Doença
infecciosa, de evolução aguda, causada por um protozoário do gênero plasmódio,
transmitida ao homem por mosquito fêmea do gênero anófeles e, caracterizada
pela exposição das pessoas ao risco de adoecer”.
A
malaria é uma doença de notificação compulsória, de diagnóstico: laboratorial,
clinico e epidemiológico e, da assistência básica dos serviços de saúde.
Apresenta ser uma doença um tanto negligenciada pelas autoridades do SUS -
Sistema Único de Saúde. Demonstrada pela pouca notoriedade e expressividade na
mídia de um modo geral. Mas que causa grandes perdas socioeconômicas aos
enfermos e ao país, e levando se em conta que o plasmódio falciparum evolui
para um quadro clinico grave e complicado, o paciente pode falecer em poucos
dias.
No programa
de cadastro de localidades, SISLOC sistema de localidades, que serve para base
de avaliação de todas as endemias, o município de Itaituba possui em seu banco
de dados 932 localidades, 34.638 imóveis, destas localidades, 416 apresentaram
casos de malária no ano 2000, representando 44,6% de positividade de todas as
localidades.
No ano
em curso até a data de 31 de outubro 342 localidades, apresentaram notificação
de casos. Sendo 96 destas localidades da categoria garimpo, com um porcentual
de positividade 28% das localidades positivas. (SIVEP/SISLOC, 2008).
No gráfico a seguir:
comparativo anual da incidência de positividade autóctone, dos anos: 2000 a
2008.
De características e peculiaridades favoráveis para proliferação do
transmissor, como para a circulação do plasmódio, a localidade: Água branca,
garimpo apresenta dados de 2008, prevalência de 42,9%, da espécie falciparum.
Possibilitando o aparecimento de casos grave da doença, e o risco de morte.
O contingente de pessoas envolvidas no processo de construção do SUS seja
através das entidades representativas da sociedade, gestores, profissionais,
fazem deste um momento importante na história da saúde brasileira. Somos hoje,
sem dúvida, o maior movimento social e cujo objetivo é construir um modelo de
saúde que atenda a todas de forma eficiente e eficaz. (MS, 2006)
3 FATORES QUE CONTRIBUEM COM A TRANSMISÃO DA MALÁRIA
Espécies de malária que acometem os humanos no mundo: malária vivax; malária
falciparum; malária Malariae e; malária Ovale. A espécie Ovale, não se encontra
no Brasil, esta espécie predomina na África. A espécie Malariae, por sua
sensibilidade a cloroquina tem pouca incidência no município. As espécies,
Falciparum e vivax são as espécies predominantes, com uma pequena elevação do
plasmódio vivax em relação à Falciparum. Porém o plasmódio falciparum em alguns
garimpos tem maior incidência. Nesse caso o risco de ocorrer malária grave é
muito maior, por se tratar da espécie considerada como “maligna.” Com a vivax
geralmente não evolui para esse quadro.
O homem é o principal reservatório da doença, podendo ficar por anos com
o plasmódio vivax e Ovale alojado no fígado. Formas latentes tecnicamente
chamadas de Hipnozita e, se manifestar após anos da infecção primária. Esta
forma causa as recaídas, do vivax no Brasil. Macacos superiores podem albergar
o plasmódio Malariae, más, não há comprovação de transmissão deste para o homem
até o momento.
Fatores de risco primários: são os relacionados com a
transmissão natural, homem doente X mosquito X homem são. Compõem os três elos,
da cadeia de transmissão. Se um deles faltar na haverá malária. Conforme a
ilustração a seguir, apresentando os componentes da transmissão.
3.1 Estrutura física para assistir os doentes de málaria no munícipio
em 2008.
A estrutura física para o atendimento de Itaituba que
atende os casos de malária. Localizados em vinte e sete unidades de saúde, dessas
somente em funcionamento vinte e um, zona urbana apenas quatro unidades, e as
demais na zona rural. Com funcionamento diários de segunda a sexta, das 7:h30
as 17:h30, as quatros unidades na sede, nos bairros: 01 Bom Remédio e 03 no
bairro Liberdade.
O setor de endemias fica localizado nos fundo do Hospital Municipal, onde
o funciona o Laboratório de Revisão que consiste em fazer o controle de
qualidade de diagnóstico, revisar 100%
das lâminas positivas e 10% das negativas, vinda dos laboratórios de campo. Ao
final de cada mês esse material revisado segue para o LACEN, Laboratório
Central em Belém, fazer nova revisão. O laboratório também realiza a
manipulação e distribuição de todos os reagentes que se utiliza na rotina dos
laboratórios.
Há também o laboratório de entomologia que realiza atividades de estudos
e pesquisas inerentes a biologia dos insetos. Com importância entomo-epidemiológica,
das doenças endêmicas. Como: malária, dengue, Leishmanioses, doença de chagas e
outras. Concernente as formas imaturas e aladas.
Os demais laboratórios da zona Rural totalizando dezessete unidades
distribuídas em localidades estratégicas. Na tabela a seguir Localização desses
laboratórios.
No tocante as unidades de saúde da zona rural, com exceção dos
Laboratórios de: Moraes Almeida, Miritituba e Crepurizão. Todos os outros
funcionam de forma improvisada. Em pequenos espaços cedidos pelas comunidades
ou particulares e, fora do padrão exigido pelo Ministério da Saúde. Em alguns
casos sem o mínimo de conforto, pro paciente e o microscopista.
De acordo com o Controle Integrado da Malária CIM, toda a atenção básica
e, conveniados no âmbito do SUS, devem notificar e tratar pacientes da doença.
Más, na prática não é bem assim que funciona. Alguns acham ainda, que a malária
é um problema da SUCAM, sendo que esta sigla deixou de existir em 1990. A
descentralização dos serviços de saúde define a municipalização e as competências
das três esferas de governo.
3.2 Recursos humanos do município
O Sistema Único de Saúde – SUS concentra as suas ações nos seguintes
programas PACS, Programa de Agentes Comunitários de Saúde e PSF, Programa de Saúde
da família. Segundo a coordenadora do programa 254 Agentes Comunitários de
Saúde nos dois programas, sendo, que apenas 120 desse efetivo são lotados na
zona zural e, no contexto malária 90% desses agentes moram e trabalham em
localidades fora da zona de risco, sua participação no controle da incidência
de casos é muito pequena. Mesmo estando todos capacitados para atuar frente a
um caso suspeito da doença. O controle direto da malaria depende dos
profissionais do cargo de microscopista.
Importante frisar que esta categoria de profissionais, ganhou notoriedade
e importância em função da grande contribuição que deram na redução da
desnutrição das crianças subnutridas do nordeste brasileiro, na década de 1990.
A partir de então, o Agente Comunitário de Saúde, ACS se expandiu para todo o
País. Hoje assume uma gama de atividades preventivas priorizando os agravos.
No ano de 2007, a gestão municipal, através de concurso público ofertou
23 vagas para o cargo de microscopista, profissional que lida diretamente com o
diagnóstico e tratamento da malária. Amenizou em parte, mas, não resolveu a
oferta do serviço de assistência aos doentes. Haja vista, que esses
funcionários residem na cidade de Itaituba, os critérios do edital do concurso
não previam que os aprovados morassem nas comunidades de circulação e
incidência de casos da doença.
Causou grande impasse para os ingressantes, como para a coordenação das
endemias do município. A descontinuidade do trabalho na comunidade prejudica as
ações de controle, alem do alto custo com deslocamentos desse profissional para
a área de trabalho.
A Secretaria Municipal de Saúde, tem se estruturado para assumir de vez essa
endemia, executando ações de controle em parceria com a Secretaria Estadual de
Saúde SESPA, com o propósito da descentralização definitiva tem recebido do
Ministério da Saúde. Viaturas: 01 carro e 10 motos, exclusivamente para o controle
desse agravo. Outros equipamentos como microscópios 06 e 01 grupo gerador.
A incidência dos casos de malária notificados anualmente, conforme se apresenta
no gráfico, demonstra regularidade e pouca oscilação no período avaliado.
Observa-se, comparando a incidência de casos anual, o ano em curso se continuar
com esta tendência apresenta fechar com menor índice em relação aos demais anos
avaliados.
4 DIAGNÓSTICO
DA SITUAÇÃO ATUAL DA MALÁRIA E SEUS AGRAVANTES
4.1 Projetos de estudos da malária
Projeto
de pesquisa voltado para o controle e avaliação da qualidade e oferta dos medicamentos
antimaláricos oferecidos para as pessoas exposta a risco de adoecer, foram e
estão sendo desenvolvidos no município.
Projeto,
RAVREDA Rede Amazônica de Vigilância da Resistência as Drogas antimaláricas, RAVREDA,
criado em 2001. Inicialmente com o propósito de monitorar avaliando a
resistência das drogas oferecidas gratuitamente para tratar a doença, em toda
região Amazônica. Hoje atua em todos os componentes do programa da malária.
Desta rede participam Brasil e outros países da America do Sul, como: Bolívia,
Equador, Colômbia, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Coordenado regionalmente
pela Organização Pan-Americana de Saúde e é apoiado financeiramente pela United
States Agency for International Development (USAID). No Brasil a coordenação
está a cargo da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde.
Vários
estudos foram realizados ao longo desses anos, e seus resultados contribuíram
subsidiando o Programa Nacional de controle da malária. No tocante a
terapêutica empregada e sua eficácia. No esquema da associação de quinina +
doxiciclina, por exemplo, realizado nos Estados do Amapá, Amazonas e Pará comprovou-se
que a eficácia estava inferior a 90%, do recomendado pela Organização Mundial
da Saúde. Culminando com mudança de esquema e sua substituição, para os
derivados da Artemisina. A ser empregado na espécie de malaria Falciparum não
grave.
Estudos
de adesão voltados para o plasmódio vivax também foram realizados, com
cloroquina + primaquina em sete dias. Os estudos realizados no Pará e Mato
Grosso mostraram boa adesão ao esquema. Em torno de 95% das pessoas
entrevistados puderam ser considerados aderentes ao esquema. Não sofrendo
nenhuma alteração de conduta do esquema. (MS, 2007)
A RAVREDA instalou em Itaituba, no setor de endemias da SESPA, em 2005,
um minilab, para avaliar a qualidade dos antimaláricos, distribuídos nas
unidades de saúde municipal instalados em garimpos. A medicação para chegar a
Itaituba tem o seguinte roteiro: sai do laboratório Osvaldo Cruz, Far-manguinhos
no Rio de Janeiro onde são produzidos, passa pelo Almoxarifado central da SESPA
em Belém, que repassa uma cota para a 9º CRS, sede em Santarém via sedex e, em
seguida para Itaituba de acordo com a epidemiologia e notificação de casos do
mês anterior. Via barco ou transporte terrestre.
A partir de Itaituba, segue para os laboratórios de campo. Que retornam
algumas amostras de lotes diferentes para realizar o teste de eficácia. Dos
testes realizados em Itaituba em 2006 e 2007, para comprovar eficiência de
ação, apresentaram condições satisfatória de uso. Apesar da maratona, por qual
passa as drogas até o destino final, seja pela alta temperatura e outros
fatores, não sofreram comprometimento na qualidade. Maio de 2007, o minilab que
só existe duas unidades no país, Macapá e Itaituba. Em maio de 2007, o minilab
de Itaituba foi desativado por motivos técnicos.
O funcionamento do minilab, que saiu de Itaituba hoje concentra no Instituto
Evandro Chagas em Belém, IEC. Quando necessário realizar quaisquer avaliação dos
antimaláricos quanto a sua eficácia as amostras são encaminhadas para o
referido Instituto.
Outro Projeto em atividade na região, voltado para o controle da malária,
diz respeito a Estudos Moleculares e Imunoepidemilógicos desenvolvido pela
Universidade Federal do Estado do Pará (UFPA) sede em Belém, coordenado pelo
Dr. João Guerreiro e sua equipe de pesquisadores, em parceria com os municípios
de abrangência da BR-163, Itaituba, Novo Progresso, Jacareacanga e Trairão com
finalidade de descobri os fatores genéticos do hospedeiro humano que participam
dos mecanizamos de proteção inata e específica da malária, e que possam
resultar em novas estratégicas para tratamento dos infectados e sua prevenção.
O Projeto é financiado pelo CNPq e o MS as etapas de estudos iniciaram em
de 2007. Porém ainda não se divulgou preliminarmente os resultados das
informações coletadas. Mas, o Projeto em si, apresenta uma grande expectativa,
pois, trará uma grande contribuição para o desenvolvimento de nova medidas para o controle da malária.
4.2 Terapêutica utilizada no combate a malária.
Vários esquemas terapêuticos são padronizados pelo MS e utilizados para
tratamento radical dos pacientes acometidos por diferentes espécies parasitarias
da malária. Tais como associação de comprimidos de cloroquina com 150mg associados
a comprimidos de primaquina com15mg adulto e 5mg infantil, essa associação de
comprimidos cura o doente acometido por malária vivax, em sete dias ininterruptos
de tratamento. Malária sem complicação.
Espécie como falciparum o esquema recomendado de primeira escolha é
associação de comprimidos dos derivados de artemisenina:
arthemeter+lumefratrina 140mg com o nome comercial coartem. O seu uso é
oferecido via oral, com intervalo de oito a doze horas em três dias de
tratamento, recomendando ao doente alimentar-se antes de sua ingestão.
Para o plasmódio Malariae, utiliza-se apenas a cloroquina 150mg em três
dias, por se tratar de uma espécie ainda sensível a esta droga não carecendo
associação a outros antimaláricos ou antibióticos.
Para o tratamento dos casos graves e complicados mais comum acontecer com
a espécie Falciparum, a conduta terapêutica recomendada, fica a critério medico
tendo como medicamentos os derivados de Artemisina injetáveis como primeira
escola, em quatro dias de tratamento.
Vale ressaltar que os esquemas e a conduta terapêutica que se utilizam
para o tratamento da malária obedecem a critérios de faixa etária, peso e idade
orientados e determinado pelo Ministério da Saúde.
4.3 Diagnóstico laboratorial da malária
Para diagnosticar um caso de suspeita de malária, primeiramente a
entrevista e a notificação em modelo próprio de sivep, com profissional da
atenção básica, ou pessoa treinada para tal, em seguida é realizado a assepsia
do dedo em algodão embebido com álcool, com lanceta picadora pontiaguda,
específica, o paciente sofre uma picada seca no vasto lateral do seu dedo
indicador da mão esquerda, com uma lamina de vidro devidamente limpa, absorve
duas gotas de sangue e espalha, aguarda a secagem do sangue, e começa o
processo de desemoglobinização, ou seja, utiliza os reagentes químicos básicos como giemsa e azul de metileno.
Após sete minutos nesse reagente de coração, estará pronto para ser feita
a leitura pelo microscopista em visualização microscópica das hemácias.
Finalizando, em aproximadamente em trinta minutos todo o procedimento. Apresentado
um resultado positivo ou negativo para a malária. Este é o método da gota
espessa utilizado na rotina do serviço de saúde do controle da malária, recomendado
pelo Ministério da Saúde em função da sua eficiência e baixo custo.
4.4 Imunotestes
Os imunotestes são testes rápidos para diagnosticar o caso de malária
através de reações antígeno-anticorpo, feito com gota de sangue de pessoas
suspeitas colocadas em fitas sensitivas de nitroceluloses impregnadas com
anticorpos monoclonais específicos dos plasmódios. O resultado é mais rápido e
prático ideal para regiões remotas onde não há laboratórios instalados,
dispensando o uso de energia elétrica, o uso de microscópico e do profissional
microscopista capacitado e a demora do resultado são menores.
A desvantagem no uso dos testes rápidos é que são importado de alto custo
e cotado em dólares, o resultado não apresenta a quantidade em cruzes, que é um
parâmetro de avaliação da gravidade da enfermidade no homem. Inviabilizando o
uso em larga escala no país.
5 METODOLOGIA E PESQUISA
5.1 A
pesquisa de campo
A pesquisa, nesta monografia, é uma pesquisa
de campo, qualitativa, cujas técnicas empregadas consistem, na coleta de dados,
bibliografia referente à temática, fontes orais, aplicando um roteiro
semi-estruturado junto à paciente que já contraíram a malária no município.
A investigação qualitativa
trabalha com valores, crenças, hábitos, atitudes, representações, opiniões e adéqua
a aprofundar a complexidade de fatos e processos particulares e específicos a
indivíduos e grupos. A abordagem qualitativa é empregada, portanto, para a
compreensão de fenômenos caracterizados por um alto grau de complexidade
interna.
Isto posta cabe apresentar as
características particulares apresentadas pela investigação qualitativa. O
universo não passível de ser captado por hipóteses perceptíveis, verificáveis e
de difícil quantificação é o campo, por excelência, das pesquisas qualitativas.
A imersão na esfera da subjetividade e do simbolismo, firmemente enraizada no
contexto social do qual emergem, é condição essencial para o seu
desenvolvimento. Através dela, consegue-se penetrar nas intenções e motivos, a
partir dos quais ações e relações adquirem sentido. Sua utilização é, portanto,
indispensável quando os temas pesquisados demandam um estudo fundamentalmente
interpretativo.
Haja
vista, que a pesquisa de campo está voltada ao grupo de pacientes e demais
pessoas que se encontram em áreas de risco de contrair a malária. Para
compreender os aspectos sociais do efeito dessa doença nos moradores do garimpo
Água Branca, e dos laboratórios instalado no centro de Saúde do Bairro Bom
Remédio e do Hospital Municipal. Para tanto um questionário semi-estruturado
foi aplicado, com perguntas onde a finalidade principal e descobri se os
depoentes possuem os conhecimentos formais sobre a prevenção contra essa
enfermidade, e, se participam de reuniões comunitárias, palestras, campanhas
que tratam do assunto proposto.
5.2 Depoimentos de moradores com suspeitas
de málaria.
Na
realização dos depoimentos os participantes são moradores do garimpo Água
Branca, que fica a 415 km, distante da sede do município, pelo alto índice de
casos gerado nessa comunidade, e principalmente neste ano, e também com
usuários que buscam atendimento nos laboratórios do Centro de Saúde do Bairro
Bom Remédio e do Hospital Municipal, no tocante a contraírem a malária.
Foram
ouvidas trinta e sete pessoas no período de 10 a 20 de outubro do decorrente
ano, na faixa etária entre 10 e 56 anos, e a maioria não tem o ensino
fundamental completo, todos relataram que já contraíram mais de uma vez a dita
doença, chegando alguns até mais de quinze vezes, e os que residem em área de
risco, o numero é ainda maior, um dado
alarmante, segundo a OMS.
Perguntados
sobre as espécies de plasmódio da malária que mais conheciam e contraíram as
mais citadas pelos depoentes foram a Falciparum e Vivax, ficando assim,
entendido que quase todos já apresentaram o caso das duas espécies.
Indagados
se quando estão com sintomas da malária buscam de imediato o atendimento
médico, a maioria afirmou que sim, que busca socorro médico devido o efeito da
doença, somente aqueles que moram no Garimpo Água Branca, que expuseram que
pela falta de transporte às vezes não procuravam o atendimento, e esperavam
ajuda pela SUCAM para evitar a ida para sede da cidade.
Outra
questão, se quando doentes seguem as instruções até o final do tratamento,
todos confirmaram que obedecem e tomam os medicamentos sugeridos. Mesmo
considerados por alguns como ruim. Também perguntados quais os sintomas que
mais lhes apresentam, várias foram citados como: Febre, dor de cabeça,
inflamação no fígado, fraqueza, tonturas, falta de apetite, vômitos, calafrios,
distúrbio mental, cansaço, dor no corpo, diarréia, gastura, dor na urina, visão
atrofiada e enjôo. No caso, da malária falciparum responsável pelo quadro grave
da doença pode até afetar o cérebro, citado como o distúrbio mental, podendo
levar o doente senão tratado a óbito.
Quando
adoecem a maioria responderam que não toma remédios sem o diagnostico do
laboratório, mais há quem faça a automedicação, usando drogas não recomendas
pela terapêutica oficial, comprando em farmácia, pois não agüentam esperar o
resultado do exame, também, alguns os declararam que usam remédios caseiros,
com chá e garrafadas, mais um número considerado não acreditam nesse tipo de
farmacologia.
Questionados
sobre que tipos de métodos de prevenção contra o mosquito transmissor da
malária que eles mais utilizam: o uso do mosquiteiro; o repelente; evitar áreas
de açude pelo fim do dia; tomar cachaça; usar roupas longas para dormir; uso de
baygon; tela protetora na casa para evitar a presença do mosquito; e uso de
remédios caseiros (pila-contra) e outros. Mesmo conhecendo todos estes tipos
profilaxia, fica claro que na prática não tais métodos preventivos não está sendo
usados pela maioria e como devem. Muitos citaram o uso do mosquiteiro, no
entanto, o seu uso não é freqüente e não gostam.
Ainda
que alguns dos tipos de métodos citados pelos informantes não sejam comprovados
cientificamente na prevenção. No caso, da cachaça, pila-contra, não é
recomendado como medidas preventivas pelo Ministério da Saúde.
Indagados
sobre a assistência ofertada pelo poder público no combate a doença, a maioria
respondeu que o serviço é bom, no entanto, no atendimento no garimpo Água Branco,
sofreu critica por devido o horário de atendimento no local, haja vista, que o
laboratório local, funciona somente em horário diurno. Mas uma minoria não acha
bom o serviço ofertado.
Ao
perguntar aos depoentes, sobre a participação dos mesmos, em reuniões comunitárias,
palestras, campanhas publicitárias, sobre a prevenção e controle da malária,
todos sem exceção, afirmaram que não participam de nenhuma atividade de prevenção da doença. E a quando
perguntado qual é órgão responsável pelo controle de endemias, principalmente a
malária, a maioria responderam que a SUCAM, e alguns a FUNASA, e um dos
entrevistados cita apenas o Posto de Saúde.
Com a
descentralização dos serviços de saúde, a partir de 1999, portaria ministerial
nº 1.399 de 15 de dezembro de 1999, passa a ser de competência do Sistema Única
de Saúde, sendo que ação de controle da malária está contemplada na atenção
básica dos serviços de saúde, compreendendo a rede publica e conveniados no
âmbito do SUS.
Ao
interpretar as respostas, dos entrevistados, percebe que a maioria mesmo
afirmando que os serviços prestados dos órgãos no tocante a prevenção do
combate da malária sejam bons, todos confirmam que nunca participaram ou
assistiram campanha publicitária sobre a temática. E os índices continuam elevados e no município. Por falta de campanhas que
integrem a comunidade numa participação significativas e eficaz para manter o
controle social da doença.
O
homem não pode se dissociar da natureza, diante disso é possível uma
convivência pacífica e harmoniosa com os insetos, desde que a natureza não
esteja em desequilíbrio, particularmente com anofelino, transmissor da malária.
Se o homem adentra o habitat dos insetos e este está sadio. Não haverá a
circulação do plasmódio ou do agente etiológico. Consequentemente a dispersão
da doença não ocorre.
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
elaboração dessa monografia é um inicio para uma discussão acadêmica sobre o
contexto sócio-histórico da malária no município de Itaituba, no que tange a
métodos preventivos e de combate eficaz da dita doença, e como o poder público
tem agido com ações de controle dessa endemia.
A
malária causada por um protozoário do gênero plasmódio transmitida às pessoas
através do da picada do mosquito anofelino fêmea infectada. E desde os primórdios
causa perda socioeconômica às sociedades em desenvolvimento. Porém os antigos
filósofos recomendavam que não houvesse habitação em próximas aos pântanos,
pois segundo eles, vapores pestilentos causavam moléstias, que mesmos os
médicos não sabiam explicar.
Mas
somente no século XIX, o médico franceses Charles Louis Alphonse Laveram, ficou conhecido pela descoberta da causa
da malária, pelo uso de microscópio e estudos que identificava protozoário, o
agente dessa doença que assolava a sociedade
até então.
No
Brasil até a década de 1940, a malaria era frequente na região nordeste e
sudeste, devido à concentração populacional serem maior nessas regiões, tendo
como o principal vetor anófeles gambiae vindo provavelmente da África Tropical,
carecendo por parte do governo um enorme esforço e apoiado pela Fundação
Rockfeller para erradicar este mosquito.
Com as
políticas adotadas de ocupação da Amazônia pelos governos militares a partir da
do inicio da década 70, com abertura da Transamazônica e dá Santarém Cuiabá,
construção da hidrelétrica de Tucuruí, e os outros projetos de grandes portes,
desencadeou um processo de migração desordenado, culminando com a dispersão de
doenças e agravos como a malária.
Com
aceleração da atividade garimpeira no município de Itaituba, e a povoação de
áreas de risco, abertura de grande clareira e desmatamento para atividades
auríferas e agrárias. Possibilitaram surto e epidemias incluídos a malária,
levando a óbitos a muitos.
Desde
então, as políticas públicas e estratégias voltada para a erradicação do
mosquito através de praguicidas como o DDT, deixando o homem em segundo plano e
também uma forte agressão a natureza, não se alcançando os objetivos de
esperados. O que se saber hoje a respeito dessas atividades nessa época, que
parte dos funcionários que impregnaram as casas com este produto, estão intoxicados
e com a ação de reparo a saúde na Justiça Federal.
Nos
dias atuais a malária continua sendo um problema de epidemiologia e aspectos
sociais, causando perda socioeconômica ao município. Tendo em vista que a mesma
está dispersas em toda região de garimpagem, tanto na zona Transgarimpeira com
a Bacia do Tapajós e seus Afluentes. Portanto, trata-se de uma doença
epidemiológica de grande abrangência em Itaituba.
Os
seus aspectos sociais estão presentes no agir, no pensar, no sentir, dos
moradores em áreas de risco, com maior incidência da malária. Nos dados
coletados, as pessoas com entre os 20 e 40 anos são os mais acometidos pela
doença, deixando claro, os que estão nessa faixa etária, são os que ocupam a
cadeia produtiva, como a garimpagem e em menor proporção o que trabalham na
agricultura familiar.
Diante
dos dados coletados da situação epidemiológica de: 2000 a 2008, período
avaliado para esse agravo, e, até mesmo para uso dessa pesquisa. Constatou-se
que em média anuais mais de seis mil pessoas adoecem por malária, na sua
maioria de baixo poder aquisitivo, e que vivem em condições precárias e
degradantes, com pouca ou sem nenhuma instrução de ensino. Caracterizando a
doença como negligenciada.
Nos
depoimentos colhidos nessa pesquisa, constata-se que os moradores expostos possuem
os conhecimentos básicos de tipos e métodos de prevenção contra a malária, mas, no entanto, não os praticam no seu
cotidiano.
No
entanto, as políticas públicas voltada para a o controle de doenças endêmicas e
epidemiológicas no município de Itaituba não tem contemplado as pessoas que
estão em áreas de risco de incidência da malária, com palestras, campanhas
educativas, e a política de saúde em educação.
Portanto,
são necessários maiores investimentos com estruturação dos serviços de saúde,
como: A implantação de unidades de saúdes nas áreas de riscos a expansão do
programas de Agente Comunitário de Saúde – A.C.S, visando ofertar melhor
qualidade de serviço e por conseguinte, proporcionar melhor qualidade vida. Sabendo-se
que só através de políticas de educação em saúde, com métodos de prevenção mais
eficaz de ser compreendidos pelos populares. Na tentativa de um controle da
malária sistemático, conforme o pensamento e opinião em relação às medidas que
devem ser implementadas nessa incansável luta contra os problemas sociais que
nos afligem.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério de Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde
Epidemiologia e serviço de saúde: volume 15 – nº. 03
Julho a setembro de 2006
BRASIL, Ministério de Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde
Epidemiologia e serviço de saúde: volume 15 – nº. 4 outubro a
dezembro de 2006
BRASIL, Ministério de Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde Manual de terapêutica da malária,
Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde 2001.
BRASIL, Ministério de Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde Plano
de intensificação das ações de controle da malária na Amazônia Legal: 2ª.
Edição Editora MS – Brasília DF 2004.
BRASIL, Ministério de Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de Vigilância Epidemiológica. Ações de controle da malária: manual
para profissionais de saúde na atenção básica. 2ª Edição: Editora do Ministério da Saúde,
2006.
BRASIL, Ministério de Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Epidemiologia
e serviço de saúde: volume 14 – nº.
4 outubro / dezembro de 2005
CLEARY, David. A Garimpagem na Amazônia – Uma
Abordagem Antropológica. Tradução de Virgínia Rodrigues Malm, do original
inglês “Anatomy of the Amzon Gold Rush” de 1990. Edição Brasileira: UFRJ, 1992.
FAYAL, Arnaldo da Silva. Monografia do Curso de Especialização de
Malariologia Cuiabá/ 1993
RUFINO, Eliaquim. Musica: Mosquito da Malária. CD, III
Conferência Municipal de Meio Ambiente de Itaituba/PA. 2008.
TOZONI-REIS,
Marília Freitas de Campo. Metodologia da
Pesquisa. Curitiba: IESDE: Brasília, 2005.
[1]
Graduado em História pela FAI, pós graduando em História, Cultura e Sociedade
pela FAT. Avenida Homero Gomes de Castro, nº. 597 CEP: 68.180-250 e-mail:
evilsongomes@hotmail.com
[4] Miasmas sm. Emanação fétida oriunda de animais e plantas em decomposição.
Aurélio, Nova Fronteira.
[5] Intermitente, adj2g. Que apresenta
interrupções ou suspensões; não contínuo. Aurélio, Nova Fronteira.
[6] Etiologia, sf. Parte da medicina que trata das causas das doenças. §
e-ti:o.ló.gi.co adj.
[7] Endêmico adj. Med. Da natureza da
endemia. Endemia sf. Med. Doença que
existe constantemente em determinado lugar. Aurélio, Nova Fronteira.
[8] Malaria, nome italiano de “mal aire”,
que significa mau ar ou ar insalubre.disponível em
<HTTP://pt.wikipedia.org/wiki>.
Acesso em, 19 de novembro
de 2008
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