terça-feira, 14 de janeiro de 2014

ARTIGO: Projeto Bom Menino. História e contribuição social no Município de Itaituba.

Projeto Bom Menino. História e contribuição social no Município de Itaituba.


JOSÉ BERNADINO PEREIRA FILHO 1


RESUMO

Este artigo para conhecer as razões que fazem com que tantas famílias procurem a Entidade e refletir a contribuição do trabalho social do Projeto Bom Menino durante uma década de serviços prestados a criança e adolescente carentes do município de Itaituba, investigando as diretrizes e metodologias de trabalho, dos fundadores, de alunos, de professores e de ex-alunos, que estiveram e estão no cotidiano desse trabalho diariamente. Os Profissionais reconhecem que é um trabalho diferenciado e são valorizados na função que atuam dentro do espaço de trabalho. Conclui-se que o trabalho social surgiu de uma proposta dos responsáveis das Instituições PMPA e Clube de Mães Bela Vista, sendo ampliada a cada ano pelos demais profissionais que estiveram e estão participando desse atendimento a criança e adolescente, tendo reconhecimento da sociedade itaitubense e demais Instituições governamentais e não governamentais, demonstrados através  dos resultados de cada integrante que fez e estão fazendo parte dessa história no município de Itaituba e em outros Estados do país, garantindo a participação da segurança pública no acompanhamento do cidadão nas diversas fases da infância a pré-adolescência, a fim de cumprir o papel de cidadãos que acreditaram na mudança de toda uma geração e que hoje são trabalhadores dessa conquista social.

PALAVRAS-CHAVE: Trabalho Social. Clientela. Entidade. Atividades.

Project Good Boy . History and social contribution in the Municipality of Itaituba .



                                                                            ABSTRACT


This article to know the reasons that cause so many families claim the body and reflect the contribution of social work of the Good Boy Project during a decade of services to underprivileged children and teenagers in the municipality of Itaituba , investigating the guidelines and working methods , of the founders , students, teachers and ex - students, who were and are in everyday life that work daily. Professionals recognize that is a different work and are valued in function that operate within the workspace . It is concluded that social work began as a proposal of the responsible institutions and PMPA Mothers Club Bela Vista , being expanded every year by other professionals who have been and are participating in this service to children and adolescents , with recognition of itaitubense society and other governmental and nongovernmental institutions , demonstrated by the results of each member who did and are part of this history in the city of Itaituba and other states of the country , ensuring the participation of the public safety of citizens in monitoring the various stages of childhood pre - adolescence in order to fulfill the role of citizens who believed in the change of an entire generation and today are workers that social achievement .


KEYWORDS : Social Work . Clientele . Entity. Activities



1 INTRODUÇÃO


A cultura do homem está relacionada a um sistema de representações aceitas pelo grupo social, que vão alternando-se a partir do contato do homem com a natureza, com outros homens e consigo mesmo. Existem diferenças entre o homem e os animais, sendo considerado o tempo como fator determinante desse processo. A partir disto, a ação do homem foi inventar sua própria existência através do passado e projetar a ação futura.
A partir desse fator, pode-se considerar que as diferenças entre o homem e o animal não são apenas de grau, mas por várias maneiras pelas quais os homens respondem socialmente aos desafios de cada período da história, a fim de realizar sua existência sempre historicamente situada.
Observa-se que as relações que os homens estabelecem entre si provêm das relações de trabalho, da política, da cultura e da comunicação. Cada relação é predominante sobre a outra, produzindo efeitos devastadores para a sociedade.

A sociedade, criação de numerosas gerações precedentes, é sempre anterior a um individuo em particular. Ao longo dos séculos, gerações sucessivas de pessoas produziram linguagem, formas de governo, religião, ciência e arte, em uma própria sociedade e sua cultura. Assim, fazendo, alteraram as características dos seres humanos. (SABINI, 2002:47-48).

Concorda-se com o autor por haver na Entidade essa relação sucessiva de gerações ao longo da história social e política, de comportamentos, de aprendizagem, de profissionais e da clientela que puderam acompanhar essa experiência e daqueles que permanecem com uma nova abordagem diferenciada dos que os antecederam, porém, ao longo do tempo a própria Entidade passou por mudanças que o público vê como desafiadora e compromissada com um trabalho social que nenhuma outra instituição conseguiu manter no período de treze anos de atividades sócio-educativas e complementares para a vida de cidadãos que hoje contam a sua contribuição na própria sociedade, como resultado dessa experiência.
            A questão norteadora desse estudo é conhecer e descobrir quais são as razões que fazem com que tantas famílias procurem o Projeto Bom Menino para matricular os filhos, refletindo na ação da Instituição que vem contribuindo há mais de uma década de atendimento a criança e adolescente carentes do município de Itaituba, provenientes dos diversos bairros da cidade, pertencentes a todas as classes sociais, que estão inseridos na sociedade.
            Justifica-se nesse estudo, os motivos que as Instituições (PMPA e Clube de Mães Bela Vista), levaram a realizar esse trabalho social a criança e adolescentes na faixa etária de 07 aos 14 anos de idade, apresentando os seguintes pontos:
            Num município onde poucas entidades prestam serviços de atendimento a criança e adolescente, tendo o Projeto Bom Menino como referência para manter sua história registrada, que passava por um momento de grandes dificuldades e corria o risco de fechar por falta de recursos: tanto materiais, quanto humanos e financeiros.
            Outra argumentação diz respeito ao fato de conhecer e participar das ações realizadas pela entidade, descrevendo a filosofia do trabalho, a relação dos alunos atendidos diariamente, incluindo na temática a desestruturação das famílias dos alunos oriundos deste seguimento.
Durante uma década de fundação, criou-se um vínculo com a Entidade, por ser um local de trabalho e oferecer serviços para a comunidade participar desse produto que se chama conhecimento, estabelecendo uma relação com a sociedade em que está inserida por transmitir idéias e valores que justificam as práticas sociais vigentes.
Ao longo da história da educação, com as chamadas sociedades primitivas, a educação era difusa, integrada ao próprio funcionamento da sociedade como tal, de modo que todos educam a todos. Hoje, com os avanços tecnológicos, a educação é vista como um instrumento de cultivo dos valores herdados e de novos valores que estão sendo propostos para o homem conhecer o espaço social, histórico e político em que está inserido.
            Analisar a educação como universal, formativa e humana é possibilitar socializar a cultura herdada, como instrumento formador de opinião crítica dessa mesma cultura, tornando o homem capaz de agir sobre a sociedade, e ao mesmo tempo, compreender a sua própria ação nesse espaço.
            Na conjuntura atual, observou-se que o problema de formação social deveria ser colocado em primeiro plano nos programas de ensino, devendo ser sistematicamente fomentada nas escolas, transportando as grandes idéias universais e sociais para a vida cotidiana e concreta do homem.

Os valores humanos, quando trabalhados no espaço escolar, quer na forma de temas transversais, quer de disciplina, podem desempenhar um papel relevante na formação da consciência moral do aluno desde seus primeiros anos de escolaridade. A vivência desses valores propicia uma mudança na percepção do seu cotidiano que leva à revitalização de modos de conduta ao crescimento harmônico do indivíduo e, em conseqüência, da sociedade em que ele se encontra inserido (Ibidem, 2002:55-56).

            Fundamenta-se como jornada histórica à década de 90 na problemática social que assolou o município de Itaituba a nível nacional proveniente da prostituição infantil nas regiões de garimpo, sem haver o acompanhamento de órgãos públicos e de diretrizes trabalhistas para a população que aumentou consideravelmente com a crise do ouro e da reforma do governo Collor.
A Polícia Militar possui como base institucional a prevenção da ordem pública e da preservação do patrimônio público, como relação do serviço prestado para a sociedade do município de Itaituba. Dessa relação constituiu-se a parceria com Clube de Mães Bela Vista para acolher crianças e adolescentes carentes e em situação de risco da sociedade local. A partir dessa parceria, criou-se então o Projeto Social Bom Menino no ano de 1995, vinculada ao 15º BPM – Batalhão Transamazônica, mantenedor do trabalho social na região, garantindo a participação da sociedade no serviço prestado para esse tipo de clientela, atendendo aos princípios legais da Constituição Federal de 1988, Estatuto da Criança e Adolescente e das leis de ensino.
            Os pensadores dessa filosofia de trabalho estão vinculados às linhas humanística e social. Serão considerados LANCASTER; SKINNER; DUERKHEIME; DEWEY; DECROLY; KERSCHENSTEINER; FRIENET; MAKARENKO e os brasileiros da Escola Nova: AZEVEDO e TEIXEIRA.
            Foram desenvolvidos os métodos de pesquisa: documenta e de campo, analisando todo o levantamento social do objeto de estudo, considerando as fontes que foram coletadas em jornais, fotografias, vídeos e de arquivos da instituição.
A pesquisa está dividida em três capítulos: o primeiro aborda a fundamentação histórica e social da temática de estudo na visão dos principais teóricos a mediação com a sociedade durante mais de uma década de atendimento social. O segundo capítulo faz uma análise e reflexão do trabalho social do Projeto Bom Menino caracterizando a clientela atendida, as atividades alternativas, os parceiros da instituição, os profissionais a interação da família com o projeto e a expansão do trabalho social alcançado pela entidade.
            O terceiro capítulo evidência a perspectiva histórica e social da clientela, o levantamento anual de alunos, entrevistas, depoimentos, a mudança de Projeto para Fundação e a metodologia, especificando através do enfoque paradigmático, fundamentou-se na fenomenologia hermenêutica, E no quarto capitulo será realizada a conclusão do trabalho monográfico.
Ao longo desse estudo, observou-se na Entidade que as ações são constantes no tipo de atendimento ofertado diariamente através do tempo de existência, construindo-se instrumentos na sociedade atual. Este fato é percebido na história através de formas de viver sem competividade e indiferença com todos aqueles que participaram da construção dessa história social implantada há mais de uma década.
           
2 FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA, SOCIAL E EDUCACIONAL

2.1 ORIGEM HISTÓRICA, SOCIAL E EDUCACIONAL DA INSTITUIÇÃO

Constatou-se que a partir da década de 70, ocorreu o surgimento de problemas sociais na região com o surgimento dos garimpos. O município de Itaituba no que se refere à questão social foi bastante prejudicado em função da febre do ouro, ocasionando na grande concentração de pessoas de todo o país em busca de enriquecer. Por causa desse enriquecimento, homens e mulheres abandonaram seus familiares, principalmente os filhos e partiam em busca de riqueza numa aventura cheia de ilusões, violência e prostituição. Desse conjunto de problemas sociais, crianças e adolescentes viviam em situação de risco, mulheres exploradas sexualmente, prostituição infantil e do surgimento de gangs em todo o município, originado em grande parte pela desestruturação familiar.
Todas as problemáticas não foram solucionadas imediatamente. As empresas que se instalaram na região estavam preocupadas apenas com o lucro deixando a população vitimada de doenças, violência urbana, com assassinatos diários, crianças e adolescentes abandonadas e iniciando a vida sexual precocemente.
O município passou por transformações econômicas que influenciaram o comportamento das pessoas quanto as suas atividades no inicio dos anos 90 com a diminuição da produção de ouro e queda de preço no governo Collor.
Na educação, o município passou a receber investimentos do governo federal, ampliando as estruturas administrativa e física das escolas públicas, capacitação dos profissionais de educação as políticas de inclusão ofertadas pelo município, alcançando grandes resultados e na melhoria da qualidade de vida da população.
A entrevistada e fundadora da Entidade Maria Silva Oliveira (Dona Mana) preocupada com a situação de risco em que viviam muitas crianças, teve a idéia de fazer uma parceria entre o Clube de Mães Bela vista e o 15º BPM Batalhão Transamazônica, no comando do Tenente Coronel Adonai Eber Rodrigues Leitão. Dessa parceria surgiu o Projeto Bom Menino, com o objetivo de prestar atendimento a criança e adolescentes que estavam na ociosidade em casa ou na rua fora do horário da escola no ensino fundamental que eram matriculadas oficialmente.
No dia 10 de julho de 1995, o Projeto Bom Menino iniciou suas atividades com 40 crianças, sendo 28 meninos e 12 meninas, com a colaboração de policiais militares que atuavam voluntariamente nas ações sócio-educativas, sem nenhum vínculo empregatício ou financeiro, tendo uma equipe formada de oficiais e praças: Tenente Ronald, SGT Jucivaldo, SGT PM Adilson, SD PM FEM. Fátima, SD PM Soares, SD PM Wagner, SD PM FEM Isabel, SD PM FEM. Ilma e os civis voluntários Nazareno Santos e Walmy de oliveira.
A proposta propõem-se em ocupar os filhos das mulheres que trabalhavam o dia inteiro, retornando somente no final do dia, sentiam-se confiantes que os filhos estavam seguros e aprendendo conhecimentos relacionados a prática da cidadania, valores e disciplina. Durante esse intervalo as crianças  permaneciam um horário na escola regular e outro horário no quartel participando de atividades de música, ordem unida, canções, hinos oficiais, atividades físicas e recreativas para uma aprendizagem para a vida e do exercício da cidadania.

É preciso que os pais, ao matricularem os seus filhos, conheçam esse perfil de aluno e a proposta que a escola tem para desenvolvê-la e se interessam em acompanhar as práticas implementadas para esse desenvolvimento. (HENGEMUHLE, 2004, p: 45)

2.2 OS PENSADORES DA ABORDAGEM HISTÓRICA E SOCIAL

            Sabe-se que na história a teoria dos grandes pensadores tem influenciado o comportamento das pessoas no mundo inteiro. E quando o assunto é a questão social se faz necessário dizer, tendo a sociologia que passou a ser considerada como ciência com Emile Durkheim, que acreditava ser os fatos sociais o modo de pensar, sentir e agir de um grupo social, sendo que os fatos devem ser estudados como “coisas”.
            Neste sentido, o estudo busca compreender a realidade do Projeto Bom Menino e a sua clientela estudando esta questão social de forma particularizada, embasada em pensadores que defendiam ou tentaram explicar essa relação do ser humano uns com os outros dentro de uma ótica capitalista.
Para Durkheim, o sistema sociológico baseia-se em quatro princípios fundamentais: 1) A sociologia é uma ciência independente das demais ciências sociais e da filosofia. 2) A realidade social é formada pelos fenômenos coletivos, considerados como “coisas”. 3) A causa de cada fato social deve ser procurada entre os fenômenos sociais que o antecedem. Para explicar o fenômeno social, deve-se procurar a causa. 4) Todos os fatos sociais exteriores aos indivíduos, formando uma realidade especifica. (OLIVEIRA, 2001: p:227)
Segundo Durkheim (2001: 227) “o ser humano é um animal que só se humaniza pela socialização”. É com base nesses princípios que algumas das atividades do Projeto Bom Menino são planejadas, buscando-se enfatizar tais questões no estudo da sociologia, para auxiliar no desenvolvimento de crianças e adolescentes o exercício do pensamento crítico, respeitoso e humano.
O Projeto Bom Menino realiza um trabalho de monitoria, de competência de  alunos mais velhos ou com destaque dentro das atividades de anos anteriores dentro da entidade. Essa metodologia é conhecida como método de Lancaster ou método Lancasteriano, por ter a participação de monitores durante a realização das atividades, por serem os responsáveis diretos entre o professor e os demais alunos, pela organização geral da escola, da limpeza e fundamentalmente da manutenção da ordem.
Adotando esse método, o Projeto Bom Menino vem complementar a teoria do estudioso, onde esse procedimento é visto entre os alunos sucessivos como a maior conquista para assumir essa função, tida como promoção, uma premiação ou uma aprovação para estar nesse cargo e atingir um grau de posto superior dos colegas que estão freqüentando o horário de expediente, por ser gratificante, acolhedor e de respeito entre os colegas, funcionários, professores e militares. Na fala dos monitores, essa função não é utilizada na escola pública que pertencem, gerando desconforto para eles ao tentarem usar o mesmo método na escola que estão freqüentando, pois, o público desconhece as normas que a instituição de ensino adota na proposta de trabalho letivo, por adotar uma educação voltada para a promoção da clientela de ano escolar. Todos os trabalhos realizados pelos monitores estão sob a orientação e supervisão de um professor, sendo ele civil e de um militar, dependendo da natureza da atividade.

   “Os decuriões sendo os melhores alunos da classe, estudavam as lições e, ao mesmo tempo, faziam seus discípulos estudarem e ficarem bem comportados, para o sossego e a boa ordem em sala de aula. Em cada classe havia os monitores que reestudavam as lições para ensinarem aos decuriões e estes, como já vimos deveriam transmitir imediatamente os conhecimentos aos discípulos. Os monitores também eram encarregados de tomar a lição no final das aulas e vigiar a disciplina da classe. Eram selecionadas as classes mais adiantadas, entre os melhores alunos e de boa conduta, sendo portanto, dignos de merecer confiança.” (FREIRE, aput e FERREIRA, 2001:81-82).


                Apesar dessa estratégia de ensino não ser mais usada nas instituições públicas, observou-se nos adolescentes que essa relação de administrar e acompanhar colegas diurnamente possibilita ao aluno aperfeiçoar esta experiência para a vida, buscando conhecer habilidades que serão usadas em qualquer ambiente. Nesse conjunto de informações do exercício da monitoria, existe uma premiação que satisfaz a auto-estima desse público na faixa etária de 14 aos 16 anos de idade, demonstrada pelo bem estar em receber uma insígnia que o designará na função de monitor, diferenciando dos demais colegas de sua turma e de toda a instituição.
 A coordenação pedagógica, militares e corpo docente usam esta proposta no cotidiano das atividades para cumprir e garantir um padrão que existe nesse trabalho, sem haver discriminação de ambas as partes, por entenderem que a função de monitoria exige amadurecimento, respeito e na prática de cidadania em qualquer ambiente que venham participar, aplicando os conhecimentos apreendidos para a vida.
            Quanto ao comportamento dos alunos, a metodologia configurou-se na teoria de Burrhus Frederic Skinner, com a aplicação do condicionamento operante. Sua teoria pode ser percebida nas atividades de ordem única, onde a repetição de movimentos condicionados leva o aluno a um comportamento físico e mental. Tal relação desse pensador está presente nas canções e gritos de guerras, sendo que a aprendizagem ocorre através de condicionamentos operantes, considerando que a primeira tarefa do professor será modelar respostas apropriadas, ou seja, obrigando os estudantes a emitirem respostas adequadas e dirigidas por estímulos modeladores do comportamento.
A proposta de ação do Projeto Bom Menino se preocupa em preparar o aluno para a vida através de oficinas que promovem e nas operações de campo, onde os alunos são testados através do condicionamento físico e mental, afim de que numa situação real possam se adaptar as necessidades do momento e as urgências circunstâncias que o tempo determina como prioridade nessa região. Essa forma de educação é defendida pelo teórico DEWEY que se preocupou com o lado prático, pragmático da educação, principalmente com a adequação desta ao meio e a evolução social:
“Quando os homens viviam em pequenos grupos que tinham pouco que ver com os demais, o dano que a educação intelectualista e memorista causava era realmente muito pequeno. Mas agora é diferente. Os métodos e operações industriais dependem, hoje, do conhecimento dos fatos e leis das ciências naturais e sociais, num grupo muito maior do que o foram antes. Nossas ferrovias e barcos, os bondes, telégrafos e telefones, fábricas e granjas de trabalho, e até nossos recursos domésticos comuns dependem para sua existência de intricados conhecimentos materiais, físicos químicos e biológicos. Dependem. Em sua melhor e última aplicação, de uma compreensão dos fatos e relações da vida social”. (DEWEY,Apud Larroio, F. op cit., 769).



            DEWEY defendia que a educação não só deve adequar-se ao mundo em que  se verifica, como também é fator de progresso desse mundo: “ A educação é o método fundamental do progresso e da ação social” e “ o professor ao ensinar, não só educa indivíduos, mas contribui para formar uma vida social justa”. (Apud ABBAGNANO, 1964:644)
O pensador defende que o processo educativo tem dois aspectos: um psicológico, que consiste na exteriorização das potencialidades do indivíduo, e outro social, que consiste em preparar o indivíduo para as tarefas que desempenhará na sociedade. Cabe à escola tentar em vista que as potencialidades do aluno só encontram significado dentro de um ambiente social.
O trabalho realizado pelo Projeto Bom Menino tem uma preocupação em colocar no seu cronograma de atividades tarefas que possam está contribuindo para o trabalho de vida da clientela desde as atividades mais simples as mais complexas como: enxugar pratos como também tocar instrumento musical. Essas medidas se fundamentam na teoria do professor alemão KERSCHENSTEINER que propõe a escola do trabalho educativo em oposição à escola intelectualista e memorista. Para KERSCHENSTEINER, “o caminho para o homem ideal passa pelo homem útil”. (1997.115). Pois na sua visão KERSCHENSTEINER acredita que o trabalho é, antes de tudo, um exercício para preparar cidadãos úteis e que a escola deve formar cidadãos úteis ao estado. Dessa forma o Projeto Bom Menino através das atividades aplicadas para os alunos, dão crédito a qualificação profissional para os adolescentes que vão atuar no espaço da sociedade itaitubense.
Os trabalhos de grupos realizados no Projeto Bom Menino assemelham-se em vários aspectos com a ideologia de MAKARENKO que defendia para a educação um processo com base no trabalho produtivo e na supremacia do “coletivo” sobre o indivíduo, na disciplina e na solidariedade humana. No planejamento anual existem diversas atividades individual e coletiva, sendo que as coletivas são predominantes, tendo como meta da Entidade preservar a socialização da clientela, da família e da comunidade, beneficiando o individuo diante das dificuldades que surgem na relação social, principalmente na relação familiar e escolar.
Dentro desse processo sócio-educacional os alunos têm oportunidades de trabalhar com textos livres, com jogos e cálculos, pois não existe uma obrigatoriedade curricular quanto à proposta de atividades. O que se propõe ao aluno é um quadro de atividades complementares visando um melhor engajamento nos seus estudos. Esse método tem sustentação pedagógica em Celestin Freinet, que defendia o espírito democrático resultante da contribuição de alunos e professores.
A partir da fundação, o Projeto Bom Menino sempre investiu na interação com a comunidade, complementando nas atividades voltadas para as questões sociais. Esses princípios estão baseados nos ideais de AZEVEDO que foi e é muito importante para a educação brasileira. Acreditava-se ser necessário pensar no desenvolvimento econômico e a democracia a partir de uma reflexão sobre educação:
A educação poderá ser força renovadora se for recuperada a sua dimensão política e social. Como? [...] dentro das condições democráticas de participação, com a conquista de mecanismos de expressão social e comunitária. A educação (e deve) ser instrumento de democratização e modernização social. (PENNA, 1987.93)

Constatou-se que Fernando de Azevedo pensava na educação com grande preocupação no social. Acreditava haver uma relação imediata entre a transformação de educação e a transformação social. A escola idealizada por Azevedo pretendia sintetizar estas duas percepções: preparar o educando em sua moral e ética e disponibiliza-lo para o trabalho e para vida social. É nesse sentido que o Projeto Bom Menino visa formar cidadãos mais cooperativos, comprometidos com a coletividade, disposto a lutar por suas condições de vida para si e seu grupo social.
Um grande teórico da educação brasileira no século 20, TEIXEIRA (1900 – 1971) defendia que a educação deve ter sentido pragmático acompanhando a trípice revolução da vida atual: intelectual, pelo incremento das ciências; industrial pela tecnologia e social, pela democracia. Essa concepção exige segundo TEIXEIRA “uma educação em mudança permanente, em permanente reconstrução”. (2008.27)
É com base nessa visão do pensador brasileiro que a Entidade Bom Menino busca oferecer instrução aos alunos que possam ter senso prático na vida de cada um deles. Essa realidade é vista nas escolas comunitárias, onde deveriam ser atendidas todas as necessidades dos alunos. Isto é constatado na medida em que o aluno do Projeto é matriculado numa escola de ensino regular, ele passa a ter um ensino integral, só que em instituições diferentes.
Nas atividades da Entidade, o aluno tem a oportunidade de escolher que tipo de atividade quer praticar de acordo com as suas habilidades. Essa maneira de ensinar também era uma das idéias do estudioso brasileiro que dizia: “Como não aprendemos tudo o que praticamos, e sim aquilo que nos dá satisfação, o interesse do aluno deve orientar o que ele vai aprender, portanto, é preciso que ele escolha suas atividades”.
           
2.3 ÓRGÃOS DE ATENDIMENTOS NO TRABALHO SOCIAL NO MUNICÍPIO DE ITAITUBA

            O Projeto Bom Menino vem desenvolvendo no decorrer dos seus treze anos de história uma ação sócio-educativa integrada com o Clube de Mães Bela Vista, o 15º Batalhão de Polícia Militar do Estado do Pará – Batalhão Transamazônica, Prefeitura municipal de Itaituba, através da Secretaria Municipal de Educação e o Ministério Público. Dentre os órgãos citados, o Clube de Mães Bela Vista foi o primeiro a fazer parte dessa parceria, pois foi através dele que teve origem o Projeto Bom Menino.
            O Clube de Mães Bela Vista tem como objetivo a valorização do trabalho da mulher. A entidade trabalha na sua comunidade com cursos de pintura em tecidos, em gesso, em cerâmica, tapetes e outros. Também eram confeccionados cursos de bonecas de doces, cestas de cipós de sacolas e outros.
            O 15º Batalhão Transamazônica órgão mantenedor da Entidade no município de Itaituba nos treze anos de existência, sempre esteve presente prestando serviços de apoio como do uso de materiais e de recursos humanos, garantindo o previsto na Constituição do Estado do Pará, do dever de manutenção da ordem pública, na segurança do cidadão e prevenção do crime.
O Batalhão Transamazônica contribui com a ação do Projeto Bom Menino através da concessão do espaço para as atividades de informática, aulas de música e teatro, quadra de esporte, campo de futebol, o auditório para reuniões, encontros e palestras. Além dessas dependências, também colabora com as viaturas sempre que solicitada pela coordenação do projeto para vários tipos de atendimentos.
            A Secretaria Municipal de Educação tem colaborado com o Projeto Bom Menino desde a sua fundação. Dessa parceria, a princípio deu-se através de um convênio de cooperação técnica no governo do Prefeito Edílson Dias Botelho, gestor municipal que investiu na Entidade, com o efetivo de professores, funcionários de apoio, materiais e de cursos que foram ofertados para capacitar os funcionários. No início era bem maior a contribuição da Secretaria de Educação, pois além dos professores, também forneciam pessoal de apoio (serventes e merendeiras) e do fornecimento de merenda escolar para o lanche dos alunos.
            A partir de 2007, a Secretaria de Educação reduziu o quadro de funcionários a retirada do fornecimento de merenda escolar, mas continuou com a parceria, mantendo um auxiliar administrativo e oito professores, sendo dois deles policiais militares concursados como professores pela prefeitura municipal.
            Nessa luta contra as desigualdades sociais, o ministério público de Itaituba também contribuiu nesse atendimento a crianças e ao adolescente, dando encaminhamento de apenados de justiça para pagar suas penas, contribuindo com trabalho social na instituição, através do fornecimento de cestas básicas de pessoas com débitos na justiça.

3  REPERCUSSÃO DO TRABALHO SOCIAL DO PROJETO BOM MENINO
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA CLIENTELA ASSISTIDA NA ENTIDADE

No início da sua fundação a proposta do Projeto Bom Menino era de atender crianças pobres em situação de risco, de promover segurança ou que estivessem na ociosidade, devendo estar na faixa etária de 7 aos 14 anos de idade e matriculadas na escola pública para que fossem acompanhadas através de complementação pedagógica de profissionais habilitados para assumir esse papel na Entidade.
            Atualmente o Projeto Bom Menino atende crianças e adolescente de todas as classes sociais, porém, sendo necessário que estejam matriculadas numa escola de ensino regular do ensino fundamental ou médio. A faixa etária alterou de 06 para 12 anos de idade, pelas propostas provenientes das leis de ensino. Devido a essa alteração da faixa etária, existem casos de alunos que quando completam 14 anos não querem sair do Projeto Bom Menino, nesses casos se o aluno for auxiliar, xerife ou monitor abriu-se uma exceção, permanecendo por mais um ou dois anos, havendo casos de monitores que saíram do Projeto aos 18 anos.
            Quanto à questão de estrutura familiar, grande parte dos alunos vem de famílias desestruturadas, ou seja, a maioria não tem pai e mãe morando juntos, outros moram com avós, tias ou tios. É comum encontrar alunos em que a mãe ou pai trabalham fora da cidade, na maioria dos casos em garimpos, e as vezes não retornam para assumir na assistência familiar, enviando somente dinheiro para as necessidades de alimentação, escola e saúde. Existem casos que ficam sem nenhum tipo de assistência, permanecendo sem contato com o vínculo familiar.
            Quanto a moradia, temos alunos de todos os lugares da cidade, de bairros periféricos como do quilômetro cinco (Km 5), miritituba e todos os bairros da cidade. Dentre eles um número bastante considerável moram de aluguel ou de tomar conta de residências que os donos vão trabalhar em outras cidades, permanecendo por um período indefinido.
A maioria das crianças são do sexo masculino, quase que cem por cento (100%) são matriculados na rede pública de ensino municipal ou estadual, fato analisado através da estatística de matrícula, cedido pela Secretária da entidade, demonstrado nesse estudo, mas, desse resultado, existem alunos que pertencem a rede privada de ensino.
A instituição realiza um trabalho de prevenção, aonde a criança ou adolescente não venham seguir os caminhos da marginalidade ou se encontram em situação de risco, por existir no município instituições do governo que acompanham esses casos de vulnerabilidade social. Nesse sentido, não se trabalha com menores infratores, caso aconteça é feito o encaminhamento para um órgão competente tomar as devidas providências.

3.2 ATIVIDADES ALTERNATIVAS OFERTADAS PELA INSTITUIÇÃO

            As atividades de complementação escolar são todas realizadas sobre a orientação de um professor ou de uma professora que pode estar acompanhado ou não de um monitor. A exigência desse profissional nessas atividades é pelo fato de serem de cunho pedagógico. E quanto à metodologia usada, depende das características da turma e do professor.
            A ordem unida é uma prática constante, desde a entrada a saída dos alunos diariamente, sendo colocado em forma dentro dos pelotões pelos monitores e em seguida é apresentado a um militar que passará orientações sobre as atividades do dia, cantam hinos e canções, como o hino nacional, hino a bandeira, hino do Pará, hino da policia militar, hino do Projeto Bom Menino e o hino de Itaituba entre outros como os gritos de guerras. A ordem unida é fundamental segundo os professores para manter a ordem e a disciplina com os alunos.
            Nos dias que ocorrem a prática de educação física, geralmente na terça-feira e na quinta-feira depois do complemento escolar, os alunos antes de atividades como futebol de salão, de campo, vôlei ou queimada passam pela preparatória (alongamento e musculação), afim de que não hajam contusões por falta de aquecimento. Depois da preparatória os alunos participam da corrida ao redor do campo e são cobrados de acordo com a capacidade física de cada um e dentro da sua faixa etária.
            A música sempre esteve associada às tradições e às culturas de cada época, sendo necessário que todos tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes, interpretes, compositores improvisadores dentro e fora da sala de aula. Assim o Projeto Bom Menino mantém sua banda de música, ensinando as crianças que possam demonstrar desde a vocação e da vontade de aprender. Todos têm oportunidades mais apenas alguns se dedicam realmente nas instruções. Os que passam nas primeiras etapas aprendem a tocar: flauta, bumbo, corneta e outros instrumentos.
Outra atividade que também mostra o lado artístico do aluno é a oficina de teatro, dando ao aluno oportunidades de mostrar sua capacidade, seu improviso, ou seja, os alunos encontram no teatro uma forma de se comunicar com as outras pessoas.
A capoeira também é uma das atividades desenvolvidas, sendo considerada como luta para definir regulamentação, para punir atividades previstas no embasamento teórico e prático. São desenvolvidas através de discussões de aspectos histórico, social, político e educacional, desenvolvendo habilidades da prática em manifestações da cultura popular e de eventos realizados na sociedade.

3.3  PARCEIROS DA INSTITUIÇÃO PROJETO BOM MENINO
           
Desde a sua fundação o Projeto Bom Menino passou por dificuldades na estrutura física e administrativa de recursos humanos e logísticos, e principalmente na aquisição de recursos financeiros, mas sobreviveu às mudanças econômicas que atravessava o país. Mas de todos os problemas que surgiram, preservamos a conscientização de cidadãos para a preparação profissional no mercado de trabalho local e regional, levando a causa ao conhecimento. Descrever-se-á os principais parceiros que contribuíram e ainda contribuem com a ação social do Projeto Bom Menino.
            A Secretaria Municipal sede os profissionais para as atividades pedagógicas e de apoio, professores, auxiliar administrativo e servente, além de emprestar materiais para comemorações, como por exemplo, cadeiras e outros.
            O Ministério Público colabora com doações de cestas básicas através de seus apenados e também com doações de materiais permanentes como, por exemplo: mesas e cadeiras.
            A Igreja Testemunha de Jeová, pertence ao grupo de parceiros, colaborando através de duas programações que ocorrem em dois meses consecutivos (abril e setembro), na manutenção das instalações ou do pagamento de uma taxa para ajudar na compra de alimentação, para realizar encontros evangélicos.
Nesse conjunto de colaboradores, a Igreja Adventista organizadora do evento camporre, reúne jovens de todos os municípios para compartilhar experiências de suas atividades. O Projeto Bom Menino vem participando a partir do ano de 2006 por dois anos consecutivos, buscando reunir ações dessa instituição religiosa para compartilhar experiências com todos os jovens que representam, demonstrando uma relação de coletividade, espiritualidade e companheirismo para solucionar conflitos pessoais e coletivos.
O IBAMA é colaborador dessa ação social através de doações de madeira para confecção de móveis e de peixe quando fazem apreensão. A Fricon, também é colaboradora doando iorgute que ajuda na merenda das crianças.
            A rádio alternativa FM também contribui com a ação da entidade cedendo uma hora de programa todos os sábados para a divulgação das atividades do projeto Bom Menino. O programa Bom Menino em Ação Comunitária é apresentado pelo professor Roberto Carlos dos Santos e a professora Maria Elenilda Fideles Rodrigues. Todos esses parceiros são muito importantes para o fortalecimento da ação promovida por esta entidade.

4  PERSPECTIVA HISTÓRICA E SOCIAL DA CLIENTELA
4.1.  PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
De acordo com os caminhos seguidos na composição desse estudo e dos resultados, a pesquisa caracteriza-se como qualitativa, tendo como objetivo chegar a compreensão da problemática investigada e não somente a sua explicação.
Nesse trabalho foram utilizadas como modalidades de pesquisa: a bibliográfica, documental e de campo. Na pesquisa de campo realizou-se quatro tipos de questionários: semi-abertos para serem aplicados a quatro tipos de público diferentes, sendo o primeiro para os alunos atuais do Projeto Bom Menino, o segundo para os ex-alunos, o terceiro para os pais ou responsáveis de alunos e o quarto para professores da Entidade, utilizando-se os depoimentos de pessoas ligadas diretas e indiretamente ao trabalho social.
A pesquisa documental foi realizada na secretaria do Projeto, precisamente nos arquivos, onde estavam as pastas de todos os alunos que já passaram pelo Projeto Bom Menino, sendo de fundamental importância para esclarecer os dados questionados na pesquisa.
Verificou-se a ficha de inscrição do aluno, sendo possível coletar várias informações a respeito da vida do público assistido. Nessa ficha constam as profissões dos pais, a renda, número de filhos, o tipo de residência, quantidade de irmãos, se moram com os pais ou outras pessoas, se os pais moram juntos ou separados. Ou seja, a ficha de inscrição ajuda na compreensão da vida do aluno em vários aspectos, durante a permanência no trabalho social.

4.3 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS E DEPOIMENTOS

A pesquisa mostrou que o trabalho sócio-educativo da Entidade na visão dos pais, professores, alunos e ex-alunos, vêm contribuindo para o desenvolvimento da criança e do adolescente, a fim de saber lidar e enfrentar as dificuldades das problemáticas que surgem na sociedade Itaitubense. Alguns relatam que o serviço ofertado promove a valorização do individuo e do espaço que pode assumir futuramente como profissional ou no ambiente familiar.
No período de setembro a novembro de 2008, foi realizada a pesquisa de campo abrangendo quatro categorias, sendo aplicado para cada um deles, um questionário semi-aberto diferente. Os públicos mencionados são: alunos atuais; ex-alunos; pais de alunos e professores do Projeto Bom Menino.
Além dos questionários semi-abertos que foram aplicados, foi necessário colher alguns depoimentos de profissionais e voluntários que acompanharam e dão assistência no serviço social do Projeto Bom Menino.
No relato dos pais, os mesmos responderam que procuram a Entidade por vários motivos, como: complemento escolar, espaço para ocupar os filhos nas atividades esportivas e culturais. Outros buscam auxiliar quanto a disciplina dos filhos e da socialização em qualquer local que estejam. Alguns afirmaram que acham bonito por ser uma instituição de vinculo militar e por estarem constantemente participando das atividades de formas alternativas, das quais os próprios pais são convidados para participar. Existem casos em que a família não quer ter trabalho para cuidar dos filhos, ocupando-os em tempo integral. Desse resultado, constatou-se que a maioria provém de famílias desestruturadas e dos diversos segmentos sociais, mas a problemática ainda contínua sendo a relação familiar.
Os professores fizeram a seguinte colocação: os alunos vêm de escolas públicas que adotam um plano de trabalho semestral, pois, percebem através da complementação escolar que os alunos trazem inúmeras atividades sem haver um planejamento para estruturar esse trabalho escolar, acarretando um acúmulo de atividades que sobrecarregam tanto o professor quanto o aluno. Outros apresentam poucas atividades provenientes das atividades escolares, sendo necessário incluir nas atividades que a Entidade promove.
Os alunos comentaram que gostam da metodologia da Entidade, desde a prática de ordem unida às atividades relacionadas às atividades militares (marchas, caminhadas, corridas e atividades físicas), possibilitando grandes resultados para a clientela e para a Entidade, tendo uma grande representatividade em todos os eventos promovidos na sociedade.
Os ex-alunos falam que foi importante ter sido aluno do Projeto Bom Menino, pois aprenderam a ter mais responsabilidade e respeito, sem falar das amizades que construíram durante o período que permaneceram na Entidade. Muitos atribuem ao emprego que possuem hoje as atividades que aprenderam na passagem pela conquista desse espaço social aberto a comunidade podendo usufruir desses conhecimentos e experiências de militares, professores e funcionários. Exemplifica-se nesse processo de trabalho os músicos, universitários e de outros que estão servindo o exército brasileiro.
Muitos alunos estão por vontade própria, por estar em um espaço que aceitam as experiências que os alunos trazem do ambiente social e ajudam a enfrentar os desafios que são apresentados diariamente, principalmente para saber lidar com decisões e ações que poderão participar e colaborar na sociedade. Existem alunos que estão somente por que os pais querem, por apresentar problemas de aprendizagem, comportamentos e relacionamento conflituosos com a família e na escola.
Nesses casos, chega-se pensar que os pais ou responsáveis estão fugindo de suas responsabilidades, transferindo a problemática para a escola e para a Entidade. Existem casos de 11 (onze) alunos morar com os avôs que estão matriculados na escola, na Entidade e ainda na escolhinha de futebol de uma igreja ou de outro local que possam ocupar a criança. A pesquisa de campo passou por várias etapas, tendo a necessidade de ouvir as experiências das pessoas que estão envolvidas na ação social do Projeto Bom Menino. Depoimentos de pessoas que passaram e estão participando das atividades diurnamente.

O objetivo da banda de música é capacitar os alunos para fazerem leitura musical básica da flauta, podendo estender para outros instrumentos que implicam em estudos mais aprofundados. Desde a criação da banda em 2004, temos representantes no exército e muitos outros alunos seguem aperfeiçoando seu conhecimento musical que teve iniciação aqui no Projeto Bom Menino. A partir de 2008 teve a inclusão de outros instrumentos na banda como sax alto, clarinete e flauta transversal. Alguns alunos que tocam esses instrumentos são inclusos na banda da polícia nos desfiles militares. Atualmente a banda é composta por 16 flautas doces, 4 instrumentos de metal, sendo 2 sax e 2 clarinete, uma flauta transversal, um bumbo e um tarol. A perspectiva para 2009 é colocar pelo menos um instrumento de cada naipe.
SILVA, Paulo Sérgio da. Cabo Policial Militar, instrutor da banda de Música do Projeto Bom Menino.


A capoeira pode ser entendida como uma dança ou um jogo. Já foi usada como arte para matar silenciosamente. Mas hoje tem como objetivo o desenvolvimento físico, mental e motor. Ela ajuda a manter o equilíbrio dos alunos, desde que sejam bem orientados sobre seu uso.
Hoje o número de alunos é pequeno em relação à procura, pois não tem condições de atender mais do que os 20 alunos que estão na oficina. Tem aluno que não tem condição financeira de adquirir o uniforme. Isso é lamentável, mas é verdade.
Além do Projeto Bom Menino, também realizamos apresentações de capoeira fora da instituição nos eventos convidados e que tenha haver com a história da capoeira. O capoeirista é identificado pela postura e em alguns lugares ainda sofrem por causa do preconceito que algumas pessoas têm sobre este movimento.
                                      OLIVEIRA, Mirlandi de Moura. Cabo Policial Militar, Instrutor de capoeira
                                        no Projeto Bom Menino.

            A lei nº. 9.608 de 18 de fevereiro de 1998, regulamenta o serviço voluntário, para fins desta lei, a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade.
Parágrafo único. O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim.
            Nesse sentido a Entidade recebe pessoas que querem ser voluntárias, atendendo o respaldo legal, fato constatado através do depoimento de uma das pessoas que prestam serviço voluntário:

Sou voluntária no serviço sócio-educativo do Projeto Bom Menino desde 2005. Sempre admirei o trabalho desta entidade e depois que matriculei os meus filhos aqui, percebi que poderia também dá a minha parcela de contribuição, pois trabalho com o coral de criança na igreja e tenho experiência nessa área.
Os meus trabalhos na instituição são mais voltados para o lado da música e do teatro, fui interprete da canção oficial do Projeto Bom Menino. Tenho orgulho do que fiz e ainda faço sempre que possível, pois foi através do Projeto Bom Menino que hoje eu trabalho de forma remunerada na extensão do Projeto Bom Menino em Aveiro. 
SOARES, Neusa Erlaine Leonel.

4.4  PERSPECTIVA PARA O CAMPO PROFISSIONAL

Ao completar 15 anos, a maior parte dos alunos do Projeto Bom Menino são obrigados a deixar a entidade, com exceção de alguns monitores que conseguem ficar depois dos catorze anos. A saída dos alunos, especificamente os adolescentes, representa um problema a mais para o ano seguinte, pois ao serem preenchidas as vagas deixadas por eles, os novos matriculados não compreendem a dinâmica ou filosofia da Entidade, promovendo dificuldades para a equipe de profissionais, desde a maneira para ensiná-los, as regras e as atividades internas.
            Outro problema é à saída dos monitores, pois a sua ausência significa que um ou mais pelotão ficará sem monitor. Nesse caso a coordenação e corpo docente terão que eleger substitutos para as referidas vagas. Na maioria dos casos os novos escolhidos estão muito abaixo dos seus antecessores, só vindo ganhar confiança a partir da metade do semestre.
            Outra relação referente ao corpo discente diz respeito à idade permitida para o aluno  deixar o Projeto, que gera outro problema, o de pessoa desempregada. Sabe-se que não é fácil encontrar emprego, ainda mais sendo um adolescente e sem experiência, o mercado o exclui por não estar preparado aos padrões e normas da lei trabalhista.
Quanto aos meninos, a maioria que pretende servir no serviço militar do exército, precisam esperar um pouco de tempo, entre dois à três anos de espera. A aceitação dos alunos que chegam à idade do serviço militar é boa em função da preparação física e psicológica que recebem na Entidade.
            Independentemente de sexo, todos são orientados a procurar a escola técnica para fazer cursos existentes que sejam na área de seu interesse, ou de capacitação profissionalizante que possam atender as habilidades que os mesmos possuem. Às vezes o aluno é escrito pela Entidade, quando é possível a realização da parceria.
            Na prestação de serviço aos ex-alunos, faz-se através do preenchimento do currículo, sendo comum à visita dos alunos durante o ano letivo. Além disto, estão sempre pedindo orientações quanto à prova de concursos, ENEM e vestibulares.
Nas visitas recebidas pela coordenação, militares e professores, os ex-alunos falam que ter permanecido no projeto foi importante para enfrentarem as situações difíceis da vida, principalmente o desemprego. Eles dizem que aprenderam a ter coragem e conviver em grupo, característica importante para poder encontrar e manter um emprego.

A grandeza de um ser humano não está no quanto ele sabe, mas no quanto ele tem consciência que não sabe. O destino não é freqüentemente inevitável, mas uma questão de escolha. Quem faz escolhas, escreve sua própria história, constrói seus próprios caminhos. (CURY, 2007: 125)

Assim a coordenação, militares e corpo docente esperam está contribuindo com a comunidade, na medida que orienta e encaminha o jovem para um objetivo, seja ele, o estudo, um curso técnico, aulas de músicas, aprendiz de mecânico o no exército, estão cumprindo o papel social que a Entidade vem trabalhando ao longo de treze anos de atendimento a criança e adolescente.

5 CONCLUSIDERAÇÕES FINAIS
Através da pesquisa desenvolvida foi possível perceber que o trabalho sócio-educativo realizado na Entidade Bom Menino estão relacionadas nas questões de caráter histórico, social e educacional de muitas gerações de famílias da sociedade itaitubense. Itaituba passou por ciclos econômicos que pouco contribuíram para a educação e assim possibilitou no aumento dos problemas sociais provenientes do surgimento da crise do ouro.
            Nesse sentido, as ações desenvolvidas pelo Projeto Bom Menino tem dado assistência a muitas famílias que tem procurado a Entidade em busca de soluções para vários problemas em que já ocorreram com essas famílias atendidas, como também das atendidas atualmente. São várias as razões que fazem do Projeto Bom Menino uma entidade tão procurada pelos pais e responsáveis de alunos.
            Pelo resultado do estudo, obteve-se algumas razões que levam as famílias a procurar a Entidade. Primeiramente, foi a questão de desestruturação familiar, ou seja, em muitos casos a mãe é a responsável por todas as funções do lar e também do sustento da casa. Essa situação lhe obriga a procurar um trabalho para custear as despesas da casa e sem ter com quem deixar os filhos, sendo obrigada a procurar o serviço do Projeto Bom Menino como solução.
            Outro levantamento constatado na pesquisa é pela falta de conhecimento dos pais, por não saberem ensinar os filhos e reclamam que a escola ensina muito pouco na sala, sempre mandando muita tarefa para casa. Muitos dizem que no seu tempo o professor ensinava era na escola, não mandava nada para casa, pois naquele tempo menino trabalhava. Isto faz com que muitos procurem o Projeto Bom Menino como complemento escolar, o que os pais chamam de aula de reforço. Essa é uma das razões preocupantes, pois o número de crianças nessa situação no Projeto Bom Menino é muito grande. Isso nos remete a seguinte questão: será que as escolas não estão ensinando ou esses alunos não possuem condições de acompanhar o ritmo da escola? Outros dados preocupantes são daqueles pais que alegam não terem tempo, pois o trabalho lhes ocupam a maior parte do seu tempo. Em suma, essas razões se traduzem no baixo rendimento escolar do aluno na escola e do despreparo das famílias para com a educação dos filhos.
Percebeu-se na pesquisa que o desemprego dos pais biológicos é outro motivo para procurar vagas no Projeto Bom Menino ser tão grande. Uma vez que estão desempregados na cidade, eles vão para o garimpo ou outros municípios em busca de trabalho, nesses casos, geralmente as crianças ficam com os avós, que por sua vez não tem mais condições de acompanhar o ritmo das atividades dos netos e procuram à entidade em busca de auxílio.
A disciplina enquanto padrão de comportamento é uma das razões mais forte para um grande número de aluno estar na instituição. Observou-se que a maioria dos pais preferem o modelo de educação tradicional, com regras mais duras aplicadas aos alunos, dados obtidos pelos entrevistados que concordam com a metodologia disciplinar imposta aos alunos e ainda tem aquele que desejam mais rigor com os alunos. Foram muitas as mães que disseram não dar conta de governar o seu filho quanto à disciplina, tanto em casa como na escola.
“Os pais que não apenas propiciam aos filhos boas escolas e regras de comportamento não conseguem estabelecer com eles as diretrizes de um relacionamento mais profundo”.(CURY, 2006:150).
Isso demonstra que muitas famílias perderam o controle sobre seus filhos, estão sendo vencidos pela violência no país que está explicita nas ruas, nos jornais e todos os meios de comunicações. A partir do momento que o pai e a mãe perdem o controle dos filhos em casa, automaticamente o professor também perde na escola.
Analisou-se a conversa dos entrevistados, que quando existem desfiles por ocasião de formaturas, percebeu-se que o povo gosta muito do padrão militar, principalmente no aspecto da ordem unida, onde o público externo pára e espera para ver o exército, a polícia, o Projeto Bom Menino e qualquer outra instituição que desfile de forma padronizada ou semelhante aos militares. Muitos pais valorizam os ensinamentos dos hinos e canções oficiais do país, do estado e do município, comentando que matriculam sua filha ou filho no Projeto Bom Menino apenas para vê-los desfilando no dia sete de setembro com o uniforme da instituição. Outros procuram devido às atividades e o espaço para as atividades físicas como forma de lazer, mostrando a deficiência do município nesse aspecto.
As práticas do Projeto Bom Menino sempre estiveram voltadas para o atendimento de crianças e adolescentes do município de Itaituba, apresentando as mesmas diretrizes adotada na matriz, cumprindo o previsto na lei dos direitos da criança e do acompanhamento de órgãos que auxiliam no trabalho social.
A pesquisa de campo mostrou que do conjunto de atividades alternativas ofertadas pelo Projeto Bom Menino, a sociedade se beneficia tanto na questão educacional dos filhos, como da questão econômica, social e cultural.
As ações do Projeto Bom Menino vem contribuindo com a sociedade itaitubense tirando um grande número de crianças das ruas, evitando que possam cometer crimes ou serem vítimas da criminalidade, como do envolvimento com drogas, prostituição infantil, roubos e outros.
Assim, na medida em que acolhem as crianças oferecendo a elas complemento escolar, atividades esportivas, culturais e sociais, o Projeto Bom Menino está contribuindo com a formação social da criança e dando aos pais a oportunidade de trabalharem tranqüilos.
A entidade nos treze anos de sua existência já encaminhou muitos adolescentes para um futuro com melhores perspectivas de emprego, tendo-se vários exemplos de ex-alunos que afirmam terem encontrado orientações e conhecimentos para aquilo que escolheram ser como profissional e também como pessoa. Assim, o Projeto Bom Menino é para muitos, um lugar onde se encontra auxílio educacional, social e cultural, trabalhando com crianças mais preocupada  com o adulto que elas vão ser.  

Se observamos a história de homens e mulheres que mais brilharam em suas inteligências constataremos que a curiosidade, o desafio, a sede de aprender, a capacidade de se colocar como aprendiz diante dos acontecimentos da vida eram seus segredos. (Ibidem, 2007: 115).

REFERÊNCIAS

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