Projeto Bom
Menino. História e contribuição social no Município de Itaituba.
JOSÉ BERNADINO PEREIRA
FILHO 1
RESUMO
Este artigo para conhecer as
razões que fazem com que tantas famílias procurem a Entidade e refletir a
contribuição do trabalho social do Projeto Bom Menino durante uma década de
serviços prestados a criança e adolescente carentes do município de Itaituba,
investigando as diretrizes e metodologias de trabalho, dos fundadores, de
alunos, de professores e de ex-alunos, que estiveram e estão no cotidiano desse
trabalho diariamente. Os Profissionais reconhecem que é um trabalho
diferenciado e são valorizados na função que atuam dentro do espaço de
trabalho. Conclui-se que o trabalho social surgiu de uma proposta dos
responsáveis das Instituições PMPA e Clube de Mães Bela Vista, sendo ampliada a
cada ano pelos demais profissionais que estiveram e estão participando desse
atendimento a criança e adolescente, tendo reconhecimento da sociedade
itaitubense e demais Instituições governamentais e não governamentais,
demonstrados através dos resultados de
cada integrante que fez e estão fazendo parte dessa história no município de
Itaituba e em outros Estados do país, garantindo a participação da segurança
pública no acompanhamento do cidadão nas diversas fases da infância a
pré-adolescência, a fim de cumprir o papel de cidadãos que acreditaram na
mudança de toda uma geração e que hoje são trabalhadores dessa conquista
social.
PALAVRAS-CHAVE: Trabalho
Social. Clientela. Entidade. Atividades.
Project Good
Boy . History and social contribution
in the Municipality of Itaituba .
ABSTRACT
This article
to know the reasons that cause so many families claim the body and reflect the
contribution of social work of the Good Boy Project during a decade of services
to underprivileged children and teenagers in the municipality of Itaituba ,
investigating the guidelines and working methods , of the founders , students,
teachers and ex - students, who were and are in everyday life that work daily.
Professionals recognize that is a different work and are valued in function
that operate within the workspace . It is concluded that social work began as a
proposal of the responsible institutions and PMPA Mothers Club Bela Vista ,
being expanded every year by other professionals who have been and are
participating in this service to children and adolescents , with recognition of
itaitubense society and other governmental and nongovernmental institutions ,
demonstrated by the results of each member who did and are part of this history
in the city of Itaituba and other states of the country , ensuring the
participation of the public safety of citizens in monitoring the various stages
of childhood pre - adolescence in order to fulfill the role of citizens who
believed in the change of an entire generation and today are workers that
social achievement .
KEYWORDS : Social Work .
Clientele . Entity. Activities
1 INTRODUÇÃO
A cultura do homem está relacionada a um
sistema de representações aceitas pelo grupo social, que vão alternando-se a
partir do contato do homem com a natureza, com outros homens e consigo mesmo. Existem
diferenças entre o homem e os animais, sendo considerado o tempo como fator
determinante desse processo. A partir disto, a ação do homem foi inventar sua
própria existência através do passado e projetar a ação futura.
A partir desse fator, pode-se considerar
que as diferenças entre o homem e o animal não são apenas de grau, mas por várias
maneiras pelas quais os homens respondem socialmente aos desafios de cada
período da história, a fim de realizar sua existência sempre historicamente
situada.
Observa-se que as relações que os homens
estabelecem entre si provêm das relações de trabalho, da política, da cultura e
da comunicação. Cada relação é predominante sobre a outra, produzindo efeitos
devastadores para a sociedade.
A sociedade, criação de numerosas gerações precedentes, é sempre
anterior a um individuo em
particular. Ao longo dos séculos, gerações sucessivas de
pessoas produziram linguagem, formas de governo, religião, ciência e arte, em
uma própria sociedade e sua cultura. Assim, fazendo, alteraram as
características dos seres humanos. (SABINI, 2002:47-48).
Concorda-se com o autor por haver na
Entidade essa relação sucessiva de gerações ao longo da história social e
política, de comportamentos, de aprendizagem, de profissionais e da clientela
que puderam acompanhar essa experiência e daqueles que permanecem com uma nova
abordagem diferenciada dos que os antecederam, porém, ao longo do tempo a
própria Entidade passou por mudanças que o público vê como desafiadora e
compromissada com um trabalho social que nenhuma outra instituição conseguiu
manter no período de treze anos de atividades sócio-educativas e complementares
para a vida de cidadãos que hoje contam a sua contribuição na própria
sociedade, como resultado dessa experiência.
A questão
norteadora desse estudo é conhecer e descobrir quais são as razões que fazem
com que tantas famílias procurem o Projeto Bom Menino para matricular os filhos,
refletindo na ação da Instituição que vem contribuindo há mais de uma década de
atendimento a criança e adolescente carentes do município de Itaituba,
provenientes dos diversos bairros da cidade, pertencentes a todas as classes
sociais, que estão inseridos na sociedade.
Justifica-se
nesse estudo, os motivos que as Instituições (PMPA e Clube de Mães Bela Vista),
levaram a realizar esse trabalho social a criança e adolescentes na faixa
etária de 07 aos 14 anos de idade, apresentando os seguintes pontos:
Num município
onde poucas entidades prestam serviços de atendimento a criança e adolescente, tendo
o Projeto Bom Menino como referência para manter sua história registrada, que passava
por um momento de grandes dificuldades e corria o risco de fechar por falta de
recursos: tanto materiais, quanto humanos e financeiros.
Outra
argumentação diz respeito ao fato de conhecer e participar das ações realizadas
pela entidade, descrevendo a filosofia do trabalho, a relação dos alunos
atendidos diariamente, incluindo na temática a desestruturação das famílias dos
alunos oriundos deste seguimento.
Durante uma década de fundação, criou-se
um vínculo com a Entidade, por ser um local de trabalho e oferecer serviços
para a comunidade participar desse produto que se chama conhecimento, estabelecendo
uma relação com a sociedade em que está inserida por transmitir idéias e
valores que justificam as práticas sociais vigentes.
Ao longo da história da educação, com as
chamadas sociedades primitivas, a educação era difusa, integrada ao próprio
funcionamento da sociedade como tal, de modo que todos educam a todos. Hoje,
com os avanços tecnológicos, a educação é vista como um instrumento de cultivo
dos valores herdados e de novos valores que estão sendo propostos para o homem
conhecer o espaço social, histórico e político em que está inserido.
Analisar a
educação como universal, formativa e humana é possibilitar socializar a cultura
herdada, como instrumento formador de opinião crítica dessa mesma cultura,
tornando o homem capaz de agir sobre a sociedade, e ao mesmo tempo, compreender
a sua própria ação nesse espaço.
Na conjuntura
atual, observou-se que o problema de formação social deveria ser colocado em
primeiro plano nos programas de ensino, devendo ser sistematicamente fomentada
nas escolas, transportando as grandes idéias universais e sociais para a vida
cotidiana e concreta do homem.
Os
valores humanos, quando trabalhados no espaço escolar, quer na forma de temas
transversais, quer de disciplina, podem desempenhar um papel relevante na
formação da consciência moral do aluno desde seus primeiros anos de
escolaridade. A vivência desses valores propicia uma mudança na percepção do
seu cotidiano que leva à revitalização de modos de conduta ao crescimento
harmônico do indivíduo e, em conseqüência, da sociedade em que ele se encontra
inserido (Ibidem, 2002:55-56).
Fundamenta-se
como jornada histórica à década de 90 na problemática social que assolou o
município de Itaituba a nível nacional proveniente da prostituição infantil nas
regiões de garimpo, sem haver o acompanhamento de órgãos públicos e de
diretrizes trabalhistas para a população que aumentou consideravelmente com a
crise do ouro e da reforma do governo Collor.
A Polícia Militar possui como base
institucional a prevenção da ordem pública e da preservação do patrimônio
público, como relação do serviço prestado para a sociedade do município de
Itaituba. Dessa relação constituiu-se a parceria com Clube de Mães Bela Vista
para acolher crianças e adolescentes carentes e em situação de risco da
sociedade local. A partir dessa parceria, criou-se então o Projeto Social Bom
Menino no ano de 1995, vinculada ao 15º BPM – Batalhão Transamazônica,
mantenedor do trabalho social na região, garantindo a participação da sociedade
no serviço prestado para esse tipo de clientela, atendendo aos princípios
legais da Constituição Federal de 1988, Estatuto da Criança e Adolescente e das
leis de ensino.
Os pensadores dessa
filosofia de trabalho estão vinculados às linhas humanística e social. Serão
considerados LANCASTER; SKINNER; DUERKHEIME; DEWEY; DECROLY; KERSCHENSTEINER; FRIENET;
MAKARENKO e os brasileiros da Escola Nova: AZEVEDO e TEIXEIRA.
Foram desenvolvidos
os métodos de pesquisa: documenta e de campo, analisando todo o levantamento
social do objeto de estudo, considerando as fontes que foram coletadas em
jornais, fotografias, vídeos e de arquivos da instituição.
A pesquisa está dividida em três
capítulos: o primeiro aborda a fundamentação histórica e social da temática de
estudo na visão dos principais teóricos a mediação com a sociedade durante mais
de uma década de atendimento social. O segundo capítulo faz uma análise e
reflexão do trabalho social do Projeto Bom Menino caracterizando a clientela
atendida, as atividades alternativas, os parceiros da instituição, os
profissionais a interação da família com o projeto e a expansão do trabalho
social alcançado pela entidade.
O terceiro
capítulo evidência a perspectiva histórica e social da clientela, o
levantamento anual de alunos, entrevistas, depoimentos, a mudança de Projeto
para Fundação e a metodologia, especificando através do enfoque paradigmático, fundamentou-se
na fenomenologia hermenêutica, E no quarto capitulo será realizada a conclusão
do trabalho monográfico.
Ao longo desse estudo, observou-se na
Entidade que as ações são constantes no tipo de atendimento ofertado
diariamente através do tempo de existência, construindo-se instrumentos na
sociedade atual. Este fato é percebido na história através de formas de viver
sem competividade e indiferença com todos aqueles que participaram da
construção dessa história social implantada há mais de uma década.
2 FUNDAMENTAÇÃO
HISTÓRICA, SOCIAL E EDUCACIONAL
2.1
ORIGEM HISTÓRICA, SOCIAL E EDUCACIONAL DA INSTITUIÇÃO
Constatou-se que a partir da década de
70, ocorreu o surgimento de problemas sociais na região com o surgimento dos
garimpos. O município de Itaituba no que se refere à questão social foi
bastante prejudicado em função da febre do ouro, ocasionando na grande
concentração de pessoas de todo o país em busca de enriquecer. Por causa desse
enriquecimento, homens e mulheres abandonaram seus familiares, principalmente
os filhos e partiam em busca de riqueza numa aventura cheia de ilusões,
violência e prostituição. Desse conjunto de problemas sociais, crianças e
adolescentes viviam em situação de risco, mulheres exploradas sexualmente,
prostituição infantil e do surgimento de gangs em todo o município, originado
em grande parte pela desestruturação familiar.
Todas as problemáticas não foram
solucionadas imediatamente. As empresas que se instalaram na região estavam
preocupadas apenas com o lucro deixando a população vitimada de doenças,
violência urbana, com assassinatos diários, crianças e adolescentes abandonadas
e iniciando a vida sexual precocemente.
O município passou por transformações
econômicas que influenciaram o comportamento das pessoas quanto as suas
atividades no inicio dos anos 90 com a diminuição da produção de ouro e queda
de preço no governo Collor.
Na educação, o município passou a
receber investimentos do governo federal, ampliando as estruturas
administrativa e física das escolas públicas, capacitação dos profissionais de
educação as políticas de inclusão ofertadas pelo município, alcançando grandes
resultados e na melhoria da qualidade de vida da população.
A entrevistada e fundadora da Entidade Maria
Silva Oliveira (Dona Mana) preocupada com a situação de risco em que viviam
muitas crianças, teve a idéia de fazer uma parceria entre o Clube de Mães Bela
vista e o 15º BPM Batalhão Transamazônica, no comando do Tenente Coronel Adonai
Eber Rodrigues Leitão. Dessa parceria surgiu o Projeto Bom Menino, com o
objetivo de prestar atendimento a criança e adolescentes que estavam na
ociosidade em casa ou na rua fora do horário da escola no ensino fundamental
que eram matriculadas oficialmente.
No dia 10 de julho de 1995, o Projeto
Bom Menino iniciou suas atividades com 40 crianças, sendo 28 meninos e 12
meninas, com a colaboração de policiais militares que atuavam voluntariamente nas
ações sócio-educativas, sem nenhum vínculo empregatício ou financeiro, tendo
uma equipe formada de oficiais e praças: Tenente Ronald, SGT Jucivaldo, SGT PM
Adilson, SD PM FEM. Fátima, SD PM Soares, SD PM Wagner, SD PM FEM Isabel, SD PM
FEM. Ilma e os civis voluntários Nazareno Santos e Walmy de oliveira.
A proposta propõem-se em ocupar os
filhos das mulheres que trabalhavam o dia inteiro, retornando somente no final
do dia, sentiam-se confiantes que os filhos estavam seguros e aprendendo
conhecimentos relacionados a prática da cidadania, valores e disciplina.
Durante esse intervalo as crianças
permaneciam um horário na escola regular e outro horário no quartel
participando de atividades de música, ordem unida, canções, hinos oficiais,
atividades físicas e recreativas para uma aprendizagem para a vida e do
exercício da cidadania.
É
preciso que os pais, ao matricularem os seus filhos, conheçam esse perfil de
aluno e a proposta que a escola tem para desenvolvê-la e se interessam em
acompanhar as práticas implementadas para esse desenvolvimento. (HENGEMUHLE,
2004, p: 45)
2.2
OS PENSADORES DA ABORDAGEM HISTÓRICA E SOCIAL
Sabe-se que na história
a teoria dos grandes pensadores tem influenciado o comportamento das pessoas no
mundo inteiro. E quando o assunto é a questão social se faz necessário dizer,
tendo a sociologia que passou a ser considerada como ciência com Emile
Durkheim, que acreditava ser os fatos sociais o modo de pensar, sentir e agir
de um grupo social, sendo que os fatos devem ser estudados como “coisas”.
Neste sentido, o
estudo busca compreender a realidade do Projeto Bom Menino e a sua clientela
estudando esta questão social de forma particularizada, embasada em pensadores
que defendiam ou tentaram explicar essa relação do ser humano uns com os outros
dentro de uma ótica capitalista.
Para Durkheim, o sistema sociológico
baseia-se em quatro princípios fundamentais: 1) A sociologia é uma ciência
independente das demais ciências sociais e da filosofia. 2) A realidade social
é formada pelos fenômenos coletivos, considerados como “coisas”. 3) A causa de
cada fato social deve ser procurada entre os fenômenos sociais que o antecedem.
Para explicar o fenômeno social, deve-se procurar a causa. 4) Todos os fatos
sociais exteriores aos indivíduos, formando uma realidade especifica.
(OLIVEIRA, 2001: p:227)
Segundo Durkheim (2001: 227) “o ser
humano é um animal que só se humaniza pela socialização”. É com base nesses
princípios que algumas das atividades do Projeto Bom Menino são planejadas,
buscando-se enfatizar tais questões no estudo da sociologia, para auxiliar no
desenvolvimento de crianças e adolescentes o exercício do pensamento crítico,
respeitoso e humano.
O Projeto Bom Menino realiza um trabalho
de monitoria, de competência de alunos
mais velhos ou com destaque dentro das atividades de anos anteriores dentro da
entidade. Essa metodologia é conhecida como método de Lancaster ou método
Lancasteriano, por ter a participação de monitores durante a realização das
atividades, por serem os responsáveis diretos entre o professor e os demais
alunos, pela organização geral da escola, da limpeza e fundamentalmente da
manutenção da ordem.
Adotando esse método, o Projeto Bom
Menino vem complementar a teoria do estudioso, onde esse procedimento é visto
entre os alunos sucessivos como a maior conquista para assumir essa função,
tida como promoção, uma premiação ou uma aprovação para estar nesse cargo e
atingir um grau de posto superior dos colegas que estão freqüentando o horário
de expediente, por ser gratificante, acolhedor e de respeito entre os colegas,
funcionários, professores e militares. Na fala dos monitores, essa função não é
utilizada na escola pública que pertencem, gerando desconforto para eles ao
tentarem usar o mesmo método na escola que estão freqüentando, pois, o público
desconhece as normas que a instituição de ensino adota na proposta de trabalho
letivo, por adotar uma educação voltada para a promoção da clientela de ano
escolar. Todos os trabalhos realizados pelos monitores estão sob a orientação e
supervisão de um professor, sendo ele civil e de um militar, dependendo da
natureza da atividade.
“Os decuriões sendo os melhores alunos da
classe, estudavam as lições e, ao mesmo tempo, faziam seus discípulos estudarem
e ficarem bem comportados, para o sossego e a boa ordem em sala de aula. Em
cada classe havia os monitores que reestudavam as lições para ensinarem aos
decuriões e estes, como já vimos deveriam transmitir imediatamente os conhecimentos
aos discípulos. Os monitores também eram encarregados de tomar a lição no final
das aulas e vigiar a disciplina da classe. Eram selecionadas as classes mais
adiantadas, entre os melhores alunos e de boa conduta, sendo portanto, dignos
de merecer confiança.” (FREIRE, aput e FERREIRA, 2001:81-82).
Apesar dessa estratégia de ensino não ser mais usada nas
instituições públicas, observou-se nos adolescentes que essa relação de
administrar e acompanhar colegas diurnamente possibilita ao aluno aperfeiçoar
esta experiência para a vida, buscando conhecer habilidades que serão usadas em
qualquer ambiente. Nesse conjunto de informações do exercício da monitoria,
existe uma premiação que satisfaz a auto-estima desse público na faixa etária
de 14 aos 16 anos de idade, demonstrada pelo bem estar em receber uma insígnia
que o designará na função de monitor, diferenciando dos demais colegas de sua
turma e de toda a instituição.
A
coordenação pedagógica, militares e corpo docente usam esta proposta no
cotidiano das atividades para cumprir e garantir um padrão que existe nesse
trabalho, sem haver discriminação de ambas as partes, por entenderem que a
função de monitoria exige amadurecimento, respeito e na prática de cidadania em
qualquer ambiente que venham participar, aplicando os conhecimentos apreendidos
para a vida.
Quanto ao
comportamento dos alunos, a metodologia configurou-se na teoria de Burrhus
Frederic Skinner, com a aplicação do condicionamento operante. Sua teoria pode
ser percebida nas atividades de ordem única, onde a repetição de movimentos
condicionados leva o aluno a um comportamento físico e mental. Tal relação
desse pensador está presente nas canções e gritos de guerras, sendo que a
aprendizagem ocorre através de condicionamentos operantes, considerando que a
primeira tarefa do professor será modelar respostas apropriadas, ou seja,
obrigando os estudantes a emitirem respostas adequadas e dirigidas por
estímulos modeladores do comportamento.
A proposta de ação do Projeto Bom Menino
se preocupa em preparar o aluno para a vida através de oficinas que promovem e
nas operações de campo, onde os alunos são testados através do condicionamento físico
e mental, afim de que numa situação real possam se adaptar as necessidades do
momento e as urgências circunstâncias que o tempo determina como prioridade
nessa região. Essa forma de educação é defendida pelo teórico DEWEY que se
preocupou com o lado prático, pragmático da educação, principalmente com a
adequação desta ao meio e a evolução social:
“Quando
os homens viviam em pequenos grupos que tinham pouco que ver com os demais, o
dano que a educação intelectualista e memorista causava era realmente muito
pequeno. Mas agora é diferente. Os métodos e operações industriais dependem,
hoje, do conhecimento dos fatos e leis das ciências naturais e sociais, num
grupo muito maior do que o foram antes. Nossas ferrovias e barcos, os bondes,
telégrafos e telefones, fábricas e granjas de trabalho, e até nossos recursos
domésticos comuns dependem para sua existência de intricados conhecimentos
materiais, físicos químicos e biológicos. Dependem. Em sua melhor e última
aplicação, de uma compreensão dos fatos e relações da vida social”. (DEWEY,Apud
Larroio, F. op cit., 769).
DEWEY
defendia que a educação não só deve adequar-se ao mundo em que se verifica, como também é fator de progresso
desse mundo: “ A educação é o método fundamental do progresso e da ação social”
e “ o professor ao ensinar, não só educa indivíduos, mas contribui para formar
uma vida social justa”. (Apud ABBAGNANO, 1964:644)
O pensador defende que o processo
educativo tem dois aspectos: um psicológico, que consiste na exteriorização das
potencialidades do indivíduo, e outro social, que consiste em preparar o
indivíduo para as tarefas que desempenhará na sociedade. Cabe à escola tentar
em vista que as potencialidades do aluno só encontram significado dentro de um
ambiente social.
O trabalho realizado pelo Projeto Bom
Menino tem uma preocupação em colocar no seu cronograma de atividades tarefas
que possam está contribuindo para o trabalho de vida da clientela desde as
atividades mais simples as mais complexas como: enxugar pratos como também
tocar instrumento musical. Essas medidas se fundamentam na teoria do professor
alemão KERSCHENSTEINER que propõe a escola do trabalho educativo em oposição à
escola intelectualista e memorista. Para KERSCHENSTEINER, “o caminho para o
homem ideal passa pelo homem útil”. (1997.115). Pois na sua visão KERSCHENSTEINER
acredita que o trabalho é, antes de tudo, um exercício para preparar cidadãos
úteis e que a escola deve formar cidadãos úteis ao estado. Dessa forma o
Projeto Bom Menino através das atividades aplicadas para os alunos, dão crédito
a qualificação profissional para os adolescentes que vão atuar no espaço da sociedade
itaitubense.
Os trabalhos de grupos realizados no
Projeto Bom Menino assemelham-se em vários aspectos com a ideologia de MAKARENKO
que defendia para a educação um processo com base no trabalho produtivo e na
supremacia do “coletivo” sobre o indivíduo, na disciplina e na solidariedade
humana. No planejamento anual existem diversas atividades individual e
coletiva, sendo que as coletivas são predominantes, tendo como meta da Entidade
preservar a socialização da clientela, da família e da comunidade, beneficiando
o individuo diante das dificuldades que surgem na relação social,
principalmente na relação familiar e escolar.
Dentro desse processo sócio-educacional
os alunos têm oportunidades de trabalhar com textos livres, com jogos e
cálculos, pois não existe uma obrigatoriedade curricular quanto à proposta de
atividades. O que se propõe ao aluno é um quadro de atividades complementares
visando um melhor engajamento nos seus estudos. Esse método tem sustentação
pedagógica em
Celestin Freinet , que defendia o espírito democrático
resultante da contribuição de alunos e professores.
A partir da fundação, o Projeto Bom Menino
sempre investiu na interação com a comunidade, complementando nas atividades voltadas
para as questões sociais. Esses princípios estão baseados nos ideais de AZEVEDO
que foi e é muito importante para a educação brasileira. Acreditava-se ser
necessário pensar no desenvolvimento econômico e a democracia a partir de uma
reflexão sobre educação:
A
educação poderá ser força renovadora se for recuperada a sua dimensão política
e social. Como? [...] dentro das condições democráticas de participação, com a
conquista de mecanismos de expressão social e comunitária. A educação (e deve)
ser instrumento de democratização e modernização social. (PENNA, 1987.93)
Constatou-se que Fernando de Azevedo
pensava na educação com grande preocupação no social. Acreditava haver uma
relação imediata entre a transformação de educação e a transformação social. A
escola idealizada por Azevedo pretendia sintetizar estas duas percepções:
preparar o educando em sua moral e ética e disponibiliza-lo para o trabalho e
para vida social. É nesse sentido que o Projeto Bom Menino visa formar cidadãos
mais cooperativos, comprometidos com a coletividade, disposto a lutar por suas
condições de vida para si e seu grupo social.
Um grande teórico da educação brasileira
no século 20, TEIXEIRA (1900 – 1971) defendia que a educação deve ter sentido
pragmático acompanhando a trípice revolução da vida atual: intelectual, pelo
incremento das ciências; industrial pela tecnologia e social, pela democracia.
Essa concepção exige segundo TEIXEIRA “uma educação em mudança permanente, em
permanente reconstrução”. (2008.27)
É com base nessa visão do pensador
brasileiro que a Entidade Bom Menino busca oferecer instrução aos alunos que
possam ter senso prático na vida de cada um deles. Essa realidade é vista nas
escolas comunitárias, onde deveriam ser atendidas todas as necessidades dos
alunos. Isto é constatado na medida em que o aluno do Projeto é matriculado
numa escola de ensino regular, ele passa a ter um ensino integral, só que em
instituições diferentes.
Nas atividades da Entidade, o aluno tem
a oportunidade de escolher que tipo de atividade quer praticar de acordo com as
suas habilidades. Essa maneira de ensinar também era uma das idéias do
estudioso brasileiro que dizia: “Como não aprendemos tudo o que praticamos, e
sim aquilo que nos dá satisfação, o interesse do aluno deve orientar o que ele
vai aprender, portanto, é preciso que ele escolha suas atividades”.
2.3 ÓRGÃOS DE ATENDIMENTOS NO
TRABALHO SOCIAL NO MUNICÍPIO DE ITAITUBA
O Projeto Bom
Menino vem desenvolvendo no decorrer dos seus treze anos de história uma ação
sócio-educativa integrada com o Clube de Mães Bela Vista, o 15º Batalhão de Polícia
Militar do Estado do Pará – Batalhão Transamazônica, Prefeitura municipal de
Itaituba, através da Secretaria Municipal de Educação e o Ministério Público. Dentre
os órgãos citados, o Clube de Mães Bela Vista foi o primeiro a fazer parte
dessa parceria, pois foi através dele que teve origem o Projeto Bom Menino.
O Clube de Mães
Bela Vista tem como objetivo a valorização do trabalho da mulher. A entidade
trabalha na sua comunidade com cursos de pintura em tecidos, em gesso, em
cerâmica, tapetes e outros. Também eram confeccionados cursos de bonecas de
doces, cestas de cipós de sacolas e outros.
O 15º Batalhão
Transamazônica órgão mantenedor da Entidade no município de Itaituba nos treze
anos de existência, sempre esteve presente prestando serviços de apoio como do
uso de materiais e de recursos humanos, garantindo o previsto na Constituição
do Estado do Pará, do dever de manutenção da ordem pública, na segurança do
cidadão e prevenção do crime.
O Batalhão Transamazônica contribui com
a ação do Projeto Bom Menino através da concessão do espaço para as atividades
de informática, aulas de música e teatro, quadra de esporte, campo de futebol,
o auditório para reuniões, encontros e palestras. Além dessas dependências, também
colabora com as viaturas sempre que solicitada pela coordenação do projeto para
vários tipos de atendimentos.
A Secretaria Municipal
de Educação tem colaborado com o Projeto Bom Menino desde a sua fundação. Dessa
parceria, a princípio deu-se através de um convênio de cooperação técnica no
governo do Prefeito Edílson Dias Botelho, gestor municipal que investiu na
Entidade, com o efetivo de professores, funcionários de apoio, materiais e de
cursos que foram ofertados para capacitar os funcionários. No início era bem
maior a contribuição da Secretaria de Educação, pois além dos professores,
também forneciam pessoal de apoio (serventes e merendeiras) e do fornecimento
de merenda escolar para o lanche dos alunos.
A partir de 2007,
a Secretaria de Educação reduziu o quadro de funcionários a retirada do
fornecimento de merenda escolar, mas continuou com a parceria, mantendo um
auxiliar administrativo e oito professores, sendo dois deles policiais
militares concursados como professores pela prefeitura municipal.
Nessa luta contra
as desigualdades sociais, o ministério público de Itaituba também contribuiu
nesse atendimento a crianças e ao adolescente, dando encaminhamento de apenados
de justiça para pagar suas penas, contribuindo com trabalho social na
instituição, através do fornecimento de cestas básicas de pessoas com débitos
na justiça.
3 REPERCUSSÃO DO TRABALHO SOCIAL DO PROJETO BOM
MENINO
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA CLIENTELA ASSISTIDA NA ENTIDADE
No início da sua fundação a proposta do
Projeto Bom Menino era de atender crianças pobres em situação de risco, de
promover segurança ou que estivessem na ociosidade, devendo estar na faixa
etária de 7 aos 14 anos de idade e matriculadas na escola pública para que
fossem acompanhadas através de complementação pedagógica de profissionais
habilitados para assumir esse papel na Entidade.
Atualmente o
Projeto Bom Menino atende crianças e adolescente de todas as classes sociais,
porém, sendo necessário que estejam matriculadas numa escola de ensino regular
do ensino fundamental ou médio. A faixa etária alterou de 06 para 12 anos de
idade, pelas propostas provenientes das leis de ensino. Devido a essa alteração
da faixa etária, existem casos de alunos que quando completam 14 anos não
querem sair do Projeto Bom Menino, nesses casos se o aluno for auxiliar, xerife
ou monitor abriu-se uma exceção, permanecendo por mais um ou dois anos, havendo
casos de monitores que saíram do Projeto aos 18 anos.
Quanto à questão
de estrutura familiar, grande parte dos alunos vem de famílias desestruturadas,
ou seja, a maioria não tem pai e mãe morando juntos, outros moram com avós,
tias ou tios. É comum encontrar alunos em que a mãe ou pai trabalham fora da
cidade, na maioria dos casos em garimpos, e as vezes não retornam para assumir
na assistência familiar, enviando somente dinheiro para as necessidades de
alimentação, escola e saúde. Existem casos que ficam sem nenhum tipo de
assistência, permanecendo sem contato com o vínculo familiar.
Quanto a moradia,
temos alunos de todos os lugares da cidade, de bairros periféricos como do
quilômetro cinco (Km 5), miritituba e todos os bairros da cidade. Dentre eles
um número bastante considerável moram de aluguel ou de tomar conta de
residências que os donos vão trabalhar em outras cidades, permanecendo por um
período indefinido.
A maioria das crianças são do sexo
masculino, quase que cem por cento (100%) são matriculados na rede pública de
ensino municipal ou estadual, fato analisado através da estatística de
matrícula, cedido pela Secretária da entidade, demonstrado nesse estudo, mas,
desse resultado, existem alunos que pertencem a rede privada de ensino.
A instituição realiza um trabalho de
prevenção, aonde a criança ou adolescente não venham seguir os caminhos da
marginalidade ou se encontram em situação de risco, por existir no município
instituições do governo que acompanham esses casos de vulnerabilidade social. Nesse
sentido, não se trabalha com menores infratores, caso aconteça é feito o
encaminhamento para um órgão competente tomar as devidas providências.
3.2
ATIVIDADES ALTERNATIVAS OFERTADAS PELA INSTITUIÇÃO
As atividades de
complementação escolar são todas realizadas sobre a orientação de um professor
ou de uma professora que pode estar acompanhado ou não de um monitor. A
exigência desse profissional nessas atividades é pelo fato de serem de cunho
pedagógico. E quanto à metodologia usada, depende das características da turma
e do professor.
A ordem unida é
uma prática constante, desde a entrada a saída dos alunos diariamente, sendo colocado
em forma dentro dos pelotões pelos monitores e em seguida é apresentado a um
militar que passará orientações sobre as atividades do dia, cantam hinos e
canções, como o hino nacional, hino a bandeira, hino do Pará, hino da policia
militar, hino do Projeto Bom Menino e o hino de Itaituba entre outros como os
gritos de guerras. A ordem unida é fundamental segundo os professores para
manter a ordem e a disciplina com os alunos.
Nos dias que
ocorrem a prática de educação física, geralmente na terça-feira e na
quinta-feira depois do complemento escolar, os alunos antes de atividades como
futebol de salão, de campo, vôlei ou queimada passam pela preparatória (alongamento
e musculação), afim de que não hajam contusões por falta de aquecimento. Depois
da preparatória os alunos participam da corrida ao redor do campo e são
cobrados de acordo com a capacidade física de cada um e dentro da sua faixa
etária.
A música sempre
esteve associada às tradições e às culturas de cada época, sendo necessário que
todos tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes,
interpretes, compositores improvisadores dentro e fora da sala de aula. Assim o
Projeto Bom Menino mantém sua banda de música, ensinando as crianças que possam
demonstrar desde a vocação e da vontade de aprender. Todos têm oportunidades mais
apenas alguns se dedicam realmente nas instruções. Os que passam nas primeiras
etapas aprendem a tocar: flauta, bumbo, corneta e outros instrumentos.
Outra atividade que também mostra o lado
artístico do aluno é a oficina de teatro, dando ao aluno oportunidades de
mostrar sua capacidade, seu improviso, ou seja, os alunos encontram no teatro
uma forma de se comunicar com as outras pessoas.
A capoeira também é uma das atividades
desenvolvidas, sendo considerada como luta para definir regulamentação, para punir
atividades previstas no embasamento teórico e prático. São desenvolvidas
através de discussões de aspectos histórico, social, político e educacional,
desenvolvendo habilidades da prática em manifestações da cultura popular e de
eventos realizados na sociedade.
3.3 PARCEIROS DA
INSTITUIÇÃO PROJETO BOM MENINO
Desde a sua fundação o Projeto Bom Menino passou por dificuldades
na estrutura física e administrativa de recursos humanos e logísticos, e
principalmente na aquisição de recursos financeiros, mas sobreviveu às mudanças
econômicas que atravessava o país. Mas de todos os problemas que surgiram,
preservamos a conscientização de cidadãos para a preparação profissional no
mercado de trabalho local e regional, levando a causa ao conhecimento. Descrever-se-á
os principais parceiros que contribuíram e ainda contribuem com a ação social
do Projeto Bom Menino.
A Secretaria
Municipal sede os profissionais para as atividades pedagógicas e de apoio,
professores, auxiliar administrativo e servente, além de emprestar materiais
para comemorações, como por exemplo, cadeiras e outros.
O Ministério Público
colabora com doações de cestas básicas através de seus apenados e também com
doações de materiais permanentes como, por exemplo: mesas e cadeiras.
A Igreja Testemunha
de Jeová, pertence ao grupo de parceiros, colaborando através de duas
programações que ocorrem em dois meses consecutivos (abril e setembro), na
manutenção das instalações ou do pagamento de uma taxa para ajudar na compra de
alimentação, para realizar encontros evangélicos.
Nesse conjunto de colaboradores, a
Igreja Adventista organizadora do evento camporre, reúne jovens de todos os
municípios para compartilhar experiências de suas atividades. O Projeto Bom
Menino vem participando a partir do ano de 2006 por dois anos consecutivos,
buscando reunir ações dessa instituição religiosa para compartilhar
experiências com todos os jovens que representam, demonstrando uma relação de
coletividade, espiritualidade e companheirismo para solucionar conflitos pessoais
e coletivos.
O IBAMA é colaborador dessa ação social
através de doações de madeira para confecção de móveis e de peixe quando fazem
apreensão. A Fricon, também é colaboradora doando iorgute que ajuda na merenda
das crianças.
A rádio
alternativa FM também contribui com a ação da entidade cedendo uma hora de
programa todos os sábados para a divulgação das atividades do projeto Bom
Menino. O programa Bom Menino em Ação Comunitária é apresentado pelo professor
Roberto Carlos dos Santos e a professora Maria Elenilda Fideles Rodrigues.
Todos esses parceiros são muito importantes para o fortalecimento da ação
promovida por esta entidade.
4 PERSPECTIVA HISTÓRICA E
SOCIAL DA CLIENTELA
4.1. PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS
De acordo com os caminhos seguidos na composição
desse estudo e dos resultados, a pesquisa caracteriza-se como qualitativa, tendo
como objetivo chegar a compreensão da problemática investigada e não somente a
sua explicação.
Nesse trabalho foram utilizadas como
modalidades de pesquisa: a bibliográfica, documental e de campo. Na pesquisa de
campo realizou-se quatro tipos de questionários: semi-abertos para serem
aplicados a quatro tipos de público diferentes, sendo o primeiro para os alunos
atuais do Projeto Bom Menino, o segundo para os ex-alunos, o terceiro para os
pais ou responsáveis de alunos e o quarto para professores da Entidade, utilizando-se
os depoimentos de pessoas ligadas diretas e indiretamente ao trabalho social.
A pesquisa documental foi realizada na
secretaria do Projeto, precisamente nos arquivos, onde estavam as pastas de
todos os alunos que já passaram pelo Projeto Bom Menino, sendo de fundamental
importância para esclarecer os dados questionados na pesquisa.
Verificou-se a ficha de inscrição do
aluno, sendo possível coletar várias informações a respeito da vida do público
assistido. Nessa ficha constam as profissões dos pais, a renda, número de
filhos, o tipo de residência, quantidade de irmãos, se moram com os pais ou
outras pessoas, se os pais moram juntos ou separados. Ou seja, a ficha de
inscrição ajuda na compreensão da vida do aluno em vários aspectos, durante a
permanência no trabalho social.
4.3
RESULTADOS DAS ENTREVISTAS E DEPOIMENTOS
A pesquisa mostrou que o trabalho
sócio-educativo da Entidade na visão dos pais, professores, alunos e ex-alunos,
vêm contribuindo para o desenvolvimento da criança e do adolescente, a fim de saber
lidar e enfrentar as dificuldades das problemáticas que surgem na sociedade
Itaitubense. Alguns relatam que o serviço ofertado promove a valorização do
individuo e do espaço que pode assumir futuramente como profissional ou no
ambiente familiar.
No período de setembro a novembro de
2008, foi realizada a pesquisa de campo abrangendo quatro categorias, sendo
aplicado para cada um deles, um questionário semi-aberto diferente. Os públicos
mencionados são: alunos atuais; ex-alunos; pais de alunos e professores do
Projeto Bom Menino.
Além dos questionários semi-abertos que
foram aplicados, foi necessário colher alguns depoimentos de profissionais e
voluntários que acompanharam e dão assistência no serviço social do Projeto Bom
Menino.
No relato dos pais, os mesmos
responderam que procuram a Entidade por vários motivos, como: complemento
escolar, espaço para ocupar os filhos nas atividades esportivas e culturais.
Outros buscam auxiliar quanto a disciplina dos filhos e da socialização em
qualquer local que estejam. Alguns afirmaram que acham bonito por ser uma
instituição de vinculo militar e por estarem constantemente participando das
atividades de formas alternativas, das quais os próprios pais são convidados
para participar. Existem casos em que a família não quer ter trabalho para
cuidar dos filhos, ocupando-os em tempo integral. Desse resultado, constatou-se
que a maioria provém de famílias desestruturadas e dos diversos segmentos
sociais, mas a problemática ainda contínua sendo a relação familiar.
Os professores fizeram a seguinte
colocação: os alunos vêm de escolas públicas que adotam um plano de trabalho
semestral, pois, percebem através da complementação escolar que os alunos
trazem inúmeras atividades sem haver um planejamento para estruturar esse
trabalho escolar, acarretando um acúmulo de atividades que sobrecarregam tanto
o professor quanto o aluno. Outros apresentam poucas atividades provenientes
das atividades escolares, sendo necessário incluir nas atividades que a
Entidade promove.
Os alunos comentaram que gostam da
metodologia da Entidade, desde a prática de ordem unida às atividades
relacionadas às atividades militares (marchas, caminhadas, corridas e
atividades físicas), possibilitando grandes resultados para a clientela e para
a Entidade, tendo uma grande representatividade em todos os eventos promovidos
na sociedade.
Os ex-alunos falam que foi importante
ter sido aluno do Projeto Bom Menino, pois aprenderam a ter mais
responsabilidade e respeito, sem falar das amizades que construíram durante o
período que permaneceram na Entidade. Muitos atribuem ao emprego que possuem
hoje as atividades que aprenderam na passagem pela conquista desse espaço
social aberto a comunidade podendo usufruir desses conhecimentos e experiências
de militares, professores e funcionários. Exemplifica-se nesse processo de
trabalho os músicos, universitários e de outros que estão servindo o exército
brasileiro.
Muitos alunos estão por vontade própria,
por estar em um espaço que aceitam as experiências que os alunos trazem do
ambiente social e ajudam a enfrentar os desafios que são apresentados
diariamente, principalmente para saber lidar com decisões e ações que poderão participar
e colaborar na sociedade. Existem alunos que estão somente por que os pais
querem, por apresentar problemas de aprendizagem, comportamentos e
relacionamento conflituosos com a família e na escola.
Nesses casos, chega-se pensar que os
pais ou responsáveis estão fugindo de suas responsabilidades, transferindo a
problemática para a escola e para a Entidade. Existem casos de 11 (onze) alunos
morar com os avôs que estão matriculados na escola, na Entidade e ainda na
escolhinha de futebol de uma igreja ou de outro local que possam ocupar a
criança. A pesquisa de campo passou por várias etapas, tendo a necessidade de
ouvir as experiências das pessoas que estão envolvidas na ação social do
Projeto Bom Menino. Depoimentos de pessoas que passaram e estão participando
das atividades diurnamente.
O
objetivo da banda de música é capacitar os alunos para fazerem leitura musical
básica da flauta, podendo estender para outros instrumentos que implicam em
estudos mais aprofundados. Desde a criação da banda em 2004, temos
representantes no exército e muitos outros alunos seguem aperfeiçoando seu
conhecimento musical que teve iniciação aqui no Projeto Bom Menino. A partir de
2008 teve a inclusão de outros instrumentos na banda como sax alto, clarinete e
flauta transversal. Alguns alunos que tocam esses instrumentos são inclusos na
banda da polícia nos desfiles militares. Atualmente a banda é composta por 16
flautas doces, 4 instrumentos de metal, sendo 2 sax e 2 clarinete, uma flauta
transversal, um bumbo e um tarol. A perspectiva para 2009 é colocar pelo menos
um instrumento de cada naipe.
SILVA,
Paulo Sérgio da. Cabo Policial Militar, instrutor da banda de Música do Projeto
Bom Menino.
A capoeira pode ser entendida como uma dança ou um jogo. Já foi
usada como arte para matar silenciosamente. Mas hoje tem como objetivo o
desenvolvimento físico, mental e motor. Ela ajuda a manter o equilíbrio dos
alunos, desde que sejam bem orientados sobre seu uso.
Hoje o número de alunos é pequeno em relação à procura, pois não
tem condições de atender mais do que os 20 alunos que estão na oficina. Tem
aluno que não tem condição financeira de adquirir o uniforme. Isso é
lamentável, mas é verdade.
Além do Projeto Bom Menino, também realizamos apresentações de
capoeira fora da instituição nos eventos convidados e que tenha haver com a
história da capoeira. O capoeirista é identificado pela postura e em alguns
lugares ainda sofrem por causa do preconceito que algumas pessoas têm sobre
este movimento.
OLIVEIRA, Mirlandi de Moura. Cabo
Policial Militar, Instrutor de capoeira
no
Projeto Bom Menino.
A lei nº. 9.608
de 18 de fevereiro de 1998, regulamenta o serviço voluntário, para fins desta
lei, a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública
de qualquer natureza, ou instituição privada de fins não lucrativos, que tenha
objetivos cívicos, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência
social, inclusive mutualidade.
Parágrafo único. O serviço voluntário
não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista,
previdenciária ou afim.
Nesse sentido a
Entidade recebe pessoas que querem ser voluntárias, atendendo o respaldo legal,
fato constatado através do depoimento de uma das pessoas que prestam serviço
voluntário:
Sou voluntária no serviço sócio-educativo do Projeto Bom Menino
desde 2005. Sempre admirei o trabalho desta entidade e depois que matriculei os
meus filhos aqui, percebi que poderia também dá a minha parcela de
contribuição, pois trabalho com o coral de criança na igreja e tenho
experiência nessa área.
Os meus trabalhos na instituição são mais voltados para o lado da
música e do teatro, fui interprete da canção oficial do Projeto Bom Menino.
Tenho orgulho do que fiz e ainda faço sempre que possível, pois foi através do
Projeto Bom Menino que hoje eu trabalho de forma remunerada na extensão do
Projeto Bom Menino em Aveiro.
SOARES, Neusa Erlaine Leonel.
4.4 PERSPECTIVA PARA O CAMPO PROFISSIONAL
Ao completar 15 anos, a maior parte dos
alunos do Projeto Bom Menino são obrigados a deixar a entidade, com exceção de
alguns monitores que conseguem ficar depois dos catorze anos. A saída dos
alunos, especificamente os adolescentes, representa um problema a mais para o
ano seguinte, pois ao serem preenchidas as vagas deixadas por eles, os novos matriculados
não compreendem a dinâmica ou filosofia da Entidade, promovendo dificuldades
para a equipe de profissionais, desde a maneira para ensiná-los, as regras e as
atividades internas.
Outro problema é à
saída dos monitores, pois a sua ausência significa que um ou mais pelotão
ficará sem monitor. Nesse caso a coordenação e corpo docente terão que eleger
substitutos para as referidas vagas. Na maioria dos casos os novos escolhidos
estão muito abaixo dos seus antecessores, só vindo ganhar confiança a partir da
metade do semestre.
Outra relação
referente ao corpo discente diz respeito à idade permitida para o aluno deixar o Projeto, que gera outro problema, o
de pessoa desempregada. Sabe-se que não é fácil encontrar emprego, ainda mais
sendo um adolescente e sem experiência, o mercado o exclui por não estar
preparado aos padrões e normas da lei trabalhista.
Quanto aos meninos, a maioria que pretende
servir no serviço militar do exército, precisam esperar um pouco de tempo,
entre dois à três anos de espera. A aceitação dos alunos que chegam à idade do
serviço militar é boa em função da preparação física e psicológica que recebem
na Entidade.
Independentemente
de sexo, todos são orientados a procurar a escola técnica para fazer cursos
existentes que sejam na área de seu interesse, ou de capacitação
profissionalizante que possam atender as habilidades que os mesmos possuem. Às
vezes o aluno é escrito pela Entidade, quando é possível a realização da
parceria.
Na prestação de
serviço aos ex-alunos, faz-se através do preenchimento do currículo, sendo comum
à visita dos alunos durante o ano letivo. Além disto, estão sempre pedindo
orientações quanto à prova de concursos, ENEM e vestibulares.
Nas visitas recebidas pela coordenação,
militares e professores, os ex-alunos falam que ter permanecido no projeto foi
importante para enfrentarem as situações difíceis da vida, principalmente o
desemprego. Eles dizem que aprenderam a ter coragem e conviver em grupo,
característica importante para poder encontrar e manter um emprego.
A grandeza de um ser humano não está no quanto ele sabe, mas no
quanto ele tem consciência que não sabe. O destino não é freqüentemente
inevitável, mas uma questão de escolha. Quem faz escolhas, escreve sua própria
história, constrói seus próprios caminhos. (CURY, 2007: 125)
Assim a coordenação, militares e corpo
docente esperam está contribuindo com a comunidade, na medida que orienta e
encaminha o jovem para um objetivo, seja ele, o estudo, um curso técnico, aulas
de músicas, aprendiz de mecânico o no exército, estão cumprindo o papel social
que a Entidade vem trabalhando ao longo de treze anos de atendimento a criança
e adolescente.
5 CONCLUSIDERAÇÕES FINAIS
Através da pesquisa desenvolvida foi
possível perceber que o trabalho sócio-educativo realizado na Entidade Bom
Menino estão relacionadas nas questões de caráter histórico, social e
educacional de muitas gerações de famílias da sociedade itaitubense. Itaituba
passou por ciclos econômicos que pouco contribuíram para a educação e assim possibilitou
no aumento dos problemas sociais provenientes do surgimento da crise do ouro.
Nesse sentido, as
ações desenvolvidas pelo Projeto Bom Menino tem dado assistência a muitas
famílias que tem procurado a Entidade em busca de soluções para vários
problemas em que já ocorreram com essas famílias atendidas, como também das
atendidas atualmente. São várias as razões que fazem do Projeto Bom Menino uma
entidade tão procurada pelos pais e responsáveis de alunos.
Pelo resultado do
estudo, obteve-se algumas razões que levam as famílias a procurar a Entidade.
Primeiramente, foi a questão de desestruturação familiar, ou seja, em muitos
casos a mãe é a responsável por todas as funções do lar e também do sustento da
casa. Essa situação lhe obriga a procurar um trabalho para custear as despesas
da casa e sem ter com quem deixar os filhos, sendo obrigada a procurar o serviço
do Projeto Bom Menino como solução.
Outro
levantamento constatado na pesquisa é pela falta de conhecimento dos pais, por não
saberem ensinar os filhos e reclamam que a escola ensina muito pouco na sala,
sempre mandando muita tarefa para casa. Muitos dizem que no seu tempo o
professor ensinava era na escola, não mandava nada para casa, pois naquele
tempo menino trabalhava. Isto faz com que muitos procurem o Projeto Bom Menino
como complemento escolar, o que os pais chamam de aula de reforço. Essa é uma
das razões preocupantes, pois o número de crianças nessa situação no Projeto
Bom Menino é muito grande. Isso nos remete a seguinte questão: será que as
escolas não estão ensinando ou esses alunos não possuem condições de acompanhar
o ritmo da escola? Outros dados preocupantes são daqueles pais que alegam não
terem tempo, pois o trabalho lhes ocupam a maior parte do seu tempo. Em suma,
essas razões se traduzem no baixo rendimento escolar do aluno na escola e do
despreparo das famílias para com a educação dos filhos.
Percebeu-se na pesquisa que o desemprego
dos pais biológicos é outro motivo para procurar vagas no Projeto Bom Menino
ser tão grande. Uma vez que estão desempregados na cidade, eles vão para o
garimpo ou outros municípios em busca de trabalho, nesses casos, geralmente as
crianças ficam com os avós, que por sua vez não tem mais condições de
acompanhar o ritmo das atividades dos netos e procuram à entidade em busca de
auxílio.
A disciplina enquanto padrão de
comportamento é uma das razões mais forte para um grande número de aluno estar
na instituição. Observou-se que a maioria dos pais preferem o modelo de
educação tradicional, com regras mais duras aplicadas aos alunos, dados obtidos
pelos entrevistados que concordam com a metodologia disciplinar imposta aos
alunos e ainda tem aquele que desejam mais rigor com os alunos. Foram muitas as
mães que disseram não dar conta de governar o seu filho quanto à disciplina,
tanto em casa como na escola.
“Os pais que não apenas propiciam aos
filhos boas escolas e regras de comportamento não conseguem estabelecer com
eles as diretrizes de um relacionamento mais profundo”.(CURY, 2006:150).
Isso demonstra que muitas famílias
perderam o controle sobre seus filhos, estão sendo vencidos pela violência no
país que está explicita nas ruas, nos jornais e todos os meios de comunicações.
A partir do momento que o pai e a mãe perdem o controle dos filhos em casa,
automaticamente o professor também perde na escola.
Analisou-se a conversa dos entrevistados,
que quando existem desfiles por ocasião de formaturas, percebeu-se que o povo
gosta muito do padrão militar, principalmente no aspecto da ordem unida, onde o
público externo pára e espera para ver o exército, a polícia, o Projeto Bom
Menino e qualquer outra instituição que desfile de forma padronizada ou
semelhante aos militares. Muitos pais valorizam os ensinamentos dos hinos e
canções oficiais do país, do estado e do município, comentando que matriculam sua
filha ou filho no Projeto Bom Menino apenas para vê-los desfilando no dia sete
de setembro com o uniforme da instituição. Outros procuram devido às atividades
e o espaço para as atividades físicas como forma de lazer, mostrando a
deficiência do município nesse aspecto.
As práticas do Projeto Bom Menino sempre
estiveram voltadas para o atendimento de crianças e adolescentes do município
de Itaituba, apresentando as mesmas diretrizes adotada na matriz, cumprindo o
previsto na lei dos direitos da criança e do acompanhamento de órgãos que
auxiliam no trabalho social.
A pesquisa de campo mostrou
que do conjunto de atividades alternativas ofertadas pelo Projeto Bom Menino, a
sociedade se beneficia tanto na questão educacional dos filhos, como da questão
econômica, social e cultural.
As ações do Projeto Bom
Menino vem contribuindo com a sociedade itaitubense tirando um grande número de
crianças das ruas, evitando que possam cometer crimes ou serem vítimas da
criminalidade, como do envolvimento com drogas, prostituição infantil, roubos e
outros.
Assim, na medida em que
acolhem as crianças oferecendo a elas complemento escolar, atividades
esportivas, culturais e sociais, o Projeto Bom Menino está contribuindo com a
formação social da criança e dando aos pais a oportunidade de trabalharem
tranqüilos.
A entidade nos treze anos de
sua existência já encaminhou muitos adolescentes para um futuro com melhores
perspectivas de emprego, tendo-se vários exemplos de ex-alunos que afirmam
terem encontrado orientações e conhecimentos para aquilo que escolheram ser
como profissional e também como pessoa. Assim, o Projeto Bom Menino é para
muitos, um lugar onde se encontra auxílio educacional, social e cultural, trabalhando
com crianças mais preocupada com o
adulto que elas vão ser.
Se
observamos a história de homens e mulheres que mais brilharam em suas
inteligências constataremos que a curiosidade, o desafio, a sede de aprender, a
capacidade de se colocar como aprendiz diante dos acontecimentos da vida eram
seus segredos. (Ibidem, 2007: 115).
REFERÊNCIAS
BRILHANTE, Amujaci Machado. Elaboração
de projetos Sócias. Belém. Escola de Governo do Pará. 2007.
BRITO, Sulami Pereira. Psicologia
da Aprendizagem Centrada no Estudante. Campinas:Papirus, 1989.
CURY, Augusto. O Mestre dos
Mestres: Jesus, o maior educador da história. Rio de Janeiro: Sesxtante,
2006.
_____________. Filhos
Brilhantes, Alunos Fascinantes. São Paulo: Planeta do Brasil, 2007.
FERREIRA, Liliana Soares. Educação
e História. Ijú. Unijui. 2001.
HENGEMUHLE, Adelar. Gestão
de Ensino e Práticas Pedagógicas. Petrópolis: Vozes, 2004.
LUCK, Heloísa. Metodologia
de Projetos: Uma Ferramenta de Planejamento e Gestão. Petrópolis: Vozes,
2005.
WHINTAKER, Jussara Saldanha. Breves
Notas Sobre a Preparação da Monografia. Itaituba, FAI. 2008.
OLIVEIRA, Pérsio de Oliveira. Introdução
à Sociologia. São Paulo: Ártica, 2001.
PEREIRA, Cláudio Ludgero Monteiro. Enfoques Metodológicos na Investigação Científica. Pará: UFPA,
2006.
PILETTI, Nelson. PILETT. Claudino. História da Educação. São Paulo. Ática,1997.
PROJETO BOM MENINO, Documentos
Oficiais e fotos. Itaituba,2008.
SABINI, Mª Aparecida Cória (Org.). Construindo Valores Humanos na Escola. Campinas: Papirus, 2002.
TEIXEIRA, Anísio. Revista
Nova Escola. São Paulo: Abril, 2008.
THUMS, Jorge. Educação dos
Sentimentos. Canoas: Ulbra,2003.
TOZONI- REIS, Marilia Freitas de Campos. O que é pesquisa?. Curitiba. IESDE, 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário