A lenda da montanha de ouro que pode tornar uma pessoa rica do dia
para noite não terminou em Serra Pelada, em Curionópolis, município do
sudeste paraense. O LIBERAL acompanha essa saga há 36 anos, por meio de
uma série de reportagens, desde que o maior garimpo a céu aberto do
planeta foi descoberto em 1980, atraindo cerca de 100 mil pessoas que
até 1992, estima-se, extraíram 42 toneladas de ouro marcando para sempre
a geografia local.
“O mito não terminou; ele é imortal. Neste momento, os garimpeiros
que estão lá, em média com 60 anos de idade, estão convictos de que a
partir do primeiro semestre de 2017, eles voltarão a pegar em ouro,
desta vez, a partir da exploração do chamado rejeito’’, informou a O
LIBERAL no dia 11 deste mês, o promotor de justiça do Ministério Público
do Estado (MPE) do Pará, Hélio Rubens Pinho Pereira, que atua em
Parauapebas e, ao lado dos promotores de justiça Josiel Gomes
(Curionópolis) e de Nelson Medrado (Belém), integra o Grupo de Trabalho
do MPE que acompanha a situação em Serra Pelada.
Atualmente é impossível extrair manualmente o ouro de Serra Pelada. A
garimpagem manual atingiu o lençol freático e inundou a mina. Mas, os
garimpeiros acabam de contratar uma empresa que concluiu os estudos
técnicos e ingressou com pedido de licença ambiental nos órgãos
competentes para extrair as partículas de ouro que escaparam do garimpo
manual nos anos 80.
“Mesmo sem investidor interessado em explorar o que eles chamam de
‘primário’, a Coomigasp (Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de
Serra Pelada), que possui a concessão da área) já contratou uma empresa
para extrair o ouro que se perdeu no rejeito de terras. A empresa já fez
as sondagens e identificou que nesse rejeito há ouro, numa relação
custo-benefício, ainda que seja favorável, o que for levantado em
dinheiro a ser dividido entre os 40 mil cooperados da Coomigasp, talvez
gere para cada um cerca de um salário mínimo (hoje em R$ 880)”, explicou
o promotor Hélio. “Os garimpeiros vivem modestamente’’, contou ele.
Passados 36 anos, o sonho de se chegar perto, de novo, de toneladas
de minérios em Serra Pela, não tem fim. O antigo garimpo é agora uma
espécie de pirâmide egípcia invertida com cerca de 150 metros de
profundidade. Segundo o MPE, os garimpeiros acreditam que o túnel
construído pela mineradora canadense Colossus chegou próximo do que eles
chamam de ‘’corpo mineralizado’’. O túnel, enfatizou o promotor, também
está inundado e não foi concluído. A Colossus abriu processo de
falência e suspendeu a operação em 2014, após ter se associado em 2011 à
cooperativa.
Hélio Rubens atribuiu o processo de falência da mineradora à quebra
de confiança na empresa. “Ela ‘vendeu’ a mina de Serra Pelada com dados
falsos, apresentando um tamanho e um potencial maiores do que o real. A
bolsa de valores canadense enviou um técnico para checar a veracidade
das informações e descobriu a fraude. Resultado: a Colossus perdeu a
confiança do mercado e do governo canadenses, quebrou e hoje enfrenta um
processo de recuperação judicial em Toronto, no Canadá’’, disse o
promotor.
Sobre a nova extração de ouro a partir das pilhas de terra, o
promotor avalia que ninguém tem mais chances, como dizem os próprios
garimpeiros, de ‘’bamburrar’’ em dinheiro em Serra Pelada. No entanto,
ele pondera que o quer for obtido de recurso daqui para frente deveria
garantir, pelo menos, a aposentadoria de milhares de trabalhadores
remanescentes do ápice de Serra Pelada. Eles hoje se sustentam como
podem, disse o promotor. Alguns são pequenos agricultores; outros criam
bichos; tem quem receba pequenas aposentadorias obtidas em atividade
anterior ao garimpo ou mesmo são sustentados pelos filhos.
De acordo com o Plano Mineral do Estado Pará (PEM) 2014-2030, lançado
pelo Governo do Estado em abril de 2014, o Pará é o segundo Estado
minerador do Brasil, com a atividade formalmente presente em 55
municípios paraenses, com 170 minas ativas. Nesta segunda década do
século XXI, o Pará vai abrigar a maior mina de ferro do mundo – S11D,
que iniciará extraindo 90 milhões de toneladas, além de 20 novos
projetos de implantação e expansão, com investimentos da ordem de R$ 68
bilhões até 2017.
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