sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

HISTÓRIA: Garimpo de Serra Pelada alimenta o sonho dourado no Pará


Foto: Aureliano BancarelliA lenda da montanha de ouro que pode tornar uma pessoa rica do dia para noite não terminou em Serra Pelada, em Curionópolis, município do sudeste paraense. O LIBERAL acompanha essa saga há 36 anos, por meio de uma série de reportagens, desde que o maior garimpo a céu aberto do planeta foi descoberto em 1980, atraindo cerca de 100 mil pessoas que até 1992, estima-se, extraíram 42 toneladas de ouro marcando para sempre a geografia local. 


“O mito não terminou; ele é imortal. Neste momento, os garimpeiros que estão lá, em média com 60 anos de idade, estão convictos de que a partir do primeiro semestre de 2017, eles voltarão a pegar em ouro, desta vez, a partir da exploração do chamado rejeito’’, informou a O LIBERAL no dia 11 deste mês, o promotor de justiça do Ministério Público do Estado (MPE) do Pará, Hélio Rubens Pinho Pereira, que atua em Parauapebas e, ao lado dos promotores de justiça Josiel Gomes (Curionópolis) e de Nelson Medrado (Belém), integra o Grupo de Trabalho do MPE que acompanha a situação em Serra Pelada.

Atualmente é impossível extrair manualmente o ouro de Serra Pelada. A garimpagem manual atingiu o lençol freático e inundou a mina. Mas, os garimpeiros acabam de contratar uma empresa que concluiu os estudos técnicos e ingressou com pedido de licença ambiental nos órgãos competentes para extrair as partículas de ouro que escaparam do garimpo manual nos anos 80.

“Mesmo sem investidor interessado em explorar o que eles chamam de ‘primário’, a Coomigasp (Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada), que possui a concessão da área) já contratou uma empresa para extrair o ouro que se perdeu no rejeito de terras. A empresa já fez as sondagens e identificou que nesse rejeito há ouro, numa relação custo-benefício, ainda que seja favorável, o que for levantado em dinheiro a ser dividido entre os 40 mil cooperados da Coomigasp, talvez gere para cada um cerca de um salário mínimo (hoje em R$ 880)”, explicou o promotor Hélio. “Os garimpeiros vivem modestamente’’, contou ele.

Passados 36 anos, o sonho de se chegar perto, de novo, de toneladas de minérios em Serra Pela, não tem fim. O antigo garimpo é agora uma espécie de pirâmide egípcia invertida com cerca de 150 metros de profundidade. Segundo o MPE, os garimpeiros acreditam que o túnel construído pela mineradora canadense Colossus chegou próximo do que eles chamam de ‘’corpo mineralizado’’. O túnel, enfatizou o promotor, também está inundado e não foi concluído. A Colossus abriu processo de falência e suspendeu a operação em 2014, após ter se associado em 2011 à cooperativa. 

Hélio Rubens atribuiu o processo de falência da mineradora à quebra de confiança na empresa. “Ela ‘vendeu’ a mina de Serra Pelada com dados falsos, apresentando um tamanho e um potencial maiores do que o real. A bolsa de valores canadense enviou um técnico para checar a veracidade das informações e descobriu a fraude. Resultado: a Colossus  perdeu a confiança do mercado e do governo canadenses, quebrou e hoje enfrenta um processo de recuperação judicial em Toronto, no Canadá’’, disse o promotor.

Sobre a nova extração de ouro a partir das pilhas de terra, o promotor avalia que ninguém tem mais chances, como dizem os próprios garimpeiros, de ‘’bamburrar’’ em dinheiro em Serra Pelada. No entanto, ele pondera que o quer for obtido de recurso daqui para frente deveria garantir, pelo menos, a aposentadoria de milhares de trabalhadores remanescentes do ápice de Serra Pelada. Eles hoje se sustentam como podem, disse o promotor. Alguns são pequenos agricultores; outros criam bichos; tem quem receba pequenas aposentadorias obtidas em atividade anterior ao garimpo ou mesmo são sustentados pelos filhos. 

De acordo com o Plano Mineral do Estado Pará (PEM) 2014-2030, lançado pelo Governo do Estado em abril de 2014, o Pará é o segundo Estado minerador do Brasil, com a atividade formalmente presente em 55 municípios paraenses, com 170 minas ativas. Nesta segunda década do século XXI, o Pará vai abrigar a maior mina de ferro do mundo – S11D, que iniciará extraindo 90 milhões de toneladas, além de 20 novos projetos de implantação e expansão, com investimentos da ordem de R$ 68 bilhões até 2017.

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