O ex-diretor da área
Internacional da Petrobras Nestor Cerveró deve prestar depoimento à
Polícia Federal (PF), em Curitiba, na manhã de quinta-feira (15). A
informação foi confirmada pelo advogado Edson Ribeiro no fim da tarde de
quarta-feira (14).
"Eu conversei com o delegado e o que vai ser perguntado é justamente
sobre a movimentação financeira e a movimentação imobiliária. Se as duas
tivessem acontecido, seriam totalmente legais. Não havia qualquer
restrição naquele momento, como não há até hoje", afirmou o advogado,
após sair da superintendência da PF.
Inicialmente, o advogado disse que o cliente iria ficar calado, pois
ainda não tinha conhecimento do teor das razões do Ministério Público
Federal para pedir a prisão de Cerveró. Contudo, depois, ele confirmou
ter tido acesso aos documentos, o que pode sinalizar uma mudança no
comportamento da defesa.
Cerveró foi preso na madrugada de quarta-feira no Aeroporto
Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio Janeiro, por ser suspeito de
envolvimento em crimes investigados pela Operação Lava Jato. Pela manhã,
ele foi levado para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde
tramitam os inquéritos e ações penais oriundos da operação. Na cidade,
fez exames de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML).
O ex-diretor da Petrobras voltava de uma viagem a Londres quando foi
detido pela PF. Ele já é réu em uma das ações da Lava Jato por ser
suspeito de cometer crimes como corrupção e lavagem de dinheiro entre
2006 e 2012. Agora, ele foi preso preventivamente a pedido do Ministério
Público Federal (MPF). Por meio de nota, o MPF informou que foi
cumprido um mandado de prisão preventiva, já que "há indícios de que o
ex-diretor continua a praticar crimes e se ocultará da Justiça".
O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula afirmou que
negociações financeiras feitas por Cerveró indicam que o suspeito
tentava obter liquidez do patrimônio com rapidez. Em uma dessas
transações, disse o delegado, Cerveró chegou a perder R$ 200 mil. Este
patrimônio negociado, também conforme a PF, pode ter origem ilícita e
ser resultado de crimes cometidos por Cerveró enquanto estava à frente
da diretoria Internacional da Petrobras.
Cerveró foi diretor da área Internacional da Petrobras de 2003 a
2008, durante o governo do presidente Lula. Já no governo da presidente
Dilma Rousseff, assumiu a diretoria financeira da BR Distribuidora, onde
permaneceu até ser demitido do cargo, em março de 2014.
Segundo o MPF, o ex-diretor recebeu propina, em dois contratos
firmados pela Petrobras, para construção de navios sonda, usados em
perfurações em águas profundas. O pagamento, no valor total de 40
milhões de dólares, foi relatado pelo executivo Júlio Carmago, da Toyo
Setal - que fez acordo de delação premiada no decorrer das
investigações.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa,
também réu da Lava Jato, citou Cerveró no acordo de delação premiada. Em
depoimento à Justiça Federal (JF) do Paraná, em outubro de 2014, Paulo
Roberto disse que Cerveró recebeu propina na compra da refinaria da
Pasadena, nos Estados Unidos. Segundo o Tribunal de Contas da União
(TCU), o negócio gerou prejuízos de 790 milhões de dólares à Petrobras.
A compra de Pasadena foi aprovada, em 2006, pelo Conselho de
Administração da Petrobras, que à época era presidido por Dilma
Rousseff. Segundo a presidente, o resumo executivo que orientou o
Conselho, e que foi produzido por Cerveró, era falho. Em julho, o TCU
responsabilizou Cerveró e outros nove diretores e ex-diretores da
Petrobras pelos prejuízos na compra.
Os argumentos do MPF
Por meio de nota, o Ministério Público Federal informou que foi
cumprido um mandado de prisão preventiva, já que "há indícios de que o
ex-diretor continua a praticar crimes e se ocultará da Justiça".
O MPF relatou que na terça-feira (13) foram cumpridos mandados de
busca e apreensão em quatro endereços residenciais ligados a Cerveró,
"em função de seu envolvimento em novos fatos ilícitos relacionados os
crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro que foram denunciados
recentemente".
De acordo com o MPF, conforme o Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF), logo após o recebimento da denúncia e durante o
recesso do Judiciário, o ex-diretor tentou transferir para a filha R$
500 mil - mesmo considerando que com tal operação haveria uma perda de
mais de 20% da aplicação financeira. O ex-diretor, ainda segundo o MPF,
também teria transferido recentemente três apartamentos adquiridos com
recursos de origem duvidosa, em valores menores do que eles valeriam, de
R$ 7 milhões por R$ 560 mil.
"A custódia cautelar é necessária, também, para resguardar as ordens
pública e econômica, diante da dimensão dos crimes e de sua continuidade
até o presente momento, o que tem amparo em circunstâncias e provas
concretas do caso", encerra o MPF.
Defesa
O advogado de defesa Nestor Cerveró, Edson Ribeiro, disse que o
pedido de prisão preventiva não têm fundamento. Segundo ele, não havia
restrição judicial ou administrativa para que os bens fossem
transferidos à família do cliente."A movimentação financeira e a
movimentação imobiliária são atos normais da vida civil. Não há nenhuma
ilegalidade nisso. A filha dele é doente. O Nestor estava indo para a
Inglaterra passar Natal e Réveillon com a família. Ia disponibilizar
esse dinheiro que estava aplicado para alguma eventualidade. Não chegou
nem a fazer isso", disse.
Segundo Edson Ribeiro, Cerveró decidiu fazer uma antecipação de
herança aos familiares, ao passar imóveis para os nomes de parentes. Ele
comparou o ato ao que a presidente da Petrobras, Graça Foster, fez em
2014 e veio a público durante as investigações da Lava Jato. "A Graça
Foster também movimentou seus imóveis. Em um período em que, não havia
qualquer restrição, seja administrativa ou judicial para essa restrição.
Inclusive, até hoje não há essa restrição", afirmou.
Para o advogado, essas movimentações levaram o juiz federal de
plantão que mandou prender Cerveró a erro. "Ele está desempregado desde
março de 2014. Ele tem R$ 10 mil de aposentadoria por mês. Não há
ilegalidade. Quem está errado, ao meu modo de ver é o Ministério Público
Federal, que levaram o juiz de plantão a erro”, disse.
O advogado reforça que o cliente sempre se colocou a disposição das
autoridades para prestar esclarecimentos e, por isso, o impropósito do
pedido de prisão preventiva. "No dia 1º de abril [de 2014], eu coloquei o
Nestor Cerveró à disposição de todas as autoridades, da Polícia
Federal, MPF em Brasília. E até hoje, ninguém quis ouvir o Nestor
Cerveró. Ele, sem ser convocado, se apresentou espontaneamente para
falar dos seus atos à frente da Diretoria Internacional da Petrobras",
pontuou.
Ainda de acordo com o advogado, Cerveró havia informado ao MPF-RJ e à
Justiça Federal que faria uma viagem para Londres, inclusive fornecendo
o endereço onde ficaria localizado, e estava com depoimento marcado
para esta quinta-feira no Rio de Janeiro.
Fonte: ORMNEWS.
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