No
pronunciamento pela internet no feriado da Independência, na
segunda-feira (7), a presidente Dilma Rousseff tentou explicar os
impactos da crise econômica e deixou aberta a possibilidade de programas
sociais serem “reavaliados”.
— As dificuldades e os desafios resultam de um longo período em que o
governo entendeu que deveria gastar o que fosse preciso para garantir o
emprego e a renda do trabalhador, a continuidade dos investimentos e
dos programas sociais. Agora, temos de reavaliar todas essas medidas e
reduzir as que devem ser reduzidas — disse a presidente, que evitou ir à
televisão para o tradicional pronunciamento em cadeia de rádio e TV e
divulgou um vídeo nas redes sociais.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem defendido internamente no
governo que o Orçamento do próximo ano sofra corte profundo, incluindo
em programas sociais, para que se cubra o déficit de R$ 30,5 bilhões.
Apesar da fala de Dilma, o ministro Edinho Silva (Secretaria de
Comunicação Social) negou que ela tenha sinalizado que cortará recursos
dos programas sociais.
— Não haverá cortes — afirmou.
Para o ministro, a presidente se referia a políticas de benefícios
fiscais concedidas pelo governo, como as desonerações da folha de
pagamentos de vários setores. Segundo um integrante do governo, o
discurso foi mais no sentido de pedir desculpas, reconhecer erros do
passado e alertar para a necessidade de buscar uma solução conjunta.
Durante seu pronunciamento, Dilma reconheceu que o remédio para superar a
crise e retomar o crescimento será “amargo”, e chegou a acenar com um
reconhecimento de que pode ter cometido equívocos:
— As dificuldades, insisto, são nossas e são superáveis. O que eu
quero dizer com toda franqueza é que estamos enfrentando os desafios,
essas dificuldades, e que vamos fazer essa travessia. Se cometemos
erros, e isso é possível, vamos superá-los e seguir em frente. Quero
dizer a vocês: alguns remédios para essa situação, é verdade, são
amargos, mas são indispensáveis — explicou.
DILMA DÁ RECADO AOS QUE QUEREM A SUA SAÍDA
Voltando a falar que o país está passando por uma travessia, a
presidente afirmou que está ciente da responsabilidade que lhe cabe de
apresentar “soluções”. A declaração foi dada após a reação negativa à
proposta orçamentária para 2106, enviada ao Congresso com déficit de R$
30,5 bilhões, que aumentou a chance de o país perder o grau de
investimento, uma espécie de selo de bom pagador dado pelas agências
internacionais de classificação de risco:
— É verdade que atravessamos uma fase de dificuldades, enfrentamos
problemas e desafios. Sei que é minha responsabilidade apresentar
caminhos e soluções para fazer a travessia que deve ser feita.
Dilma abriu mão de discursar em rede nacional de rádio e TV —
tradição no Dia da Pátria, seguida por ela nos três primeiros anos do
seu governo (com exceção do ano eleitoral, devido a restrições da
legislação). A opção foi tomada para evitar protestos como os panelaços
registrados nas suas últimas falas na televisão. Ainda assim, as
celebrações de ontem foram marcadas por protestos em todo o país. A
presidente, no entanto, voltou a pedir a união de todos,
independentemente de interesses individuais e partidários e, em
referência velada aos que pedem sua saída, disse que o Dia da
Independência era o momento de defender a democracia:
— É neste dia que reafirmamos aquilo que uma nação ou um povo tem de
melhor, a capacidade de lutar e a capacidade de conviver com a
diversidade. Tolerante, em face às diferenças, respeitoso na defesa das
ideias, sobretudo, firme na defesa da maior conquista alcançada e pela
qual devemos zelar permanentemente, a democracia e a adoção do voto
popular como método único e legítimo de eleger nossos governantes e
representantes.
Ao fim do desfile do 7 de Setembro, o ministro Edinho Silva
justificou a opção pelo pronunciamento via redes sociais. Segundo ele,
Dilma não tem medo de se comunicar, mas quer privilegiar outros meios de
comunicação. O ministro acredita que pronunciamentos em cadeia nacional
de rádio e TV só devem ser convocados quando há um tema fundamental,
para não banalizá-los.
— Temos que entender que é importante convocação em rede de
televisão, mas isso não pode ser banalizado. Quando é chamado, tem que
ser por um motivo fundamental. E nós temos que valorizar outros modais
de comunicação. A presidente não tem receio de se comunicar — afirmou.
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