CORRESPONDENTE / GENEBRA - Antes mesmo de vir à tona o conteúdo das
delações de Joesley Batista na Operação Lava Jato, um banco suíço usado
para movimentar recursos ilícitos para abastecer campanhas do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente cassada Dilma
Rousseff, conforme relato do empresário, denunciou suas contas para
autoridades do país europeu. O volume de dinheiro e os padrões de
transferências sem justificativa levantaram a suspeita de crimes
financeiros, embora a instituição desconheça os beneficiários das
movimentações.
A Procuradoria-Geral da República espera que as
informações coletadas pelas autoridades sejam agora transferidas ao
Brasil. Na avaliação de autoridades suíças próximas ao caso, o
Ministério Público Federal terá “forte chance” de apurar mais detalhes
sobre as transferências. O banco Julius Baer fechou as contas na Suíça e
o dinheiro foi transferido para Nova York, onde hoje vivem Joesley e
sua família.
Em sua delação premiada, o empresário afirmou à PGR
que reservou duas contas para atender às demandas dos petistas. Segundo
ele, o dinheiro era usado para pagar propina a políticos do PT e também a
aliados. Joesley contou que as contas chegaram ao saldo de US$ 150
milhões em 2014. O empresário disse também que o dinheiro era operado a
mando do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, com o conhecimento de
Lula e Dilma. Os petistas negam as acusações.
Mesmo sem o nome dos
envolvidos nos extratos, uma vez que operadores e doleiros teriam
efetuado as transações, fontes do setor financeiro suíço dizem acreditar
que as datas das transferências podem indicar se o dinheiro foi
movimentado com maior intensidade nos meses que antecederam eleições no
Brasil.
As contas foram alimentadas, segundo pessoas próximas ao
caso, com recursos lícitos dos negócios da JBS e também por dinheiro
irregular, em um esquema descrito como “misto”. No entanto, enquanto as
contas foram mantidas no país europeu, a movimentação de volumes no
Brasil não era de conhecimento nem das autoridades nem do banco. A
dinâmica é considerada surpreendente porque companhias suspeitas de
crimes financeiros separam as contas “legítimas” das “ocultas”.
Encerramento
Fontes do sistema financeiro da Suíça revelaram ao Estado
que as contas foram fechadas após o Julius Baer informar aos
administradores do dinheiro que não manteria os recursos na instituição.
Grande parte do dinheiro foi então transferida para os Estados Unidos.
Da
conta 06384985 no Julius Baer, o dinheiro seguiu para o JP Morgan Chase
Bank, em Nova York. Para ocultar os proprietários da conta, os recursos
estavam em nome da empresa de fachada Lunsville Internacional Inc. Uma
segunda empresa, a Valdarco, também foi usada.
Apesar do
encerramento das contas, o Julius Baer informou as suspeitas às
autoridades de combate à lavagem de dinheiro da Suíça. Joesley não foi
comunicado da decisão do banco em razão da legislação local.
Procurado
pela reportagem, o Ministério Público Federal em Berna se recusou a
comentar o caso, indicando que não revelaria se Joesley está ou não sob
investigação em função da legislação local.
As contas
Joesley
contou que a primeira das contas foi usada durante os anos do governo
Lula e que, ao final do mandato, em 2010, teria ficado com um saldo de
US$ 70 milhões. Quando começou a gestão Dilma, ele disse que fora
instruído por Mantega a abrir uma nova conta. As contas deixaram de ser
abastecidas, segundo Joesley, em novembro de 2014, quando ele afirmou
ter comunicado a presidente cassada em reunião no Palácio do Planalto. O
último saldo foi de R$ 30 milhões.
Vídeo: Advogados de Dilma e Temer pedirão anulação de delações (Via SBT)
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