A revelação no final da tarde de ontem do teor dos despachos do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), sobre os pedidos de inquérito com base na delação da Odebrecht deve ter pegado até mesmo o magistrado de surpresa.
A
expectativa era que a divulgação da decisão ocorresse só depois do
feriado de Páscoa, mas o vazamento dos documentos para o jornal O Estado
de S. Paulo acelerou o processo. Seu conteúdo deixou claro que a
“delação do fim do mundo” faz juz ao nome.
Quase uma centena de
políticos com foro privilegiado serão investigados sob a jurisdição do
Supremo Tribunal Federal. Só do governo de Michel Temer, são oito
ministros que entraram para o time de políticos investigados no Supremo–
entre eles, o homem forte do presidente: o ministro-chefe da Casa
Civil, Eliseu Padilha.
Mas os problemas para os políticos citados
não param por aí. Fachin remeteu outros 201 pedidos de inquérito para
instâncias inferiores.
Nessa lista, há nove governadores e 3 ex-presidentes da República, entre outros políticos sem foro no STF.
Da lista de Janot para a lista de Fachin, a saga
A nova leva de investigações foi solicitada no último dia 14 de março pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Os 83 pedidos de abertura de inquérito foram feitos a partir dos
acordos de colaboração premiada firmados com 77 executivos e
ex-executivos das empresas Odebrecht e Braskem.
O STF levou cerca de uma semana para protocolar todos os pedidos de inquérito da PGR. Só no dia 21 de março é que os pedidos chegaram à mesa de Fachin.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a decisão do ministro sobre cada
petição foi protocolada na última terça-feira, 4 de abril.
Esta é
a segunda vez que Janot apresenta uma lista de pedidos de inquérito
relacionados à Lava Jato ao STF. Da primeira lista, apenas 5 dos 50
políticos citados viraram réus no STF. (Leia: “Dois anos depois, o que aconteceu com a primeira lista de Janot“)
Os despachos de Fachin, decifrados
As
decisões do ministro do STF se dividem em quatro etapas: a lista de
pessoas que serão investigadas no STF, os pedidos que foram arquivados
ou devolvidos para a Procuradoria-Geral da República, as petições
encaminhadas para outras de instâncias de julgamento e aquelas que serão
mantidas em sigilo.
No total, são:
74 inquéritos abertos que miram 98 investigados (leia: “7 respostas que você sempre quis sobre foro privilegiado“)
7 pedidos arquivados (leia: “Fachin arquiva investigações contra 2 ministros e 4 parlamentares“)
11 petições devolvidas para a PGR: 8 por decisão de Fachin e 3, a pedido de Janot
201 pedidos de inquérito remetidos para outras instâncias do Poder Judiciário
25 petições sob sigilo (leia: “Fachin mantém sigilo sobre Arena Corinthians“)
A lista de Fachin, em números
98 pessoas com e sem foro passam a ficar agora na mira das investigações autorizadas pelo STF.
Nessa lista, há:
8 ministros do governo de Michel Temer (leia: “Pego de surpresa, Planalto minimiza impacto de lista de Fachin“)
24 senadores – entre eles, o presidente do Senado (leia: “Inquéritos atingem 30% do Senado“)
39 deputados federais – entre eles, o presidente da Câmara
3 governadores
1 ministro do Tribunal de Contas da União
23 pessoas que não possuem foro mas estão relacionadas a fatos que envolvem políticos com mandato
15 partidos são contemplados na lista de investigados; o PT lidera
A delação do fim do mundo e sua extensão
Mais
de duas centenas de políticos ou pessoas ligadas a eles foram citados
nos pedidos de inquérito protocolados pela PGR. O conteúdo dessas
petições mostra que a corrupção em obras públicas atingia também os
chefes do Executivo federal, estadual e municipal:
Ex-presidentes:
praticamente todos os chefes do Executivo federal desde a
redemocratização aparecem nos depoimentos dos executivos da Odebrecht.
Fernando Collor de Mello, que cumpre mandato de senador, é o único que
será investigado sob a tutela do STF.
Os pedidos de inquérito
contra Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva e
Dilma Rousseff (ambos do PT) foram encaminhados por Fachin para
instâncias inferiores já que eles não têm mais foro especial. (Leia: “Fachin manda pedidos contra Dilma, Lula e FHC a outras instâncias“)
Segundo
o jornal O Estado de S. Paulo, o atual presidente, Michel Temer, também
foi citado na delação, mas não foi incluído na lista de investigados
porque possui “imunidade temporária” por ser presidente da República. (Leia: “Temer não pode ser investigado pela PGR por delação da Transpetro“)
Governadores: No total, 12 governadores aparecem nos despachos de Fachin.
3 serão investigados pelo STF:
- Tião Viana (PT-AC)
- Renan Filho (PMDB-AL)
- Robson Faria (PSD-RN)
9 pelo STF:
- Geraldo Alckmin (PSDB-SP)
- Fernando Pimentel (PT-MG)
- Paulo Hartung (ES)
- Beto Richa (PSDB-PR)
- Flávio Dino (PCdoB-MA)
- Luiz Fernando de Souza Pezão (PMDB-RJ)
- Raimundo Colombo (PSD-SC)
- Marconi Perillo (PSDB-GO)
Os próximos passos para os investigados no STF
1 – Coleta de provas: Com
a aprovação da abertura dos inquéritos no STF, a PGR passa a investigar
oficialmente os 98 suspeitos de corrupção na Petrobras. Se a PGR
precisar usar métodos de investigação que exigem autorização judicial –
como quebra de sigilo telefônico ou bancário -, os pedidos de permissão
terão de ser encaminhados para aprovação do ministro Fachin. Não há
prazo para o fim das investigações.
2 – Denúncia ou arquivamento:
No decorrer da apuração, se Janot considerar que há provas suficientes
na investigação para já processar algum dos políticos envolvidos nas
investigações, ele pode pedir a abertura de uma denúncia no STF. Se não
encontrar provas ou ainda verificar a inocência dos investigados, pode
pedir o arquivamento do inquérito.
3 – Julgamento: Cabe
aos ministros da Segunda Turma do STF – onde tramitam as ações da Lava
Jato sob relatoria do ministro Edson Fachin – acatar ou não essa
denúncia. Atualmente, fazem parte da Segunda Turma os ministros Gilmar
Mendes, Celso de Mello, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e o
próprio Fachin. Em caso de aceitação da denúncia, os nomes envolvidos se
tornam réus e serão julgados em uma ação penal.
Também são os
ministros da Segunda Turma que fazem o julgamento dos políticos com foro
no âmbito da Operação. Só são julgados pelo plenário (que é composto
por todos os ministros do STF) os presidentes da Câmara, do Senado e da
República.
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