A proposta do relator da reforma trabalhista, deputado Rogério
Marinho (PSDB-RN), de acabar com a obrigatoriedade do imposto sindical
ainda divide o governo do presidente Michel Temer, mas conta com o
respaldo de representantes da Justiça do Trabalho. Em entrevista ao Estado,
o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Filho,
defendeu o fim do imposto sindical compulsório da forma como é hoje.
A
questão é polêmica e os sindicatos acreditam que vão perder força na
representação dos trabalhadores. Hoje, todo cidadão empregado com
carteira assinada paga o tributo, independentemente de ser filiado a uma
entidade de classe. O valor é equivalente a um dia de trabalho por ano.
Gandra defende um novo modelo de contribuição aos sindicatos, que não
seja obrigatório. O trabalhador teria a opção de, dez dias antes da data
estipulada para o desconto, ser contrário ao pagamento da taxa, que
estaria atrelada à negociação coletiva e seria equivalente a, no máximo,
um dia de trabalho.
Ele também propõe acabar com a chamada
unicidade sindical, ou seja, a existência de um único sindicato numa
determinada base geográfica para cada categoria de trabalhadores. “Ou
seja, os sindicatos só poderiam defender os associados. Quem não for
associado não poderia se beneficiar de uma decisão favorável movida
pelos sindicatos, o que estimularia a associação”, explica.
A
pluralidade sindical, prevista na Convenção 87 da Organização
Internacional do Trabalho, de 1948, vigora em mais de 150 países. O
pluralismo sindical e o fim do imposto sindical foram duas bandeiras
históricas do PT e do ex-presidente Lula antes de o partido chegar ao
poder, em 2003.
A questão da unicidade sindical não entrará na
reforma trabalhista porque seria preciso mudar a Constituição, diz
Marinho. Mas já está certo que ele colocará o fim do imposto sindical e
da contribuição sindical patronal, que é recolhida das empresas de
acordo com o capital. “Na hora que esse financiamento deixar de ser
compulsório, os sindicatos que têm representatividade vão se fortalecer
porque os associados vão se sentir compelidos a contribuir para o bem
deles mesmo”, afirma. “Não há lógica em ser compulsório. Os sindicatos
recebem uma monta de dinheiro e não prestam contas a ninguém.”
Sem fiscalização.
No ano passado, a “indústria sindical” recebeu R$ 3,5 bilhões. O
dinheiro foi repassado a 11.050 sindicatos, confederações e federações.
Esse volume, no entanto, não foi fiscalizado pelo Tribunal de Contas da
União porque o artigo que previa a verificação pelo órgão de controle
foi vetado pelo ex-presidente Lula. “Não se sabe como esse dinheiro está
sendo usado. O sindicato não pode estar fora da exigência de
transparência do uso do dinheiro público”, afirma Gandra.
No
governo, há posições distintas. O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu
Padilha, disse ao Estado que não vê problemas com o fim da
obrigatoriedade do imposto sindical, desde que haja um acordo. “Nós
temos a certeza da aprovação da reforma trabalhista porque é objeto de
negociação entre empregadores e trabalhadores. Se essa questão foi
acordada, o governo não vai se opor.”
Já o ministro do Trabalho,
Ronaldo Nogueira, defende que o imposto compulsório é responsável por
financiar a estrutura da organização sindical, que funciona como
“contrapeso” nas negociações trabalhistas. Do total arrecadado do
imposto sindical, 10% vão para o Ministério do Trabalho, que também
recebe 20% da contribuição patronal.
“Em lugar nenhum do mundo,
os sindicatos sobrevivem apenas de mensalidade”, diz Sérgio Nobre,
secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Ele defende
que no lugar do imposto sindical seja criada uma taxa negociada em
assembleia. “O que querem fazer é inviabilizar o movimento sindical
brasileiro.”
Receitas. Secretário de Finanças da
CUT, Quintino Severo, diz que o imposto sindical representa em torno de
um quarto a um terço das receitas dos sindicatos. A contribuição
assistencial – que foi considerada ilegal quando cobrada de não
associados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – é responsável por
outros 40% das receitas. A mensalidade, portanto, representa pouco em
termos de receitas porque, segundo Severo, há grande dificuldade de
sindicalização. No setor público, os sindicalizados representam de 80% a
90% dos servidores que têm estabilidade de emprego. No setor privado,
varia de 12% a 15% no caso do comércio e chega a 70% entre metalúrgicos,
bancários e petroleiros.
Secretário-geral da Força Sindical, João
Carlos Gonçalves, o Juruna, afirma que a obrigatoriedade do imposto
sindical se deve ao modelo brasileiro em que os sindicatos não
representam apenas associados. “Quem defende o fim está defendendo um
novo tipo de associação, cujas experiências foram nefastas na América
Latina”, afirma.
“Se colocar de forma voluntária, ninguém vai
querer pagar”, resume Ricardo Patah, presidente da UGT. Segundo ele, o
movimento sindical vai lutar até o fim para a manutenção da
obrigatoriedade sindical. “Erra quem pensa que o sindicalismo fraco
ajuda para a retomada da economia. Na verdade, acontece o contrário.”
Patah disse que já falou com Temer sobre o assunto, mas diz que o
presidente não garantiu nada. “Ele me disse não ia sancionar a
terceirização, olha o que aconteceu.”
Na sexta-feira, Temer sancionou o projeto aprovado na Câmara que estende a terceirização para todas as atividades.
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