Quando Felipão foi anunciado como técnico da seleção no lugar de Mano
Menezes, em 2012, houve uma desconfiança geral. O treinador não fazia
um trabalho relevante desde que fora semifinalista da Copa de 2006 com
Portugal. Mas pesava a seu favor o título de 2002, as diversas
conquistas nos anos 1990 à frente de Grêmio e Palmeiras e o bom
desempenho em torneios de mata-mata. Dois anos depois, sabemos que os
desconfiados estavam corretos.
Com Felipão fora da seleção, a CBF já deu um primeiro passo equivocado ao contratar Gilmar Rinaldi como coordenador de seleções. Horas depois do anúncio e da primeira coletiva do ex-goleiro, a revista Placar já informava que Dunga é o mais cotado para assumir o cargo de treinador -
o escolhido deve ser anunciado na próxima terça-feira. Outros veículos
seguiram na mesma direção. A rádio Jovem Pan afirmou inclusive que
Gilmar e Dunga já traçam planos - os dois são amigos desde a década de
1970, quando estavam no Internacional.
A contratação de Dunga não tem sentido algum e seria apenas mais um
lance bizarro da atual gestão da CBF. O capitão do tetra deixou a
seleção quatro anos atrás, depois da eliminação para a Holanda nas
quartas de final da Copa. Seu retorno seria bizarro não só pela fracasso
na África, mas porque Marin e Del Nero estariam fazendo uma escolha que
tornaria ainda maior a (justa) pressão sobre eles.
Dunga, depois da Copa, teve passagem discreta pelo Internacional em
2013. Nada mais. Mas pesa também contra o técnico (?) o que construiu
nos quatro anos à frente da seleção.
O ex-volante fez da imprensa sua inimiga número 1, forjou uma relação
de ódio com jornalistas, em que qualquer pergunta era vista como um
ataque e a resposta era furiosa e grosseira. Qual seria a reação da TV
Globo com seu retorno? A emissora, durante a gestão de Dunga, perdeu
todas as prioridades que sempre teve na seleção. Alex Escobar, hoje
narrador, foi confrontado e xingado durante uma entrevista coletiva na
África do Sul. Diante do mal estar, quatro dias depois o técnico teve de
pedir desculpas, mas “ao povo brasileiro”, que, segundo ele, nada
tinha a ver com seus “problemas pessoais em uma ou outra situação”. Os
dois fizeram as pazes dois anos mais tarde, durante uma reportagem do Esporte Espetacular.
Depois da Copa, a Folha de S.Paulo informou que durante o Mundial o auxiliar-técnico Jorginho promoveu cultos religiosos na concentração, fato negado por ele.
Dentro de campo, Dunga foi criticado por um traço parecido com o de
Felipão: “fechou” sua lista de convocados muito cedo, graças ao título
da Copa das Confederações (sempre ela…). Deixou fora dos 23 Neymar e
Ganso, que à época era o melhor jogador em atividade no país. Quando
precisava virar o jogo contra a Holanda, tinha no banco como opções
ofensivas Grafite e Julio Baptista. Terminou a partida sem sequer ter
feito as três substituições.
Tite, que tem a preferência majoritária de público e crítica - já
que a contratação de um estrangeiro foi descartada -, não tem a simpatia
de Marco Polo Del Nero, presidente eleito da CBF. Durante sua passagem
pelo Corinthians, o treinador criticou duramente a tabela do Campeonato
Paulista, e o cartola era então presidente da entidade.
Pode ser que a própria CBF tenha vazado a informação sobre Dunga para
testar a repercussão entre a imprensa e a torcida. Se Marin e Del
Nero ainda quiserem acertar depois de tantos erros e trapalhadas, é bom
que pensem em um plano B.
Fonte: Revista Carta Capital.
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