Dois anos e meio após sua instalação, a Comissão Nacional Verdade (CNV)entregou à presidente Dilma Rousseff, na manhã desta quarta-feira, o relatório final do trabalho. O grupo ouviu mais de 1,1 mil depoimentos, analisou arquivos e visitou centros de torturas para produzir o texto apontando 434 mortos e desaparecidos.
A entrega das conclusões nesta quarta-feira reacende a esperança de familiares de quatro catarinenses que figuram no relatório. Divo, João, Paulo e Wânio desapareceram no auge da repressão militar.
Criada por uma lei de 2011 e instituída no ano seguinte, a CNV estudou o período que vai de 1946 a 1988, passando pelos 21 anos de ditadura militar, um dos momentos mais sombrios da história brasileira.
— Não é um ciclo que se fecha, é uma porta que se abre com o relatório, porque a luta por Justiça a partir de agora tem de ser constante. Não basta conhecer a história e não responsabilizar quem cometeu as violações. Acho que o próximo passo é a revisão da Lei da Anistia, a exemplo do que aconteceu nos outros países do continente. O Brasil é o único que até hoje não fez isso — avalia a advogada Nadine Borges, integrante da Comissão da Verdade do Rio.
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Na sessão de entrega do relatório, Dilma ressaltou que o trabalho produzido pela CNV é fruto do esforço pela verdade factual e pelo respeito à história.
— Nós, do governo federal, vamos nos debruçar sobre o relatório, olhar as recomendações e propostas e, a partir delas, tirar todas as consequências necessárias — afirmou a presidenta, que militou contra o regime instalado em 1964.
Dilma se emocionou e foi aplaudida enquanto falava das vítimas da ditadura. Disse, também, esperar que a divulgação do relatório reforce as liberdades democráticas, além da aversão ao autoritarismo e às ditaduras de qualquer espécie:
— A verdade é uma homenagem ao Brasil que já trilha três décadas de um período democrático.
Presidente da comissão, o jurista Pedro Dallari avalia que a maior contribuição será desmistificar a ideia de que os excessos foram casos isolados ou eventuais.
— Ficou evidente pela investigação da comissão que houve graves violações aos direitos humanos, que não decorreram da ação isolada de alguns indivíduos, foram produzidas por orientação da cúpula do regime militar de maneira sistemática, persistente. O relatório é um compêndio de crueldade — afirmou em entrevista em novembro.
O relatório será apresentado à sociedade às 11h, no Auditório do Conselho Federal da OAB, em Brasília.
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