Neste domingo (13), os assassinatos da vereadora Marielle Franco e do
motorista Anderson Gomes completam 60 dias. Passados dois meses, os
investigadores não têm dúvidas sobre o envolvimento de políticos,
milicianos, policiais e ex-policiais com o crime. O que no início eram
diferentes linhas de investigação, agora se reúnem em um único caminho a
seguir, de acordo com policiais ouvidos pelo G1, para se chegar aos
responsáveis pelo crime.
A Divisão de Homicídios da Polícia Civil
do Rio de Janeiro cruza nomes obtidos em depoimentos e investigações com
números de telefones celulares numa tentativa de descobrir quem estava
no local do crime na noite de 14 de março passado. A polícia tenta
comprovar e saber o que há de real no depoimento de um delator
apresentado por três delegados federais no fim de abril. O caso foi
revelado pelo jornal O Globo. O delator, que chegou a integrar uma
milícia, está sob proteção do Estado do RJ.
A partir da sua
apresentação, ele prestou três depoimentos a policiais da Divisão de
Homicídios do RJ: dois no Círculo Militar, na Urca, na Zona Sul do Rio, e
um na própria delegacia na Zona Oeste da cidade. Os relatos aconteceram
entre 30 de abril e 4 de maio.
A testemunha apresentou mais
de 10 nomes, entre policiais da ativa, reformados, além do ex-PM,
Orlando de Oliveira Araújo, que comandaria da cadeia uma milícia na Zona
Oeste do Rio, e do vereador Marcello Siciliano (PHS), com base
eleitoral na mesma região da cidade. Os dois últimos como mandantes das
mortes. Na quinta-feira (10), o ministro da Segurança Pública, Raul
Jungmann, afirmou que entre os investigados no caso do assassinato da
vereadora Marielle Franco estão um vereador, um policial militar e um
ex-PM, que está preso acusado de chefiar uma milícia.
"O que eu
posso dizer é que esses e outros são investigados e que a investigação
do caso Marielle está chegando à sua etapa final, e eu acredito que em
breve nós devemos ter resultados”, disse o ministro.
Vereador e ex-PM preso negam participação
Tanto
Orlando, como o vereador, negam o crime. Por meio de suas defesas, eles
dizem não se conhecer. Em entrevista coletiva, o vereador chamou a
história de factoide.O ex-PM conhecido como Orlando Curicica foi
transferido do presídio de Bangu 8 para o presídio de Bangu 1,
considerado de segurança máxima. Está em regime disciplinar diferenciado
(RDD), ficando dentro da cela 22 horas seguidas com duas horas de banho
de sol.
Em carta, ele também negou as acusações e disse que não
conhece Siciliano e nunca tinha ouvido falar de Marielle Franco. Mesmo
no isolamento, o advogado Renato Darlan, que defende Orlando, quer
tirá-lo da unidade: na segunda-feira, ele promete protocolar um pedido
para que o miliciano deixe Bangu 1 e vá para a carceragem da Divisão
Anti-sequestro (DAS), na Zona Sul do Rio. "O pedido de transferência
interna é analisado pela Seap. Ele corre risco de vida", afirma o
advogado Renato Darlan.
Até o momento, na análise feita, os
policiais não encontraram todos os citados pelo delator. Alguns nomes já
foram descartados, já que se comprovou que não estariam no local do
crime. Apesar de não terem identificado ainda o mandante e os autores do
crime, os investigadores não tem dúvidas de que a morte de Marielle
Franco tem a ver com a sua atuação política e que tenha sido planejada e
executada por milicianos.
Entre os motivos citados pelos
investigadores ouvidos pelo G1 que indicam a participação de milicianos
estão: o cuidado dos executores de não serem vistos à espreita da
vereadora diante da Casa das Pretas, na Lapa; a precisão dos disparos
contra Marielle feitos com o carro em movimento; e a decisão do local
onde o crime foi realizado, em pontos cego das câmeras.
Uma única rajada, diz polícia
Os
policiais buscam comprovar ainda quem forneceu a arma para os disparos
contra Marielle, uma submetralhadora MP5 e a munição de lote desviado da
Polícia Federal. A reconstituição reforçou a certeza de que uma única
rajada foi disparada contra o veículo onde estava Marielle. Ainda há
dúvidas se foi usado ou não um supressor de ruído na arma.
Se os
laudos comprovarem a utilização da submetralhadora representará que quem
atirou na vereadora tem perícia com armas, já que a arma é de difícil
manuseio. Um policial de um batalhão da Zona Norte do Rio é investigado.
"Milícia
sempre foi uma linha de investigação. Estamos investigando com todo o
sigilo. Esse é um caso que vai ser resolvido", afirmou o general Richard
Nunes, na sexta-feira (11), em entrevista à rádio CBN. O general disse,
na ocasião, que o vazamento dos depoimentos retardou a conclusão das
investigações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário