Aldo Inácio já teve 10 aviões e uma frota de 100 carros, hoje possui somente um hotel
Amado por alguns, odiado por outros.
Primeiro anunciante em nível nacional com vinheta exclusiva na Rádio
Nacional “A voz dos garimpeiros”, o homem da hora certa. Estamos falando
de quem? Do Aldo Inácio ou do Seu Mané. Aldo Inácio era o 12º de 18
irmãos nascidos em Valparaíso, interior de São Paulo. Vamos falar dos
dois, mas o personagem acabou absorvendo o até então homem comum Aldo
Inácio, que depois de tantas aventuras e desventuras de Valparaíso a São
Paulo, Paraná, Rondônia e diversas outras partes do Brasil, acabou
parando no Pará e virando Seu Mané, milionário da garimpagem do Tapajós.
Como diziam na gíria garimpeira dos
velhos tempos de bamburro, ele chegou blefado, sem nenhuma ruela,
puxando uma cachorrinha. Seu Mané quando estava por cima da carne seca,
nos tempos de vacas gordas, trouxe e ajudou a promover a carreira de
inúmeras celebridades musicais do País. Foi ele quem lançou, na época,
Márcia Ferreira, que estourou nacionalmente e internacionalmente com o
sucesso “Chorando se foi”; ajudou a projetar Gretchen, que ficou quase
dois meses em Itaituba e na região de garimpos fazendo shows apoiada
pelo famoso ”Paxá do Ouro”, o homem que tinha três esposas, o homem que
desafiou não a lei da gravidade, mas a lei de costumes tradicionais, ao
ter três mulheres e do resultado de suas tórridas paixões teve trinta e
quatro filhos, netos e bisnetos. Hoje já perdeu a conta.
Seu Mané virou uma marca, um produto de
marketing pessoal. Seu Mané surgiu no ano de 1974 (ano de copa do
mundo). O nome Mané surgiu de uma singela homenagem feita ao ídolo do
futebol, Mané Garrincha, o anjo das pernas tortas batizado pelo poeta
Carlos Drummond de Andrade. Mané deu nome ao primeiro restaurante
montado em Itaituba “Restaurante seu Mané”. Daí a marca se estendeu para
seus garimpos, compra de ouro, empresa fotográfica mais famosa da
região Foto RI e assim em todo empreendimento, aliás nos 16
empreendimentos que o colocou no ranking de um dos homens mais ricos do
Brasil, da Amazônia e de Itaituba no Tapajós. De personalidade
controversa, seu Mané a medida que aumentava seu patrimônio também
arregimentava inimigos, principalmente da política. Diz ele que por pura
inveja, por incompetência de alguns que não lidavam com a ideia de um
considerado forasteiro ter chegado em Itaituba e já está se destacando
como empreendedor.
Marqueteiro nato, precisou disso para
sobreviver, como mascate ou marreteiro precisou se virar nos trintas
quando vendia todo tipo de mercadorias que caia em sua mão. Quando ainda
era pobre e desconhecido ganhou dois apelidos Zé da Macaca e Zé Doido; o
primeiro porque usava uma macaca como atração nas feiras, uma macaca
que dançava ao som de um bolachão tocando numa vitrola, por onde passava
juntava multidão e, Zé Doido porque criava bordões e sabia usar o seu
dom da palavra para gritar no megafone e vender suas bugigangas (roupas,
sapatos e o que mais caísse em suas mãos) .
Porém, contar a história de um homem,
que queiramos ou não, acabou se tornando uma lenda viva, um mito na
história da garimpagem, não é tarefa fácil numa simples matéria de
jornal. Suas conquistas sempre foram grandes, o que mais vendia ouro, o
primeiro que comprava à vista aviões da Embraer zerado, tinha uma frota
de 10 aviões de várias marcas, quase 100 veículos de todas as marcas e
tamanhos das suas 16 empresas. Tudo em Itaituba soava como ostentação,
movimento acima da média em relação a outras regiões.
REI MIDAS: Seu Mané no
mundo dos negócios sem exagero poderia ser parafraseado com o mitológico
Rei Midas. Ao pé da letra se pode afirmar que tudo que seu Mané tocava
virava ouro, porque buscava formas diferenciadas de vender seus
produtos, aprendeu a lidar no universo dos garimpos, e com a psicologia
aprendida dos UFCs da vida, onde muitas vezes levou porrada, foi à lona e
se recuperou no ringue do destino enquanto algumas compras de ouro
estavam entregues às moscas, a do seu Mané fazia fila de 150 metros, e o
segredo era porque na época algumas compras de ouro discriminavam
alguns pequenos garimpeiros e as vezes não comprava quando havia só 5 ou
10 gramas, e o seu Mané afirma que comprava de todos indistintamente na
base do ”de grão em grão a galinha enche o papo”, juntando as gramas,
muitas vezes fechava o balanço de tarde.
Seu Mané quando era milionário ajudou a
bancar campanha de muitos políticos, entre eles Jader Barbalho, Domingos
Juvenil e Wirland Freire.
Além do relacionamento comercial, Seu
Mané disse que gostava de ajudar e tratar bem os garimpeiros, sempre
doava camisetas, tinha refrigerantes diretos nas suas compras de ouro e,
em alguns casos, quando o garimpeiro estava doente e blefado, ele dava
ajuda, apoiava.
Como afirmamos aqui nessa matéria, seria
humanamente impossível esgotar toda a histórica de um garimpeiro
icônico que representou toda uma época e que hoje ainda representa a
memória e história da garimpagem do Tapajós. Foram muitas, mas evocando o
passado, de todos os revezes, de todas intempéries à queda, em 1979,
quando Seu Mané atribui o início da derrocada, o limiar de sua ruína
financeira, a queda de um avião no Km 140, quando o piloto Alemão
entregou o comando do avião para seu irmão que era manicaca, com poucas
horas de voo e por isso o avião caiu e explodiu torrando junto com as
ferragens dinheiro para a compra de 50 quilos de ouro .
TRAJETÓRIA: Mas,
avaliando toda trajetória de sua vida, Aldo Inácio em sua versão de
homem pobre, e no anonimato (por opção) nos sugeriu duas máximas, duas
reflexões que segundo ele sintetizam, identificam e interpretam tudo o
que ele foi ontem e continua sendo hoje, sem glamour, sem ouro, mas
muito feliz da vida. Aldo Inácio ou Seu Mané como queiram, atualmente
vive em Novo Progresso, aos 69 anos, e há cerca de 28 anos com uma
remanescente das três de suas mulheres (Rosineide Pereira da Silva, que
tem 45 anos), que o levaram ao programa em rede nacional da Globo,
Programa do Jó, como o Paxá do Tapajós.
Como não podemos dissecar, contar toda
uma história de vida e empresarial, mas Seu Mané na verdade não
explorava ouro, era comprador que revendia com exclusividade para a Casa
da Moeda, através da empresa Sada & France, Comércio de Metais
Preciosos, e com o que ganhou no segmento, investiu em outros ramos,
restaurante, fotografia, mídia (2 rádios: Rádio Itaituba e Rádio Club de
Itaituba, Tv Itaituba, retransmissora da Globo; depois Band e SBT). A
saga, as aventuras e desventuras, as histórias mais picantes, vividas ou
vivenciadas por Seu Mané, tudo será contado em um livro a ser lançado
ainda esse ano.
Podemos assegurar que é uma história que
se encaixa perfeitamente num roteiro de filmes, um longa metragens.
Concluindo a reportagem, Seu Mané que hoje mora em Novo Progresso e na
condição de gerente geral, sobrevive financeiramente tocando no ramo de
hotelaria, Hotel Rodoviário, mas disse à reportagem do Jornal O Impacto,
que prefere hoje ser chamado de cicerone, um contador de histórias,
tendo se tornado uma atração turística na cidade. Na entrada e nas
laterais das paredes do hotel montou um mural denominado “Memorial da
garimpagem, de Seu Mané do Ouro”, são centenas de fotos que comprovam as
histórias narradas pelo Homem que se casou com três mulheres e todas
conviviam harmoniosamente na mesma casa.
Sobre a curiosidade despertada, ele
mesmo explica: ”Nosso hotel só vive lotado, vem gente de toda parte do
Brasil e do Pará para me conhecer. Eles ficam encantados com as
fotografias, muitos nunca tiveram ideia do que seja um garimpo. Teve o
caso de um casal que veio de São Paulo para ficar no hotel só para ouvir
histórias de minha vida e da garimpagem. Então, tem sido assim e graças
a Deus não tenho mais toda aquela fortuna de antes, do auge do ouro,
mas sou um homem feliz na minha simplicidade”.
Seu Mané pediu para que não deixasse de
incluir dois pensamentos seu sobre ele, por ele mesmo: Quem foi ou teria
sido Seu Mané, o homem mais rico da garimpagem do Tapajós, o homem que
vivia com três esposas e deu grande audiência à Globo ao contar sua
prosaica história. ”Antes, fui um grande pequeno, desmoronei, hoje sou
um pequeno grande, com humildade me estabeleci”. O segundo pensamento
ele reforça sua imagem que construiu sobre o alicerce da honestidade.
“Eu nasci o suficiente inteligente, para não precisar lesar
ninguém”. A História do Seu Mané do Ouro, o homem que teve a
genialidade de casar com três mulheres vivendo no mesmo tempo na mais
plena harmonia, em breve vai virar um livro onde ele vai revelar tudo
sobre o ciclo do ouro, os bastidores da política, dos negócios. Com
certeza, um livro que vai despertar a curiosidade de muita gente.
Por: Nazareno Santos
Fonte: RG 15/O Impacto
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