O Instituto de Capacitação e de
Desenvolvimento Profissional e de Assistência Social Mercina Miranda,
entidade filantrópica criada pelo presidente da Assembleia Legislativa
do Pará, deputado Márcio Miranbda (DEM), em homenagem a sua mãe, recebeu
pelo menos R$ 2,6 milhões dos cofres públicos, em valores atualizados –
mas isso é apenas o que o DIÁRIO já conseguiu rastrear.
Segundo o Portal da
Transparência, os repasses do Governo do Estado atingiram quase R$ 1,5
milhão, entre 2004 e 2010, a maior parte através da Ação Social do
Palácio do Governo (Asipag) e da Regional de Proteção Social da
Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), em Castanhal, a base eleitoral do
deputado.
O pique desses repasses
ocorreu no ano eleitoral de 2010, quando a Asipag transferiu ao
instituto quase R$ 666 mil. Em diários oficiais do Estado, a reportagem
também localizou um convênio de 2003, em valor superior a R$ 335 mil,
entre a Asipag e o Mercina Miranda, que foi fundado em 24 de julho de
2003. O convênio, porém, não consta no Portal da Transparência, cujos
dados estão disponíveis apenas a partir de 2004.
Já da Assembleia
Legislativa, o instituto recebeu pelo menos R$ 1,1 milhão. Os repasses
ocorreram entre 2004 e 2011, quando Márcio Miranda já era deputado
estadual e presidia comissões da Alepa. No entanto, os números estão
incompletos: entre 2009 e 2011, os dados são do Siafem, o sistema de
administração financeira de estados e municípios e têm alto grau de
confiabilidade. Mas os números anteriores a 2008 são apenas o que o
DIÁRIO já conseguiu localizar em acórdãos do Tribunal de Contas do
Estado (TCE).
As informações já
disponíveis revelam, porém, que só no primeiro ano e meio de existência,
entre meados de 2003 e o fim de 2004, o Mercina Miranda foi irrigado
por mais de R$ 640 mil de recursos públicos, através de convênios com o
Governo e a Alepa. E, no ano de 2010, os valores repassados à entidade,
pelo Governo e pela Alepa, somaram mais de R$ 864 mil. Só para se ter
ideia do que esse valor significava na época: em 2010, Márcio Miranda
afirmou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que gastou em sua campanha
de reeleição R$ 638 mil, em valores atualizados.
ESTRANHEZA
Um fato interessante é
que os repasses de dinheiro do Governo e da Alepa ao Mercina Miranda
cessaram subitamente em 2011. Não se sabe se o deputado cansou de fazer
caridade com o chapéu alheio (no caso, filantropia com recursos
públicos) ou se teve receio de ver questionada a moralidade dessas
transações. Outro fato interessante é que o fim das verbas públicas para
o Mercina Miranda coincide com o aumento dos repasses do Iasep às
empresas da família do deputado. Um crescimento que o Ministério Público
do Estado (MPE) poderia investigar.
Governo do Estado confirma repasse milionário às empresas da família Miranda
Em nota oficial
assinada pelo Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Pará
{Iasep), o Governo confirmou a notícia do DIÁRIO da edição de domingo
(10), de que repassou, sim, pelo menos R$ 30 milhões a duas empresas da
família do deputado Márcio Miranda (DEM). A nota, onde o Iasep nega
irregularidades, é uma carta aberta em defesa das empresas do candidato
do governador Simão Jatene ao governo do Estado. Os valores foram pagos
entre janeiro de 2004 e 5 de junho deste ano e foram atualizados pelo
DIÁRIO com base no IPCA-E de março último.
A maior parte desse
dinheiro saiu dos cofres do Iasep e beneficiou o Hospital Francisco
Magalhães, de Castanhal, que, segundo a Receita Federal, pertence a
Daniela Chaves de Magalhães Miranda, esposa do deputado, e a dois filhos
do casal: Ygor e Ytalo. Cerca de 70% desses R$ 30 milhões foram pagos a
partir de 2011, no governo Jatene, quando o Iasep passou a ser
controlado pelo DEM, o partido do deputado. Entre 2011 e 2013, o Iasep
foi até presidido por Kleber Tayrone Miranda, que é irmão de Márcio
Miranda. Naqueles três anos, o dinheiro repassado a essas empresas
superou tudo o que elas receberam nos seis anos anteriores.
Só o Hospital
Francisco Magalhães recebeu do Iasep mais de R$ 19 milhões, segundo
números do portal da Transparência. Desse total, mais de R$ 14 milhões
(74%) foram pagos de 2011 para cá. Entre 2011 e 2013, quando o Iasep foi
presidido pelo irmão do deputado, os pagamentos ao hospital somaram R$
5,7 milhões, contra os R$ 4,9 milhões que ele havia recebido entre 2004 e
2010.
MAIS DINHEIRO
MAIS DINHEIRO
O quadro é
semelhante na Medical Diagnósticos e Assistência Médica Ltda também de
Castanhal e que também pertence à mulher e aos filhos de Miranda e atua
na área de consultas médicas e exames. Entre janeiro de 2004 e 5 de
junho deste ano, o Iasep pagou à empresa mais de R$ 11,2 milhões. Desse
total, mais de R$ 8 milhões (quase 71%) foram pagos de 2011 para cá.
Entre 2011 e 2013,
quando o irmão do deputado presidiu o Iasep, os pagamentos à empresa
somaram mais de R$ 3 milhões. Desde 2014, o Iasep é presidido por Iris
Ayres de Azevedo Gama, que foi diretora administrativa e financeira da
gestão de Kleber Tayrone, o irmão do deputado, e também comandou as
finanças da Vice-Governadoria, entre 2003 e 2006. Ao todo, o Hospital
Francisco Magalhães e a Medical Diagnósticos receberam do Iasep R$ 30,4
milhões, dos quais R$ 22 milhões (quase 73%) de 2011 até hoje.
(Ana Célia Pinheiro/Diário do Pará)
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